Artigo de opinião: Um processo direcional na vida
Carl Rogers
Quer falemos de uma flor ou de um
carvalho, de uma minhoca ou de um belo pássaro, de uma maçã ou de uma pessoa,
creio que estaremos certos ao reconhecermos que a vida é um processo ativo, e
não passivo. Pouco importa que o estímulo venha de dentro ou de fora, pouco
importa que o ambiente seja favorável ou desfavorável. Em qualquer uma dessas
condições, os comportamentos de um organismo estarão voltados para a sua
manutenção, seu crescimento e sua reprodução. Essa é a própria natureza do
processo a que chamamos vida. Esta tendência está em ação em todas as ocasiões.
Na verdade, somente a presença ou ausência desse processo direcional total
permite-nos dizer se um dado organismo está vivo ou morto.

A tendência realizadora pode,
evidentemente, ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que
se destrua também o organismo. Lembro-me de um episódio da minha meninice, que
ilustra essa tendência. A caixa em que armazenávamos nosso suprimento de
batatas para o inverno era guardada no porão, vários pés abaixo de uma pequena
janela. As condições eram desfavoráveis, mas as batatas começavam a germinar –
eram brotos pálidos e brancos, tão diferentes dos rebentos verdes e sadios que
as batatas produziam quando plantadas na terra, durante a primavera. Mas esses
brotos tristes e esguios cresceram dois ou três pés em busca da luz distante da
janela. Em seu crescimento bizarro e vão, esses brotos eram uma expressão desesperada
da tendência direcional de que estou falando. Nunca seriam plantas, nunca
amadureceriam, nunca realizariam seu verdadeiro potencial. Mas sob as mais
adversas circunstâncias, estavam tentando ser uma planta.
A vida não entregaria os pontos, mesmo
que não pudesse florescer. Ao lidar com clientes cujas vidas foram
terrivelmente desvirtuadas, ao trabalhar com homens e mulheres nas salas de
fundo dos hospitais do Estado, sempre penso nesses brotos de batatas. As
condições em que se desenvolveram essas pessoas têm sido tão desfavoráveis que
suas vidas quase sempre parecem anormais, distorcidas, pouco humanas. E, no
entanto, pode-se confiar que a tendência realizadora está presente nessas
pessoas. A chave para entender seu comportamento é a luta em que se empenham
para crescer e ser, utilizando-se dos recursos que acreditam ser os
disponíveis. Para as pessoas saudáveis, os resultados podem parecer bizarros e
inúteis, mas são uma tentativa desesperada da vida para existir. Esta tendência
construtiva e poderosa é o alicerce da abordagem centrada na pessoa.
Em resumo, os organismos estão sempre
em busca de algo, sempre iniciando algo, sempre “prontos para alguma coisa”. Há
uma fonte central de energia no organismo humano. Essa fonte é uma função do
sistema como um todo, e não de uma parte dele.
Maneira mais simples de conceitua-la é como uma tendência à plenitude, à
autorrealização, que abrange não só a manutenção, mas também o crescimento do
organismo.
Carl Rogers. Um jeito de ser. São Paulo: E.P.U., 1983.
Fonte: Português –
Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite;
Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 603-604.
Entendendo o artigo:
01
– Qual a ideia central do artigo de Carl Rogers?
A ideia central é
que a vida é um processo ativo e direcional, impulsionado por uma tendência
inata à realização, presente em todos os organismos, desde plantas até seres
humanos.
02
– Como Carl Rogers define a "tendência realizadora"?
Rogers define a tendência
realizadora como uma força interna que impulsiona os organismos a buscar a
manutenção, o crescimento e a reprodução, mesmo em condições adversas.
03
– Qual o exemplo utilizado por Carl Rogers para ilustrar a "tendência
realizadora"?
Rogers utiliza o
exemplo de brotos de batata que crescem em um porão escuro, buscando a luz de
uma pequena janela, para ilustrar como essa tendência se manifesta mesmo em
condições desfavoráveis.
04
– Como a "tendência realizadora" se manifesta em seres humanos, de
acordo com o autor?
Em seres humanos,
a tendência realizadora se manifesta como uma busca constante por crescimento
pessoal e autorrealização, mesmo diante de dificuldades e experiências
traumáticas.
05
– Qual a importância da "tendência realizadora" na abordagem centrada
na pessoa, desenvolvida por Carl Rogers?
A tendência
realizadora é o alicerce da abordagem centrada na pessoa, que reconhece o
potencial de cada indivíduo para o crescimento e a mudança, independentemente
de suas circunstâncias.
06
– O que o autor quis dizer com a frase “A vida não entregaria os pontos, mesmo
que não pudesse florescer”?
Essa frase
significa que, mesmo em situações muito difíceis e sem condições favoráveis
para o pleno desenvolvimento, a vida sempre buscará existir e se manifestar de
alguma forma.
07
– O que o autor quis dizer com a frase “Em resumo, os organismos estão sempre
em busca de algo, sempre iniciando algo, sempre “prontos para alguma coisa”. Há
uma fonte central de energia no organismo humano.”?
Essa frase
resume a ideia de que os seres vivos, especialmente os humanos, possuem uma
energia interna que os impulsiona a agir, crescer e buscar a realização,
independentemente das circunstâncias. Essa energia é a força motriz da vida.
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