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quinta-feira, 25 de abril de 2024

CRÔNICA: MUAMBAS DE LUXO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Muambas de Luxo

                Walcyr Carrasco

 

HÁ DUAS SEMANAS FIZ as malas e parti para os Estados Unidos. Férias! Ainda sou do tipo caipira, que quando vai pegar um avião anuncia aos quatro ventos. Nunca mais farei isso. Mal contei, começaram as encomendas:

— Você me compra creme de barbear? — pediu um.

— Aqui existem tantas marcas...

— O que eu gosto é americano. Nas lojas, cobram 7 reais.

  Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-tEsKkRkvqNOBAMPkyPYiWifPeA0z-1U1bhOYQtnlPnkhOccsOe9dWGueDOd_deI3RzF5XNjIozvi2SW91woM0PQviSqW84AYqEOnNSv33V_QjH8HlO4l8cAC2kR9IzMV465SSFsrkbtt8pdfXL8h7SMu5efo4NAyIbwQowmu5_a1KU95W0UjU2c-qsY/s1600/MUAMBAS.jpg



         No free shop, só 4!      .        .

Nos dias seguintes recebi uma enxurrada de telefonemas:

— Eu uso um perfume que é caríssimo no Brasil.

— Uma vez eu ganhei um relógio com um cachorrinho que late ao despertar. Da Disney. Arruma um para o meu sobrinho?

É um constrangimento. As pessoas se comportam como se estivessem no interior da selva amazônica, ávidas por gotas de civilização. Há pedidos completamente estapafúrdios. Meses atrás, um ator de voz afinada pediu a um amigo meu que ia a Nova York: "Não poderia trazer partituras musicais para um show?". O turista passou duas tardes correndo a cidade e achou algumas. Ao entregá-las, ouviu um rosnado:

— Só essas? Se tivesse procurado com vontade teria encontrado mais.

O show nunca foi montado. A amizade esfriou. Muitas vezes tentei

recusar, explicando:

— Vou a trabalho, nem sei se terei tempo...

A pessoa sempre insiste. Age como se fosse desfeita. Entre . o pedido e a entrega existem várias armadilhas capazes de acabar com uma amizade. Como a questão do preço. Certa vez um rapaz insistiu para que eu trouxesse um gravadorzinho. Comprei na primeira loja. Ainda me lembro do sorriso do chinês do balcão. Ao chegar, entendi o porquê de tanta alegria.

— Aqui no Brasil é muito mais barato!

— Você ainda queria que eu pechinchasse? -— admirei-me.

Ele me olhou torto, como se eu estivesse tirando algum por fora. Algumas situações ficam muito desagradáveis. Um advogado, conhecido meu, esqueceu-se de procurar um xampu. Ao voltar, comprou num shopping e o entregou à colega de escritório como se fosse trazido do exterior. Cobrou metade do que pagou. Só para não ficar chato. Foi pior: agora vai viajar de novo e a moça lhe deu uma lista enorme, para aproveitar o preço.

Pavoroso é o amigo que encomenda pôster. Não adianta bater o pé, dizer que não cabe em mala nenhuma, que serei obrigado à trazer na mão.

— E leve, qual o problema de carregar? — ouço de volta.

Nem sei como reagir diante da observação. Carregar tralha é horrível até em viagens curtas de ônibus, como de São Paulo a Santos. Quanto mais em aeroportos, onde se deve chegar duas horas antes, esperar para embarcar etc, etc. Será que ninguém pensa que em vez de fazer compras eu quero aproveitar a viagem? Bem, minha mãe dizia que pimenta nos olhos dos outros é refresco.

A frase mais terrível certamente é:

— Você traz que depois a gente acerta.

Por causa dela, cheguei a dar calote. Há alguns anos uma produtora teatral me pediu para encontrar um diretor em Nova York e pegar um texto com ele. Pagaria as despesas, explicou. Esperei no hotel, o homem não chegava. Eu tinha um compromisso, saí correndo. Voltei, encontrei o texto e um bilhete com a conta. Era um livro caríssimo, fora dos catálogos. Telefono para ele, não encontro. Ele liga de volta, deixa recado. Acabei partindo sem pagar. Foi a sorte. A produtora pegou o livro, sorriu, agradeceu, disfarçou e nem perguntou quanto custara. Ou seja: eu também não iria receber.

