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domingo, 25 de fevereiro de 2024

CRÔNICA: CABEÇAS-DE-VENTO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

  Crônica: Cabeças-de-Vento

                                       Walcyr Carrasco

 UM DOS MAIORES SUSTOS de minha vida aconteceu exclusivamente por culpa minha. Trabalhava em um escritório em uma pequena travessa do bairro dos Jardins. Recebi um amigo, conversamos. Saímos de noitinha. Chuviscava; Corremos até o carro. Tentei abrir, não conseguia. Um carro entrou na rua em disparada. Brecou rangendo os pneus. Quatro rapazes mal-encarados saíram às pressas, deixando as portas abertas. Não tive dúvidas: íamos ser assaltados. O escritório fechado. Rua vazia. Gelei. Um dos sujeitos parou a dois metros. Os outros formaram um arco atrás dele.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_HWp7PnJUgllfb6hSDlwcWtlLFQBMLpMuTI-UIjHJu30VkWLaM8AEhvOW19EsIqXKHvtYBMPKuLQQNT69-seC6qcgOQVWzWYEFD_3z2k3oPpZ_2XCilUfEjmTJjYFwWJmB_PXV6g7kRcBNEo57RCTKUkBJF2Kjwi0M3-E4DhJ7Flz6Z-Mqqaqgng5AhY/s320/CABE%C3%87A.jpg


— Boa noite — rosnou.

— Boa noite — gemi de volta.

         — Largue o carro — gritou ele.      

Tremi. Era mesmo um bando de ladrões. Eu e meu amigo imóveis de medo.

— Vamos, largue o carro! — insistiu o mal-encarado.

— Mas... é meu -— consegui dizer, quase em lágrimas, abraçando o capo. — E seu coisa nenhuma. É meu.

Ergueu o punho, ameaçador. Já ia responder quando olhei para o lado. Lá estava meu carro, estacionado a poucos metros. Quem estava tentando levar o automóvel alheio era eu! Constrangidíssimo, tentei explicar:

— Ih! Acho que me enganei. O meu é aquele lá.   

 Quem poderia acreditar? O meu era azul, o dele marrom. Pior: de modelos completamente diferentes. Meu amigo babava com o vexame. Fugimos às pressas, antes de levarmos uma surra. Certamente o sujeito e a turma vão contar a vida toda como certa vez afugentaram dois perigosos ladrões com a boca na botija.

Carros são um prato ótimo para distraídos. Dia desses um amigo entrou na garagem do prédio, que tem dois pavimentos. Horrorizado, descobriu que seu carro estava todo enlameado.

— Alguém deve ter usado escondido! Só pode ser o garagista!

Cheio de raiva, pegou uma mangueira. Lavou. Arrumou pano velho para enxugar. Quando chegou na frente, notou parte da pintura descascada.

   — Ainda por cima devem ter raspado na parede. E muita safadeza. 

Já estava prestes a chamar o síndico. De repente descobriu que tinha lavado o carro de outra pessoa. Pior, de um modelo diferente do seu! Simplesmente errara o pavimento da garagem, caminhara até onde julgara ser sua vaga e o resto ficou por conta da distração. Tenho uma amiga experta em distrações culinárias. Convida para um churrasco e esquece de comprar a carne. Certa vez preparou um jantar para dez pessoas. Só eu fui. Ficou arrasada. Lá pelas tantas, ligou para um convidado.

— Por que você não veio no meu jantar?

— O quê? Você não avisou!

Tinha esquecido de convidar. Tenho um amigo tão distraído que, em certo dia de chuva, ficou de dar carona a uma companheira na saída do trabalho.

Ofereceu.

— Vou até o estacionamento, tiro o carro e pego você na porta.

