Poema: O luto no Sertão
João
Cabral de Mello Neto
Pelo Sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer, com luto nato.
Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.
E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no Sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.
Entendendo o poema:
01
– Qual a principal característica do luto no Sertão, segundo o poema?
O luto no Sertão
é apresentado como algo intrínseco à vida sertaneja, uma condição quase natural.
Não se trata de um luto ocasional ou passageiro, mas sim de um estado
permanente, "nato", que acompanha o sertanejo desde o nascimento.
02
– Como o luto se manifesta no corpo e na alma do sertanejo?
O luto se
manifesta de forma profunda e marcante no sertanejo. Ele "sobe de
dentro", atingindo a alma e se exteriorizando através da pele, que adquire
um tom "fosco fulo". Essa marca do luto é comparada a uma
"raça", algo tão inerente ao sertanejo quanto sua própria identidade.
03
– Qual a relação entre o luto e a paisagem sertaneja?
A paisagem
sertaneja, com suas características áridas e inóspitas, serve como um pano de
fundo para o luto. A natureza agreste e a constante luta pela sobrevivência
intensificam a sensação de perda e sofrimento. O urubu, símbolo da morte,
adquire um papel ainda mais sombrio no Sertão, reforçando a atmosfera de luto.
04
– Qual o significado da comparação entre o luto e uma "raça"?
Ao comparar o
luto a uma "raça", o poeta sugere que ele se tornou parte da identidade
do sertanejo, algo tão fundamental quanto sua origem étnica. O luto é
transmitido de geração em geração, moldando a visão de mundo e a forma de viver
dos habitantes do Sertão.
05
– Qual a função do urubu na construção da imagem do luto no poema?
O urubu, tradicionalmente associado à morte, desempenha um
papel central na construção da imagem do luto no poema. A ave negra, que em
outras regiões é vista como um símbolo da morte, adquire no Sertão uma
conotação ainda mais sombria, reforçando a ideia de um luto constante e
onipresente. A expressão "negra-fouveiro, pardavasca" intensifica a
imagem do urubu como um ser sinistro e funéreo.
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