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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

CRÔNICA: FOLHAS SOLTAS, CONVERSA COM OS MEUS LEITORES - (FRAGMENTO) - JOSÉ DE ALENCAR - COM GABARITO

 Crônica: Folhas soltas, conversa com os meus leitores – Fragmento

              José de Alencar

        [...]

        Houve tempo em que na sociedade não havia homens, porém nomes; os indivíduos eram como esses bustos de mármore que se encontram nas galerias de escultura, e no capitel das quais vemos escritos os nomes de César, Sólon, Licurgo, Platão e outros. [...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLE3kg3KKx_weMWOeOKO4MUZ6OfSaHcXP_xtLuLJDPyiv-FnttDtE1NwnVa3rAqUHJgSZqbnmtw_xQr3156C65AOCmlYgjA9HGUUP70U22TJnSX8A87QopSjr1jRuJ4lUF5VP4toihZkR8MCGk9avsCLlWzciumuMbF-4AOhwiKy5LLDycNVWezFA-zY8/s1600/BUSTO.jpg


        Os pais eram para os filhos um nome, e nada mais; as mulheres casavam-se com um nome, e a crônica ou a história registrava, não as ações de um homem, mas os títulos de uma descendência.

        Hoje isto passou.

        Um nome é uma combinação de letras que significa tanto como qualquer palavra do dicionário; um título é muitas vezes um apelido que não vale a firma de um homem honesto.

        Atualmente a nobreza mudou de sistema.

        Em vez de nomes, os homens tornaram-se números ou cifras; os indivíduos, de bustos de mármore, passaram a ser cofres de ferro, cheios de bilhetes do banco ou de moedas de ouro.

        Se quando vos achais em sociedade pensais que aqueles cavalheiros e senhoras que vedes, moças ou velhas, pertencem à espécie humana, estais em um erro, do qual deveis emendar-vos.

        Todas aquelas figuras com forma humana são bilhetes de tesouro, letras de câmbio, ações de companhia, vales de banqueiro; nenhuma delas tem nome, nem parentes, nem família. São letras de conta, números e cifras que se combinam. [...]

        Agora, apresenta-se na sociedade um número, um número de contos de réis de renda, um número representativo de um capital.

        Virá tempo em que substituirá a forma cediça das apresentações por outra mais original e mais diplomática.

        Em lugar de se dizer: “Tenho a honra de apresentar-lhe o Sr. F., pessoa digna de estima”, a gente [...] servir-se-á desta fórmula: “Dou-lhe a honra de apresentar-lhe uma fortuna de duzentos e cinquenta contos de réis”.

        Então o homem ou senhora, com o sorriso o mais amável, apertará a mão da fortuna, e lhe responderá com um cumprimento gracioso. [...]

José de Alencar. “Folhas soltas: conversa com os meus leitores”. In: Crônicas escolhidas de José de Alencar. São Paulo: Ática / Folha de São Paulo, 1995, p. 186-188.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 201-202.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal crítica social presente no fragmento?

      A principal crítica social presente no fragmento é a valorização exacerbada do dinheiro e dos bens materiais em detrimento das qualidades humanas. Alencar critica a superficialidade das relações sociais e a importância que a sociedade atribui à riqueza.

02 – Como Alencar descreve a mudança na forma como as pessoas se relacionam?

      Alencar descreve uma mudança radical na forma como as pessoas se relacionam. Antigamente, as pessoas eram identificadas por seus nomes e títulos, que representavam uma linhagem e uma história. Atualmente, as pessoas são reduzidas a números e cifras, sendo valorizadas apenas por sua riqueza.

03 – Qual a função das metáforas utilizadas por Alencar para descrever essa transformação?

      As metáforas utilizadas por Alencar, como "bustos de mármore" e "cofres de ferro", servem para ilustrar de forma clara e impactante a transformação ocorrida nas relações sociais. Elas criam uma imagem vívida da superficialidade e da materialidade das novas relações.

04 – Qual a ironia presente no final do fragmento?

      A ironia está presente na sugestão de uma nova forma de apresentação social, onde as pessoas são introduzidas não por seus nomes, mas pelo valor de sua fortuna. Essa proposta irônica evidencia a crítica de Alencar à valorização excessiva do dinheiro.

05 – Qual a relação entre o título do fragmento e o conteúdo?

      O título "Folhas soltas" sugere a ideia de reflexões soltas, de pensamentos que surgem de forma espontânea e que não seguem uma ordem lógica. Essa característica se encaixa perfeitamente com o tom crítico e irônico do texto, que aborda de forma livre e informal as transformações da sociedade.

06 – Qual a importância desse fragmento para a compreensão da obra de Alencar?

      Esse fragmento revela a preocupação de Alencar em analisar as transformações sociais de sua época. Ele demonstra um olhar crítico em relação à valorização do materialismo e à superficialidade das relações humanas, temas que permeiam toda a sua obra.

07 – Qual a atualidade da crítica de Alencar?

      A crítica de Alencar continua atual, pois a valorização excessiva do dinheiro e a superficialidade nas relações sociais são problemas ainda presentes na sociedade contemporânea. As redes sociais, por exemplo, intensificaram essa tendência, com a exposição constante de bens materiais e a busca por validação através de likes e seguidores.

 

 

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