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terça-feira, 4 de março de 2025

POEMA: TABACARIA - (FRAGMENTO) - ÁLVARO DE CAMPOS - COM GABARITO

 Poema: TABACARIA – Fragmento

             Álvaro de Campos

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBznXgb7i8kwvQhJsVu27ZftQfd8ixVeZ11s0eN4bIWcUWgYLrZ8IomvfG0UFzik2_OK-R8KeHeETycgJ0iBS99DERtDN-Kitw0OUmjVxRlxVK6g8IWj13qqVD-qYmfwJMoxVpyKXM5b3dBZdKL6EcmQ8WBeOVTO-w-X_Ru5F2cG5f8HBvTXmoQKUuH3U/s1600/QUARTO.jpg


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

[...]

Álvaro de Campos. In: Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. 5ª série – 17ª ed. 3ª impressão – São Paulo – Editora Ática – 2003. p. 516.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o sentimento predominante no início do poema?

      O sentimento predominante no início do poema é de profunda insignificância e vazio, refletido nas frases "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada."

02 – Como o poeta descreve o seu quarto e a rua à sua frente?

      O poeta descreve o seu quarto como um dos milhões do mundo, desconhecido e insignificante, enquanto a rua à frente é retratada como misteriosa, real, mas inacessível a todos os pensamentos.

03 – O que o poeta quer dizer com "Tenho em mim todos os sonhos do mundo"?

      Esta frase sugere que, apesar de se sentir insignificante e derrotado, o poeta ainda carrega consigo a capacidade de sonhar e imaginar infinitas possibilidades.

04 – Qual é a dualidade que o poeta enfrenta em relação à tabacaria?

      O poeta está dividido entre a lealdade que sente pela tabacaria, como uma coisa real e concreta, e a sensação de que tudo é apenas um sonho, algo irreal e ilusório.

05 – Como o poeta descreve seu estado emocional e físico no poema?

      O poeta descreve seu estado emocional como vencido, lúcido e perplexo, como se estivesse para morrer. Fisicamente, ele sente uma sacudidela nos nervos e um ranger de ossos, expressando uma sensação de despedida e fragilidade.

 

 

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