Crônica: Na região de Ormuz – Fragmento
Carlos Heitor Cony
A viagem por esta planície em direção
ao sul leva cinco dias. Ao cabo da quinta jornada, chega-se a uma outra descida
de vinte milhas de extensão, por onde é muito difícil de se andar [...].

Passados dois dias, chega-se ao Mar
Oceano, em cuja orla fica situada a cidade portuária de Ormuz. É aí que chegam
da Índia os navios com todas as especiarias e tecidos de ouro, elefantes e
muitas outras mercadorias; deste lugar, elas são levadas para o resto do mundo.
Esta é uma terra de intenso comércio e também a capital da província. O rei
chama-se lacomat e, sob seu poder, há muitos castelos e cidades. O povo adora
Maomé. Se algum mercador estrangeiro morrer por aqui, o soberano fica com todos
os seus bens.
Nesta região, a terra é insalubre e faz
muito calor. Se não fosse o jardim com muita água, fora da cidade, as pessoas
não conseguiriam sobreviver. Por vezes, durante o verão, sopra um vento vindo
do lado do deserto, tão quente que se os homens não fugissem para onde há água,
não suportariam o calor. Em novembro, começa o tempo das searas, colhidas em
março, e assim se faz com todos os frutos; de março para frente não se encontra
nenhuma coisa verde sobre a terra, a não ser a palmeira que dura até meados de
maio: tudo isso por causa do calor.
Aqui se fabrica vinho de tâmara e de
muitas outras espécies. Quem o bebe sem estar habituado tem de botar tudo fora,
pois serve-lhe de purgante; mas faz bem a quem já tem costume, as pessoas do
lugar não usam nossos alimentos, porque se comessem grãos e carne ficariam
imediatamente doentes; pelo contrário, são saudáveis porque comem peixes
salgados e tâmaras, e outras coisas grossas com as quais se dão bem.
Suas embarcações são malfeitas e muito
perigosas: em vez de grudadas com piche, são untadas com óleo de peixe, sem
pregos, que não utilizam porque não têm ferro. Usam um fio feito a partir de
castanha-da-índia, forte como cerda e que se mete na água. Com ele, os barcos
são costurados e não se estragam com a água salgada.
Estas embarcações têm uma vela, um
mastro e um leme, mas não têm coberta; quando estão carregados, coloca-se uma
manta de couro sobre a carga e é por cima dela que se põem os cavalos levados
para aa Índia. É um grande perigo navegar em tais navios. Quando morre alguém,
o povo se põe todo de luto. As mulheres choram seus maridos durante quatro
anos, pelo menos uma vez por dia, juntamente com alguns homens e parentes.
Agora, voltaremos para o norte onde
estão outras províncias, retornando por caminho diferente até a cidade de
Quirmã, sobre a qual já contei. É que, para as regiões sobre as quais quero vos
falar agora, não se pode ir a não ser partindo dali, onde o rei lacomat é
igualmente o soberano.
Ao regressar de Cormosa para Quirmã,
passa-se de novo pela bela planície cheia de alimentos, pássaros e frutos e
muitos banhos quentes. O pão de grão é amargo para quem não está acostumado por
causa da água do mar. Deixemos agora esta região e vamos para o norte: já direi
como.
[...]
Carlos Heitor Cony e
Lenira Alcure (adapt.) As viagens de Marco Polo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
Fonte: Língua
Portuguesa – Jornadas.port – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – Ensino
Fundamental – 6º ano. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 192-193.
Entendendo a crônica:
01 –
Qual a principal atividade econômica da cidade de Ormuz?
A principal
atividade econômica de Ormuz é o comércio. A cidade é um importante centro
comercial, onde chegam e saem navios com diversas mercadorias, como
especiarias, tecidos e animais.
02
– Como é descrito o clima da região de Ormuz?
O clima da região
de Ormuz é descrito como muito quente e insalubre. Há períodos de calor intenso
e ventos quentes do deserto. A vegetação é escassa devido ao clima árido, com
exceção das palmeiras.
03
– Quais são os hábitos alimentares dos habitantes de Ormuz e como eles se
diferenciam dos hábitos alimentares de outras regiões?
Os habitantes de
Ormuz têm hábitos alimentares bastante distintos. Eles consomem principalmente
peixes salgados, tâmaras e outros alimentos mais rústicos. A ingestão de grãos
e carne causa doenças para os habitantes locais, que estão acostumados a uma
dieta diferente.
04
– Como são construídas as embarcações em Ormuz?
As embarcações em
Ormuz são construídas de forma artesanal e rústica. Em vez de pregos, utilizam
um tipo de fio feito de castanha-da-índia para costurar as partes do barco. A
impermeabilização é feita com óleo de peixe, e as embarcações não possuem
coberta.
05
– Quais são os costumes funerários dos habitantes de Ormuz?
Os costumes
funerários dos habitantes de Ormuz envolvem um período prolongado de luto. As
mulheres choram seus maridos por quatro anos, pelo menos uma vez por dia, junto
com outros familiares e amigos.
06
– Qual a importância da cidade de Quirmã na narrativa?
A cidade de Quirmã é
mencionada como o ponto de partida para as viagens à região de Ormuz e como o
local para onde se retorna após as expedições. Ela serve como um ponto de
referência geográfica e narrativa.
07
– Qual é o tom geral do texto?
O tom geral do
texto é descritivo e informativo. O autor busca apresentar um retrato detalhado
da região de Ormuz, com foco em seus aspectos geográficos, culturais e
econômicos. A linguagem é clara e objetiva, transportando o leitor para um
mundo exótico e distante.
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