Finalmente aprendi. Ao desembarcar em Cumbica, fui ao free shop tratar das encomendas. Fiquei uma hora escolhendo licores, chocolates, latinhas de patê, telefones sem fio. Cheguei aos perfumes. De todos, só não havia o meu. Senti-me injustiçado. Estava lá, camelando com as compras, e para mim nada? Podem me chamar de egoísta. Abandonei o carrinho.

Os amigos fazem de tudo para transformar o turista em ás do contrabando. Decidi: encomendas, não mais. Sei de gente que ficará de nariz torcido. Assumo: odeio peregrinar pelas lojas, carregar malas, esfalfar-me nos aeroportos. Para muambeiro de luxo, nunca tive vocação.

Entendendo o texto

01. Qual é o tema principal abordado na crônica "Muambas de Luxo" de Walcyr Carrasco?

a. Comportamento dos turistas em viagem.

b. A experiência de compras em free shops.

c. Dicas de viagem para os Estados Unidos.

d. Histórias engraçadas de malas extraviadas.

   02. Qual é o sentimento do autor em relação às encomendas feitas por amigos e conhecidos durante sua viagem?

          a. Alegria por ajudar.

          b. Indiferença.

          c. Frustração e irritação.

          d. Entusiasmo por fazer compras.

   03. Por que o autor descreve seus amigos como transformando-o em um "ás do contrabando"?

         a. Porque gostam de envolvê-lo em atividades ilegais.

         b. Porque o incentivam a trazer produtos de forma clandestina.

         c. Porque esperam que ele traga produtos de forma vantajosa durante suas viagens.

         d. Porque querem colecionar itens exóticos trazidos por ele.

   04. O que o autor menciona como um dos pontos negativos das encomendas que recebe durante suas viagens?

         a. O peso extra na bagagem.

         b. A falta de interesse dos amigos.

         c. O desinteresse das lojas em atender seus pedidos.

         d. A dificuldade de escolher os produtos certos.

 05. Qual foi a reação do autor ao descobrir que o gravador comprado no exterior era mais barato no Brasil?

         a. Ele ficou contente por ter conseguido um bom negócio.

       b. Ele se surpreendeu com a reação de seu amigo.

      c. Ele se sentiu mal por não ter pechinchado o preço.

      d. Ele achou engraçada a situação.

    06. O que aconteceu com o show que o autor ajudou a providenciar partituras musicais?

      a. O show foi um grande sucesso.

      b. O show foi cancelado.

      c. O autor não menciona o resultado do show.

      d. O autor não chegou a assistir ao show.

   07. Por que o autor decidiu não mais aceitar encomendas durante suas viagens?

      a. Porque seus amigos não apreciavam seus esforços.

      b. Porque ele não gosta de fazer compras.

      c. Porque a experiência se tornou desagradável e estressante.

      d. Porque ele prefere viajar sem bagagem.

  08.Qual foi a situação que levou o autor a dar um "calote" involuntário durante uma viagem?

      a. Ele esqueceu de pagar uma conta de hotel.

      b. Ele não conseguiu encontrar um diretor de teatro em Nova York.

      c. Ele foi enganado ao comprar um produto caro no exterior.

      d. Ele não recebeu o pagamento pelo livro que entregou.

  09. O que fez o autor abandonar suas compras no free shop ao final da crônica?

      a. Ele percebeu que estava gastando demais.

      b. Ele não encontrou o perfume que queria.

      c. Ele decidiu não mais comprar presentes para seus amigos.

      d. Ele sentiu-se injustiçado ao perceber que seus amigos não valorizavam seus esforços.

10. Qual é a conclusão principal que o autor tira ao final da crônica "Muambas de Luxo"?

       a. Ele decide viajar mais frequentemente para os Estados Unidos.

       b. Ele percebe que não gosta de fazer compras para os outros durante suas viagens.

       c. Ele conclui que seus amigos não são gratos por suas ajudas.

       d. Ele decide se mudar para o exterior permanentemente.

 

 

 

 

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