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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

MÚSICA(ATIVIDADES): TROPICÁLIA - CAETANOS VELOSO - COM GABARITO

 Música(Atividades): Tropicália

             Caetano Veloso

Quando Pero Vaz Caminha
Descobriu que as terras brasileiras
Eram férteis e verdejantes
Escreveu uma carta ao rei
Tudo que nela se planta
Tudo cresce e floresce
E o Gauss da época gravou

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPJZtK4EdVJWOgYGY-vZbMUm02PnbGRh6hnrJNKmZ3X2q6Eye6CuupwCKC8rJF2WJAYwyZkIsjqTBKZv8J3I1iq6iBWqRvhWQ2IDioDLI1G1Vkh7h1J-0fS_o3rpHemCb5qdXm5pLBpd_SqBt-Ia7S5XhqJkZzBHW4XLqCF6k2hwq1zQw20ZeWGYRZugY/s320/trop.jpg

Sobre a cabeça, os aviões
Sob os meus pés, os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz

Eu organizo o movimento
Eu oriento o Carnaval
Eu inauguro o monumento
No Planalto Central do país

Viva a Bossa, sa, sa
Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça
Viva a Bossa, sa, sa
Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça

O monumento
É de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde
Atrás da verde mata
O luar do sertão

O monumento não tem porta
A entrada é uma rua antiga
Estreita e torta
E no joelho uma criança
Sorridente, feia e morta
Estende a mão

Viva a mata, tá, tá
Viva a mulata, tá, tá, tá, tá
Viva a mata, tá, tá
Viva a mulata, tá, tá, tá, tá

No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina
E faróis

Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis

Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia
Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia

No pulso esquerdo o bang-bang
Em suas veias corre
Muito pouco sangue
Mas seu coração
Balança um samba de tamborim

Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhoras e senhores
Ele põe os olhos grandes
Sobre mim

Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma
Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma

Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém

O monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem

Que tudo mais vá pro inferno, meu bem

Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da, da
Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da, da
.

Composição: Caetano Veloso. São Paulo: Abril Educação, 1981, p. 46-47. Literatura Comentada.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 493.

Entendendo a música:

01 – Qual é o contexto histórico e social da música "Tropicália"?

      A música "Tropicália" foi lançada em 1968, durante o período da ditadura militar no Brasil. A canção faz parte do movimento Tropicália, que buscava criticar a repressão e a censura através da música e da arte.

02 – Qual é a principal característica da letra da música "Tropicália"?

      A letra da música é marcada pela mistura de elementos diversos e aparentemente desconexos, como referências históricas, culturais, geográficas e personagens folclóricos. Essa mistura reflete a complexidade da cultura brasileira e a crítica à tentativa de homogeneização imposta pela ditadura.

03 – O que o "monumento" mencionado na música representa?

      O "monumento" na música representa a própria cultura brasileira, que é construída a partir da diversidade e da mistura de influências. Ele é descrito como "de papel crepom e prata", "sem porta" e com elementos que remetem tanto à natureza exuberante quanto à pobreza e à violência.

04 – Qual é a crítica presente na música em relação à sociedade brasileira da época?

      A música "Tropicália" de Caetano Veloso, lançada em 1968, é um marco do movimento tropicalista e apresenta diversas críticas à sociedade brasileira da época. A principal crítica se manifesta na colisão e no contraste entre elementos que representam o "Brasil tradicional" e o "Brasil moderno", revelando as contradições e a complexidade da identidade nacional.

Aqui estão os pontos-chave da crítica presente na música:

  • Contradição entre o arcaico e o moderno: A letra justapõe a visão idílica da carta de Pero Vaz de Caminha ("terras férteis e verdejantes") com a realidade urbana e tecnológica ("Sobre a cabeça, os aviões / Sob os meus pés, os caminhões"). Essa coexistência forçada aponta para um país que tenta se modernizar sem resolver suas raízes e problemas históricos.

  • Idealização versus realidade: A canção desconstroi a imagem de um Brasil homogêneo e paradisíaco. O "monumento" que "não tem porta" e a "criança / Sorridente, feia e morta" estendendo a mão simbolizam uma realidade de exclusão social e miséria que contrasta com a visão oficial e otimista do progresso.

  • Crítica à pasteurização cultural: A alternância entre "Viva a Bossa" e "Viva a Palhoça" (e outras oposições como mata/mulata, Maria/Bahia, Iracema/Ipanema, banda/Carmen Miranda) critica a superficialidade e a apropriação de elementos culturais. A "Bossa Nova", que era um símbolo de modernidade, é colocada ao lado da "Palhoça", representando o Brasil rural e simples, mas também a idealização do popular. A repetição dos "vivas" pode ser interpretada como uma forma irônica de exaustão diante da busca por uma identidade única.

  • Subversão da ordem e da lógica: A imagem do "monumento é de papel crepom e prata" e a descrição de uma "entrada é uma rua antiga / Estreita e torta" são metáforas para a fragilidade das construções sociais e políticas do país e a falta de uma direção clara.

  • Distanciamento da "verdade" oficial: O eu lírico, que "organiza o movimento" e "orienta o Carnaval", assume uma postura irônica, sugerindo que as narrativas oficiais sobre o Brasil são construções artificiais e nem sempre refletem a realidade. A frase "Não disse nada do modelo / Do meu terno / Que tudo mais vá pro inferno, meu bem" demonstra um desprendimento e uma crítica à futilidade de certas preocupações.

Em resumo, a música "Tropicália" critica a sociedade brasileira da época por sua ingenuidade, suas contradições, sua superficialidade e a incapacidade de lidar com a complexidade de sua própria identidade, misturando o arcaico e o moderno de forma caótica e, por vezes, dolorosa. É um questionamento profundo sobre o que significa ser brasileiro e as tensões inerentes a essa identidade.

05 – Qual é a importância da música "Tropicália" para o movimento cultural do mesmo nome?

      A música "Tropicália" é considerada um manifesto do movimento Tropicália, sintetizando seus principais conceitos e características. A canção representa a liberdade de expressão e a resistência cultural em um período de repressão, e se tornou um hino de contestação e de valorização da cultura brasileira.

06 – Quais são os principais elementos da sonoridade da música "Tropicália"?

      A sonoridade da música é marcada pela mistura de ritmos e estilos musicais diversos, como o samba, o rock, a bossa nova e elementos da música folclórica brasileira. Essa mistura reflete a proposta estética do movimento Tropicália, que buscava diferentes influências culturais.

07 – Qual é o legado da música "Tropicália" para a música brasileira?

      A música "Tropicália" é um marco na história da música brasileira, pois rompeu com os padrões tradicionais e abriu caminho para a experimentação e a liberdade criativa. A canção influenciou diversos artistas e movimentos musicais posteriores, e seu legado permanece vivo na música brasileira contemporânea.

 

3 comentários:

  1. Não entendi a resposta da pergunta de número 04,parece
    verso daquele poema de Ferreira Gullar,''Agosto 1964''.

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    1. Obrigada pela observação, já fiz algumas alterações. Gratidão!

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  2. A ''Tropicália'' era tido como um movimento musical alienado,nada como revisitar e ressignificar o passado.

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