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sábado, 24 de fevereiro de 2024

CRÔNICA: TUDO É POSSÍVEL - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Tudo É Possível

                Walcyr Carrasco

QUANDO EU ERA PEQUENO, queria ganhar um cavalo de corrida. Natal após Natal eu mandava cartinhas para Papai Noel. Não tinha muita ideia de onde botar o cavalo. Morava em uma pequena casa no interior de São Paulo, dividindo o quarto com meu irmão mais velho. Talvez pudesse acomodá-lo na cozinha, se mamãe deixasse. Mas isso não parecia ser problema. Em todo Natal mamãe vinha com uma desculpa:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-iyuIPnNWkZ1eaI5L8QRYIcspYzhMba9O_S__WzS06crScFPeHAWSnqipi-Nzj5WLOXjmmtCkmMOdvHeIDLYXpSAX5TcFrO8xzl6-MigqlpLg16J2YsZnk4_ZtgLPoDtexWMc98X6SaRbhwSjH7TyqMr2_dpEYSigt3csamBSFfb8_PYZ3s5XScvEqXA/s320/CAVALOS.jpg


— O cavalo ficou doente, e Papai Noel não pôde trazer.

— Ou então:

— Estava, muito pesado para Papai Noel carregar.

Finalmente, exausta, revelou a verdade sobre Papai Noel.

Sofri. Não queria acreditar. Puxa, desde que eu me conhecia por gente fazia esforço para ser bonzinho por conta do cavalo de corrida. Via o velhinho de barbas brancas na porta da loja. Acordava de manhã e encontrava sempre um presente — ou vários — junto à meia. Agora queriam que eu enfrentasse a realidade dos fatos?

O tempo passou, e a vida se encarregou de trazer outras fórmulas tão mágicas quanto Papai Noel. Principalmente em relação ao Ano-Novo. Ultrapassar a noite de réveillon tornou-se um foco de tensão. Qualquer errinho, por menor que seja, é capaz de redundar em um ano inteiro de pavores!

A coleção de exigências para um Ano-Novo decente bota a crença em Papai Noel no chinelo. Por exemplo:

— Usar roupa branca, de preferência nova. Minha amiga Lalá andou matando cachorro a grito em uma fase da vida.

Acabou desistindo e entrou no ano novo de preto, na esperança de reverter a situação. Bem... acho que este ano ela vem de vermelho.

— Comer muito na ceia, para ter abundância o ano inteiro. E desculpa de

guloso. Sinto imensa simpatia por essa ideia!

O único problema é o cardápio: não se pode comer ave, porque cisca para

trás, e isso atrasa a vida. Melhor comer porco, que chafurda para a frente. O risco é passar o ano chafurdando. Depois, lentilha, que é sinônimo de sorte. Para completar, romãs, para atrair felicidade. Com tanta romã, certamente as lavanderias devem morrer de felicidade, tal o número de manchas nos trajes brancos!

— Dar três pulinhos com a taça de champanhe na mão.

Depois, jogar o champanhe para trás. É uma garantia de sorte. E talvez de briga, porque sempre alguém acaba levando a bebida nas fuças. Pior ainda se eu estiver em uma praia e tiver de pular as sete ondinhas. Nada mais difícil que contar as ondas no meio do barulho, dos fogos (imprescindíveis), agarrando a taça em uma mão, os chinelos na outra e recebendo abraços de feliz Ano-Novo! E inevitável: acabo roubando na conta.

Vem uma ondinha, não consigo pular e digo: "Essa não vale!".

Ou seja, era mais fácil quando eu acreditava em Papai Noel! Agora, além de comprar os presentes, tenho de labutar na noite de ano! Na esperança de que, sim, aconteça alguma coisa mágica — não sei bem o quê — capaz de trazer algo de maravilhoso para minha vida.

Este ano resolvi me dar um presente. Aprendi a não acreditar em Papai Noel. Também não quero mergulhar em tantas fórmulas mágicas. Eu posso ter um Natal e um ano maravilhosos se acreditar em mim! Não entra na minha cabeça que uma noite iluminada pelos fogos vá determinar a minha vida, o meu ano, a minha felicidade. E sim o meu íntimo, iluminado pela minha vontade. Natal e Ano-Novo são simbólicos. Duas datas que despertam a vontade de ir à frente, de ser melhor, de encontrar novos caminhos. Mas a magia, a capacidade de tornar a vida maravilhosa, está, realmente, dentro de mim.

Agora, com essa certeza no meu coração, eu sei. Tudo é. possível!

Entendendo o texto

01. Qual era o desejo da criança narrada na crônica "Tudo É Possível", de Walcyr Carrasco?

a) Ganhar um cachorro de corrida.

b) Ganhar um cavalo de corrida.

c) Ganhar um carro de corrida.

d) Ganhar um cavalo de estimação.

    02. Onde o protagonista imaginava acomodar o cavalo de corrida, caso o ganhasse?

           a) Na sala de estar.

           b) Na garagem.

           c) No quarto.

           d) Na cozinha.

    03. Por que a mãe do narrador inventava desculpas sobre o cavalo de corrida?

          a) Porque não gostava de animais.

          b) Porque não tinha dinheiro para comprar o cavalo.

          c) Porque não queria decepcionar o filho.

          d) Porque queria manter viva a fantasia do Papai Noel.

   04. Qual era o foco de tensão para o narrador durante o Ano-Novo?

          a) A comida da ceia.

          b) A cor da roupa.

          c) Ultrapassar a noite de réveillon.

          d) Os presentes de Papai Noel.

    05. Segundo a tradição citada na crônica, por que não se deve comer ave na ceia de Ano-Novo?

         a) Porque atrasa a vida.

         b) Porque traz azar.

         c) Porque causa brigas.

         d) Porque é considerado um alimento sagrado.

   06. Qual é o significado atribuído à lentilha na ceia de Ano-Novo?

         a) Abundância.

         b) Sorte.

         c) Felicidade.

         d) Amor.

   07. Qual é a ação simbólica realizada com a taça de champanhe durante a virada do ano?

         a) Brindar com todos os presentes.

         b) Jogar o champanhe para trás.

         c) Fazer um pedido de felicidade.

         d) Quebrar a taça para atrair boa sorte.

   08. O narrador afirma que este ano resolveu se dar um presente. Qual é esse presente?

         a) Não acreditar mais em Papai Noel.

         b) Comprar muitos presentes para si mesmo.

         c) Participar de todas as tradições de Ano-Novo.

         d) Fazer uma viagem durante as festas de fim de ano.

   09.  Qual é a mensagem central transmitida pelo narrador no final da crônica?

          a) A importância de seguir todas as tradições.

          b) A crença na magia das festas de fim de ano.

          c) A necessidade de acreditar em si mesmo.

          d) O valor dos presentes materiais.

    10. De acordo com o narrador, onde está a verdadeira capacidade de tornar a vida maravilhosa?

          a) Nas tradições de Natal e Ano-Novo.

          b) Na sorte proporcionada pelos rituais.

          c) Dentro de si mesmo.

          d) Na intervenção mágica de Papai Noel.

 

 

 

 

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