Poesia: A ELVIRA
Alphonse de Lamartine – Trad. de
Machado de Assis
Quando, contigo a sós, as mãos
unidas,
Tu, pensativa e muda, e eu, namorado,
Às volúpias do amor a alma entregando,
Deixo correr as horas fugidias;
Ou quando às solidões de umbrosa selva
Comigo te arrebato; ou quando escuto
-- Tão só eu, – teus terníssimos suspiros;

E de meus lábios solto
Eternas juras de constância eterna;
Ou quando, enfim, tua adorada fronte
Nos meus joelhos trêmulos descansa,
E eu suspendo meus olhos em teus olhos,
Como às folhas da rosa ávida abelha;
Ai, quanta vez então dentro em meu peito
Vago terror penetra, como um raio!
Empalideço, tremo;
E no seio da glória em que me exalto,
Lágrimas verto que a minha alma assombra!
Tu, carinhosa e trêmula,
Nos teus braços me cinges, – e assustada,
Interrogando em vão, comigo choras!
“Que dor secreta o coração te oprime?”
Dizes tu. “Vem, confia os teus pesares…
Fala! eu abrandarei as penas tuas!
Fala! eu consolarei tua alma aflita!”
Vida do meu viver, não me interrogues!
Quando enlaçado nos teus níveos braços
A confissão de amor te ouço, e levanto
Lânguidos olhos para ver teu rosto,
Mais ditoso mortal o céu não cobre!
Se eu tremo, é porque nessas esquecidas
Afortunadas horas,
Não sei que voz do enleio me desperta,
E me persegue e lembra
Que a ventura coo tempo se esvaece,
E o nosso amor é facho que se extingue!
De um lance, espavorida,
Minha alma voa às sombras do futuro,
E eu penso então: “Ventura que se acaba
Um sonho vale apenas”.
LAMARTINE, Alphonse de. In: ALVES, Afonso Telles (sel. e notas).
Antologia de poetas estrangeiros. São Paulo: Logos, 1964, 1964, p. 57-58.
Fonte: Português –
Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas
Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 16.
Entendendo a poesia:
01
– Qual a principal emoção transmitida pelo eu lírico no poema?
A principal
emoção transmitida pelo eu lírico é uma mistura de paixão e angústia. Ele
experimenta momentos de intensa felicidade ao lado de Elvira, mas é
constantemente assombrado por um medo profundo de perder esse amor.
02
– Qual o significado dos versos "Que dor secreta o coração te
oprime?" e "Vida do meu viver, não me interrogues!"?
Esses versos
revelam o conflito interno do eu lírico. Ele sente uma dor profunda, mas não
consegue expressá-la completamente para Elvira. A frase "Vida do meu
viver, não me interrogues!" demonstra seu desejo de proteger a amada da
sua angústia, evitando que ela compartilhe de sua tristeza.
03
– Qual a relação entre o amor e o tempo no poema?
O tempo é
apresentado como um inimigo do amor. O eu lírico teme que a felicidade que
experimenta ao lado de Elvira seja passageira e que o amor se esvaneça com o
passar do tempo. A ideia da fugacidade do amor é expressa em versos como
"Que a ventura coo tempo se esvaece" e "E o nosso amor é facho
que se extingue!".
04
– Qual o papel da natureza na construção dos sentimentos do eu lírico?
A natureza serve
como pano de fundo para os sentimentos do eu lírico. As "solidões de
umbrosa selva" e as "folhas da rosa" criam um ambiente propício
à expressão dos sentimentos amorosos e à introspecção. A natureza, no entanto,
também evoca a ideia da passagem do tempo e da inevitabilidade da mudança.
05
– Qual a principal mensagem do poema?
A principal
mensagem do poema é a fragilidade do amor e a inevitabilidade da perda. O eu
lírico celebra a intensidade do sentimento amoroso, mas ao mesmo tempo se
angustia com a possibilidade de perder a pessoa amada. O poema nos convida a
refletir sobre a natureza efêmera da felicidade e a importância de valorizar
cada momento.
06
– Qual a importância da figura feminina no poema?
A figura
feminina, representada por Elvira, desempenha um papel central e multifacetado
no poema. Ela é, ao mesmo tempo, objeto de amor, fonte de conforto e confidente
do eu lírico.
Objeto de amor
idealizado: Elvira é descrita como uma mulher perfeita, capaz de
proporcionar momentos de intensa felicidade ao eu lírico.
Confidente: Ela é a
depositária de seus segredos e a confidente de sua alma.
Símbolo da vida e da
morte: Além de representar o amor, Elvira também se torna um símbolo da
vida e da morte.
07
– Como a linguagem utilizada contribui para a construção dos sentimentos do eu
lírico?
A linguagem utilizada por
Lamartine é fundamental para a construção dos sentimentos do eu lírico.
Vocabulário rico e expressivo: O poeta
utiliza um vocabulário rico e expressivo, com palavras que evocam sensações e
emoções intensas.
Metáforas e comparações:
O uso de metáforas e comparações intensifica a expressão dos sentimentos. A
comparação dos olhos do eu lírico aos da abelha buscando o néctar da rosa, por
exemplo, revela a intensidade de seu desejo e a fragilidade da sua felicidade.
Rítmo e musicalidade:
O ritmo e a musicalidade dos versos contribuem para criar uma atmosfera de
melancolia e introspecção.
08
– Qual a relação entre o individual e o universal no poema?
O poema "A
Elvira" estabelece uma interessante relação entre o individual e o universal.
Experiência individual:
O poema narra uma experiência amorosa particular do eu lírico, com seus medos,
angústias e alegrias. A relação entre o eu lírico e Elvira é única e pessoal.
Dimensão universal:
Ao mesmo tempo, os sentimentos expressos no poema são universais. O amor, a
perda, a passagem do tempo e a busca pela felicidade são temas que ressoam em
todos os seres humanos.
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