Política de Privacidade

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

CRÔNICA: A ÁRVORE DE OURO - (FRAGMENTO) - JOSÉ CARLOS OLIVEIRA - COM GABARITO

 Crônica: A árvore de ouro – Fragmento

              José Carlos Oliveira

        Ele morou vinte dias no apartamento do amigo que tinha ido à Europa. Talvez fosse um quarto e sala, mas só tinha mesmo um quarto relativamente comprido. O banheiro, sem água quente. A cozinha, sem fogão. E dando para os fundos. Durante catorze dias manteve a janela fechada, porque pela fresta da veneziana, numa mirada rápida, vira toda a paisagem que poderia descortinar: duas estruturas de concreto separadas por uma nesga de terreno baldio. Dois prédios estavam sendo levantados ali. Os operários começavam bem cedo a martelar. Então resolveu não olhar nunca mais pela janela.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8DSZjt5pcJ_NrBgSR6YM0mShLpu96-pjzux-RuyYphMOiNXPy0Yh2XAf2mWUfkyxcLPhDN3p9oKjYYh7qZaPsauYxGmRTNfm00yZtEgGLXPF86d4kJJYBbG4t689m5sER5zT6UEB9TFSMTREvNM4qOun1yt9mwsgq8WuLUVo2ikprMuWJF_xSmdoO_3Y/s1600/APTO.jpg


      O quarto era frio como uma queda de pressão. [...] E começou a morar. Chegava de madrugada, deitava-se, acordava no dia seguinte e ia embora. Não tinha ânimo para ficar no apartamento mais tempo do que um sono. A escura e gélida morada assemelhava-se, mal comparando, à gélida e escura melancolia que contraíra ao perder seu amor. Saía, fechava a porta, entrava no elevador, atravessava o saguão sem olhar os dois porteiros que passavam o dia jogando damas, e ia embora. Mas não ia a lugar nenhum. Não tinha aonde ir. Não queria conversar com ninguém. No prédio era o homem invisível. Na rua, o desconhecido. No coração, a angústia gelada e irremediável. [...]

        No décimo quinto dia, tendo dormido muito tarde, e precisando acordar cedo para cumprir uma obrigação, abriu os olhos aflito. Quantas horas seriam? Não tinha relógio. No quarto escuro teve medo de ter ficado adormecido a manhã inteira e a tarde também. Pulou da cama tiritante e concluiu que a única solução era abrir a janela sobre a paisagem detestável, para calcular as horas pela tonalidade da luz. E assim fez. A claridade não tinha cor; meio branca, meio cinza, meio inodora e bastante insípida. Podia ser manhã ou tarde. Arre! Então começou o milagre. [...]

José Carlos Oliveira. In: Boa companhia: crônicas (organização, introdução e notas Humberto Werneck). São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 233.

Entendendo a crônica:

01 – Qual o estado emocional do personagem principal?

      O personagem principal demonstra um profundo estado de melancolia e tristeza, decorrente da perda de um amor. Essa tristeza se manifesta em seu isolamento social e em sua apatia em relação ao mundo exterior.

02 – Como o ambiente físico do apartamento reflete o estado emocional do personagem?

      O apartamento frio, escuro e sem vida reflete o estado emocional do personagem. O ambiente frio e sem luz natural simboliza a tristeza e a falta de esperança que o habitam. A falta de objetos pessoais e a ausência de cuidados com o espaço reforçam a ideia de um interior vazio e desolado.

03 – Qual o significado da árvore de ouro para o personagem?

      A árvore de ouro representa uma metáfora para a esperança e a beleza que surgem em meio à tristeza e à desolação. A imagem da árvore com folhas de ouro contrasta com o ambiente cinza e monótono do apartamento, simbolizando a possibilidade de renovação e de encontro com a felicidade.

04 – Qual a importância da janela para o personagem?

      A janela representa a conexão do personagem com o mundo exterior. Inicialmente, ele evita olhar pela janela por medo de se confrontar com a realidade e com a dor da perda. No entanto, ao abrir a janela, ele se depara com a beleza inesperada da árvore de ouro, que representa uma nova perspectiva e uma possibilidade de superação.

05 – Qual a função do tempo na narrativa?

      O tempo é um elemento fundamental na narrativa, pois marca a evolução do estado emocional do personagem. A passagem dos dias, marcada pela contagem dos dias que ele passa no apartamento, revela a gradual transformação de sua tristeza em esperança.

06 – Qual o gênero literário predominante na crônica?

      O gênero literário predominante na crônica é o lírico, pois o autor explora os sentimentos e as emoções do personagem de forma subjetiva e poética. A linguagem utilizada é rica em figuras de linguagem e cria um clima de melancolia e introspecção.

07 – Qual a mensagem principal da crônica?

      A mensagem principal da crônica é que mesmo nos momentos mais difíceis, a esperança pode surgir de forma inesperada. A beleza da árvore de ouro representa a possibilidade de encontrar alegria e significado na vida, mesmo diante da dor e da perda. A crônica nos convida a buscar a beleza nas pequenas coisas e a não perder a fé na capacidade de superação humana.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário