Artigo de opinião: Não se pode ser sem rebeldia
Paulo Freire
Eu acho que os adultos, pais e
professores, deveriam compreender melhor que a rebeldia, afinal, faz parte do
processo da autonomia, quer dizer, não é possível ser sem rebeldia. O grande
problema está em como amorosamente dar sentido produtivo, dar sentido criador
ao ato rebelde e de não acabar com a rebeldia. Tem professores que acham que a
única saída para a rebelião, para a rebeldia é a punição, é a castração. Eu
confesso que tenho grandes dúvidas em torno da eficácia do castigo.

Eu acho que a liberdade não se
autentica sem o limite da autoridade, mas o limite que a autoridade se deve
propor a si mesma, para propor ao jovem a liberdade, é um limite que
necessariamente não se explicita através de castigos. Eu acho que a liberdade
precisa de limites, a autoridade inclusive tem a tarefa de propor os limites,
mas o que é preciso, ao propor os limites, é propor à liberdade que ela
interiorize a necessidade ética do limite, jamais através do medo.
A liberdade que não faz uma coisa
porque teme o castigo não está “eticizando-se”. É preciso que eu aceite a
necessidade ética, aí o limite é compromisso e não mais imposição, é assunção.
O castigo não faz isso. O castigo pode criar docilidade, silêncio. Mas os
silenciados não mudaram o mundo.
Paulo Freire, Pedagogia dos sonhos possíveis. Org. Ana M. A. Freire.
Editora Unesp.
Fonte: Português –
Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite;
Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 591.
Entendendo o artigo:
01
– Qual a visão de Paulo Freire sobre a rebeldia na formação da autonomia?
Paulo Freire
acredita que a rebeldia é uma parte essencial do processo de desenvolvimento da
autonomia. Ele defende que adultos, pais e professores devem compreender que a
rebeldia é natural e necessária.
02
– Qual a crítica de Paulo Freire em relação ao uso do castigo como forma de
lidar com a rebeldia?
Freire expressa
dúvidas sobre a eficácia do castigo, argumentando que ele pode levar à
docilidade e ao silêncio, mas não promove a mudança genuína ou a internalização
de limites éticos.
03
– Como Paulo Freire vê a relação entre liberdade e autoridade?
Freire acredita
que a liberdade precisa de limites estabelecidos pela autoridade, mas esses
limites devem ser propostos de forma que a liberdade interiorize a necessidade
ética deles, e não por meio do medo ou do castigo.
04
– O que significa "eticizar-se" no contexto do artigo de Paulo
Freire?
"Eticizar-se"
significa internalizar a necessidade ética de um limite, de modo que a pessoa
aceite e compreenda a importância desse limite como um compromisso, e não
apenas como uma imposição externa.
05
– Qual a diferença entre limites impostos pelo medo e limites internalizados
eticamente, segundo Paulo Freire?
Limites impostos
pelo medo geram apenas conformidade externa e temporária, enquanto limites
internalizados eticamente levam a uma mudança genuína de comportamento e à
construção de uma consciência ética.
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