AUTOBIOGRAFIA: MARTA,
A RAINHA DO BRASIL
A INFÂNCIA
Meu pai se separou da minha mãe quando
eu tinha 1 ano e meu irmão mais velho assumiu a responsabilidade de um pai para
minha mãe poder trabalhar. Minha mãe só via a gente à noite. Comecei a frequentar
o colégio com 9 anos, porque as dificuldades eram muito grandes e ela não tinha
como comprar material escolar. Só que eu queria muito estudar, então pegava
cadernos e ficava tentando ler e escrever sozinha. Quando fui pra escola, já sabia
fazer o meu nome, e a professora perguntou: “Você já estudou alguma vez?”. E eu
disse: “Não, aprendi sozinha mesmo” (fica emocionada).
COMEÇO DE TUDO
Em Dois Riachos, eu vivia com os
meninos jogando bola e indo a jogos do time masculino. A minha vontade era me
tornar uma jogadora profissional e quando apareceu a oportunidade de tentar
fazer um teste no Vasco e no Fluminense, times que tinham equipes de futebol
feminino naquela época, fui. Eu tinha 14 anos.
A MÃE
Ela falava: “Chega perto da hora e essa
menina vai é desistir. Ela não vai, não”. E eu falava: “Eu vou, eu vou, eu
vou”. No dia de embarcar, ela só foi acreditar quando o ônibus estava parado e
eu falei: “Eu vou”, e subi no ônibus. Aí ela chorou, meus irmãos choraram, foi
aquela despedida. Só aí ela acreditou que eu estava indo em busca do meu sonho
(fica emocionada).
NO RIO DE JANEIRO, COM 14 ANOS
Foi uma época difícil porque cheguei no
Vasco e não conhecia ninguém, tinha um monte de gente que jogava na seleção, e
as cariocas todas cheias de gírias para cima de mim. Eu ficava quietinha e me
chamavam de bicho-do-mato.
A ADOLESCÊNCIA
Saí de Dois Riachos para realizar um
sonho e, por ele, tive que enfrentar dificuldades. Fiquei no Rio sem receber
salário por vários meses, morando na concentração do Vasco. E olha que o salário era nada mais do que uma
ajuda de custo, o que me obrigava a abrir mão de várias coisas. Não podia nem
ir à praia porque tinha que pegar ônibus e nem dinheiro para o ônibus eu tinha.
MOMENTO DE DÚVIDA
Depois de dois anos, acabaram com o
futebol feminino do Vasco, e aí bateu desespero. Já tinha sido convocada uma
vez para a seleção brasileira, então pensava assim: “Se voltar para Alagoas,
será que eu vou ter outra oportunidade de ir para a seleção? Será que eles vão
me esquecer?”.
DECISÃO
Fui morando com amigos, sempre de
favor, fui jogar em Minas, ganhava um troco, me virava como dava. Acabei
convocada para a seleção outras vezes. E foi jogando pela seleção, em 2003, que
o pessoal do Umea Ik me viu e me sondou.
EDUCAR UM FILHO
Queria mostrar sempre o que é bom e o
que é ruim. Lógico que não vou falar assim: “Você tem que seguir este caminho”,
ele é que vai decidir, só que me sentiria no direito de explicar porque foi isso
que não tive na infância. Mas não culpo ninguém. Sem meu pai, minha mãe teve
que trabalhar para manter os filhos e ficou ausente. Não era o que ela queria
realmente.
Revista Marie Claire,
Nº 209. Editora Globo.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães.
7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 167-168.
Entendendo o texto:
01
– Por que Marta começou a frequentar a escola apenas aos 9 anos?
Marta começou a frequentar a
escola aos 9 anos porque sua mãe não tinha condições financeiras de comprar
material escolar devido às grandes dificuldades que enfrentavam.
02
– Quem assumiu a responsabilidade de pai para Marta quando ela era criança?
O irmão mais
velho de Marta assumiu a responsabilidade de um pai para que a mãe pudesse
trabalhar e sustentar a família.
03
– Como Marta aprendeu a escrever seu nome antes de ir à escola?
Marta aprendeu a
escrever seu nome sozinha, pegando cadernos e tentando ler e escrever por conta
própria, pois tinha muita vontade de estudar.
04
– Qual foi o primeiro grande passo de Marta para realizar seu sonho de ser
jogadora de futebol?
O primeiro grande
passo de Marta foi quando, aos 14 anos, teve a oportunidade de fazer um teste
para os tempos de futebol feminino no Vasco e no Fluminense.
05
– Como foi a ocorrência da mãe de Marta no dia em que ela foi tentar seu sonho
no Rio de Janeiro?
No início, a mãe
de Marta não acreditava que ela realmente iria, mas no dia do embarque, quando Marta
subiu no ônibus, sua mãe chorou junto com seus irmãos, e só aí acreditou que
ela estava realmente indo em busca do seu sonho.
06
– Quais dificuldades Marta planejou ao chegar no Rio de Janeiro?
Marta enfrentou
muitas dificuldades, como a falta de dinheiro, morando na concentração do Vasco
sem receber salário e sem recursos nem para pegar ônibus, além de lidar com o
choque cultural e as gírias cariocas.
07
– Qual foi o momento de dúvida que Marta teve após dois anos no Vasco?
Após dois anos no
Vasco, o clube encerrou o futebol feminino, e Marta ficou em dúvida sobre seu
futuro, questionando se teria outra oportunidade de jogar pela seleção
brasileira caso voltasse para Alagoas.
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