A amiga sorriu, agradecida. São raros os cavalheiros hoje em dia. Pois bem:

o "cavalheiro" chapinhou até o estacionamento. Pegou o carro e saiu. A moça aguardava na porta. Ele passou por ela distraidamente, deu tchauzinho e foi embora. A coitada pensou que fosse brincadeira. Quarenta minutos depois percebeu que havia algo errado. Foi obrigada a sair na chuva, no escuro, até um ponto de ônibus Só no dia seguinte, quando estava prestes a levar uns tapas, ele percebeu o engano. — Ih... eu esqueci que você estava me esperando! Se dirijo, às vezes viro na rua errada, sem pensar. Principalmente quando estou acostumado com um caminho e esqueço que vou para outro lugar. Levanto para dar um telefonema urgente, paro para tomar um café e quando lembro passou o horário comercial. Meu amigo Cláudio, um distraído contumaz, jura que é genético. Certa vez, nos bons tempos do centro da cidade, seu avô e sua avó foram assistir a uma ópera no Teatro Municipal. Ela, com casaco de peles e joias, elegante como era de praxe. O casal saiu caminhando. A rua Xavier de Toledo estava em obras, cheia de tapumes e buracos bem fundos. A avó caiu dentro de um deles. O marido nem percebeu. Distraído, foi para casa, sentou-se para ler o jornal. Horas depois a mulher apareceu. Suja de barro até os cabelos. O casaco de pele destruído. Ele espantou-se: — Onde é que você estava?

Hoje em dia daria divórcio. Na época, ela contentou-se em rugir. De tudo, uma lição se aprende. Quando se fala em distraídos, sem dúvida a tragédia anda ao lado da comédia.

Entendendo o texto

01. Qual foi o motivo do susto vivenciado pelo protagonista na crônica?

a) Ele foi perseguido por ladrões.

b) Ele se enganou pensando que ia ser assaltado.

c) Ele perdeu seu carro.

d) Ele viu um acidente de carro.

    02. O que o protagonista abraçou quando os supostos ladrões ordenaram que largasse?

         a) Um poste

         b) Seu amigo

         c) Uma árvore

         d) O capô de um carro

   03. Por que o amigo do protagonista ficou horrorizado ao encontrar seu carro na garagem do prédio?

         a) Estava todo enlameado.

         b) Estava amassado.

         c) Estava com os pneus furados.

         d) Estava bloqueando a saída.

  04. O que o amigo do protagonista descobriu quando chegou na frente do carro que estava lavando?

        a) A pintura estava descascada.

        b) O pneu estava murcho.

        c) O motor estava falhando.

        d) O carro não era o seu.

  05. Qual foi a distração culinária da amiga do protagonista mencionada na crônica?

       a) Esqueceu de comprar carne para o churrasco.

       b) Preparou um jantar para dez pessoas e só o protagonista apareceu.

       c) Não avisou os convidados sobre o jantar.

       d) Esqueceu de acender o fogão.

  06. O que o amigo distraído do protagonista esqueceu de fazer quando prometeu dar carona para a companheira de trabalho?

       a) Tirar o carro do estacionamento.

       b) Encontrar a companheira na porta do trabalho.

       c) Voltar para buscá-la após estacionar o carro.

       d) Ligar para avisar que estava a caminho.

  07. Qual é a principal causa das distrações do protagonista quando dirige?

        a) Ele costuma se distrair com o celular.

        b) Ele tem problemas de visão.

        c) Ele se perde facilmente.

        d) Ele está sempre atrasado.

   08. O que aconteceu com a avó do amigo distraído do protagonista durante uma ida ao Teatro Municipal?

       a) Ela perdeu seu casaco de pele.

       b) Ela ficou presa em um buraco na rua.

       c) Ela foi atropelada.

       d) Ela se perdeu no caminho.

  09. Qual foi a reação do marido da avó do amigo distraído quando ela voltou para casa suja de barro?

       a) Ele ficou muito preocupado.

       b) Ele riu da situação.

       c) Ele não percebeu.

       d) Ele pediu o divórcio.

  10. Qual é a lição que se aprende com as histórias de distrações na crônica?

       a) Distrações podem resultar em tragédias.

       b) Distrações são sempre engraçadas.

       c) É importante prestar atenção aos detalhes.

       d) É inevitável cometer erros por distração.

 

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