Soneto: Sete estudos para a mão esquerda III – Fragmento
Paulo Henriques Britto
Sou uma história, a voz que a
conta, e o imenso
desejo de contar outra diversa,
que porém não deixasse de ser
essa.

Palavra que não digo e que não
penso
e no entanto escrevo — eu sou
você?
(Mas não era isso o que eu ia
dizer,
e sim uma outra coisa, obscura e
bela,
que sei, com uma certeza
visceral,
ser a verdade última e total —
e só por isso já não creio nela,
pois a certeza, tal como a
memória,
é por si só demonstração sobeja
da falsidade do que quer que
seja —)
Mas isso já seria uma outra
história.
Paulo Fernando
Henriques Britto – Rio de Janeiro RJ 1951.
Entendendo o soneto:
01
– Qual é a principal reflexão apresentada no soneto?
O soneto reflete
sobre a natureza da narrativa, a relação entre o narrador e a história, e a
busca por uma verdade que se revela elusiva. O eu-lírico expressa o desejo de
contar uma história diferente, mas que ainda seja parte da sua própria história.
02
– O que significa a frase "Palavra que não digo e que não penso / e no
entanto escrevo — eu sou você?"?
Essa frase revela
a complexidade da relação entre o eu-lírico e o "você" do poema.
Sugere que as palavras que ele escreve podem não ser totalmente conscientes ou
intencionais, mas sim uma manifestação de outra pessoa ou de outra parte de si
mesmo. A pergunta retórica expressa a dúvida sobre a própria identidade e a
autoria da narrativa.
03
– Qual é a importância da "outra coisa, obscura e bela" que o
eu-lírico menciona?
Essa "outra
coisa" representa uma verdade profunda e visceral que o eu-lírico sente
que existe, mas que não consegue expressar em palavras. É uma intuição, uma
certeza que reside no plano do indizível. A beleza e a obscuridade dessa
verdade a tornam ainda mais intrigante e desafiadora.
04
– Por que o eu-lírico afirma que "a certeza, tal como a memória, / é por
si só demonstração sobeja / da falsidade do que quer que seja"?
Essa afirmação
paradoxal sugere que a certeza, assim como a memória, pode ser uma construção
subjetiva que não corresponde necessariamente à realidade. A memória é seletiva
e moldada pelas nossas emoções e experiências, o que a torna passível de
distorção. Da mesma forma, a certeza pode ser uma ilusão que nos impede de ver
a complexidade e a incerteza do mundo.
05
– Qual é a relação entre o último verso "Mas isso já seria uma outra
história" e o restante do poema?
O último verso
indica a consciência do eu-lírico de que a busca pela verdade e a tentativa de
narrar sua história são um processo contínuo. A "outra história" que
ele menciona representa a possibilidade de novas narrativas e novas descobertas
sobre si mesmo e sobre o mundo. O poema termina com a abertura para novas explorações
e reflexões.
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