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quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

CRÔNICA: EM BUSCA DE STATUS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Em Busca de Status

                Walcyr Carrasco

 

AO ENTRAR NA SALA DE um amigo, observo uma luminária idêntica a um chifre. Ele a exibe, orgulhoso.

— Phillipe Starck. Só existem três no Brasil.

Atarraxo um sorriso de admiração. Como dizer que parece o despojo de uma fantasia da Vai-Vai? Entusiasmado, ele aconselha: 

— Na loja havia uma cadeira de couro de vaca incrível, assinada. Você precisa comprar.

— Mas não preciso de mais uma cadeira. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9ZLsc8KL5JDy10UNh8ttoN7sYw-49YDeoPg4FCXqT7gcT_5CNI4Fts-2ycIHFR4QHNwg1LoSaJhrJXXa0mU4zgatgmnxOOgVIeeGgfEv5bCcG3XfxjqFwvDTzYjQuzoXOEbPbghm7WFMKR5DuCkPNoRhwJRNni893n4IBffN7qvCEZ5OzJuc-_62pbTk/s320/carteira-masculina-lv_1_1000.jpg 


— E uma oportunidade única, e você vai jogar fora?

Suspiro. Devia jogar a cadeira na cabeça dele. E impressionante como as pessoas dão valor a grifes. Há bastante tempo vi uma carteira Louis Vuitton com desenho quadriculado. Linda. Fui verificar. Meus documentos não cabiam. O vendedor explicou:

—- E que os documentos europeus são de tamanho menor. Os nossos ficam sobrando.

Agradeci. Um amigo que me acompanhava se escandalizou. -— Não vai levar?

— Onde vou botar minha identidade?

 Mas quando você abrir a carteira todo mundo vai notar. É chique.

Sou do tipo que só compra quando gosta. Espanto-me quando vejo as pessoas se digladiando para ser elegantes. Visito um casal. Ele me oferece um drinque.

— Uísque 12 anos, de uma reserva especial. Você nunca experimentou igual.

— Obrigado, só quero água.

— Você tem de experimentar! É o máximo!

Enche meu copo. Observo a samambaia mais próxima. Quantas vezes terá sido regada pelo uísque? A busca por status faz com que modas sejam inventadas.

Sempre odiei tiramisu. Há algum tempo, ninguém podia dizer que não gostava.

— Prefiro creme de papaia -— arrisquei, certa vez, à mesa.

Olharam-me como se fosse um ET. Descobri que o creme fora a moda de um ano atrás. Querem botar grife até dentro do meu estômago! Agora que o tiramisu se tornou mais popular, é até fino desdenhar. Escritores também podem entrar em moda.

— Você já leu o último da saga de Ramsés.

— Não gostei do primeiro, parei.

— Ah, mas todo mundo está lendo. Eu também achei um pouco

exagerado... mas só falam nisso!

E filmes que não se pode deixar de ver? Já perdi a conta.

Cada vez que desembarca uma nova Bruxa de Blair, há uma comoção.

              Como, você não viu?

— Assisto mais tarde, no vídeo.

— Mas aí é diferente. Todo mundo já vai ter visto.

Será que, por todo mundo desfrutar, o filme perde o interesse, a comida o sabor? E a mania de conhecer vinhos? Se parte dos homens de negócios se dedicasse a estudar os gregos com o mesmo afinco com que decora rótulos, teríamos um país de filósofos. Guerra semelhante acontece entre conhecedores de charuto. Discutem aromas. Nuances. A maioria seria incapaz de distinguir um cubano de um cigarro de palha do sítio. Respeito os apreciadores das coisas boas da vida. Mas é terrível ver alguém comendo, bebendo e fumando só para parecer o que não é, nem precisa ser.

De maneira mais cruel, algumas personalidades se tornam notórias da noite para o dia. São convidadas para todas as festas. Pensam que entraram para o grand monde. Bobagem. Passa algum tempo e seu telefone pára de tocar. São descartadas como a roupa do verão passado.

Inventaram até uma expressão para dizer que alguma coisa é chique e imprescindível: Estava em uma badalada loja de roupas masculinas. A gerente conversava com um rapaz. Comentou.

— Seu sapato é tudo.

   O elogiado sorriu como se tivesse ganho a Mega Sena.

— Eu sei. E mesmo. Tudo.

 O sistema solar não é tudo, a via láctea não é tudo. Como um sapato pode ser?

Falando assim, parece que estou me referindo aos ricos, ou pelo menos à classe média abastada. Coisa nenhuma. Soube que uma grande grife, que patrocina desfiles chiquérrimos, vive da venda de camisetas e jeans. Seu público: office-boys e congêneres. Gastam o pouco que ganham para ter roupa com etiqueta. Quanto mais jovens, mais estritos: é preciso usar os tênis que todos usam, botar o jeans, a calça. Caso contrário, serão desdenhados como o patinho feio.

Fico pensando: nessa ânsia por ser especiais, as pessoas tornam-se idênticas. Ser "tudo" acaba sendo um bom caminho para terminar em nada.

Entendendo o texto

01. Qual é a reação do narrador ao ver a luminária na casa do amigo?

a) Fica encantado e quer comprar uma igual.

b) Sorri de admiração, mas acha estranha.

c) Critica abertamente o gosto do amigo.

d) Compra uma para si imediatamente.

02. O que o amigo do narrador sugere comprar na loja?

a) Uma luminária igual à dele.

b) Uma cadeira assinada por um designer famoso.

c) Uma carteira Louis Vuitton.

d) Uma obra de arte exclusiva.

   03. Por que o narrador recusa a carteira Louis Vuitton?

        a) Por não gostar do desenho quadriculado.

        b) Por não ter dinheiro para comprá-la.

        c) Porque seus documentos não cabem nela.

        d) Porque preferia uma carteira de outra marca.

04. O que o narrador acha da busca por status relacionada a grifes?

a) Concorda e acha importante.

b) Despreza e acha fútil.

c) Participa ativamente dessa busca.

d) Não tem opinião formada sobre o assunto.

     05. Como o narrador reage ao convite para experimentar um uísque especial?

          a) Aceita e elogia.

          b) Recusa educadamente.

          c) Experimenta e não gosta.

         d) Finge gostar para agradar o amigo.

   06. O que o narrador comenta sobre a moda do tiramisu?

         a) Sempre gostou dessa sobremesa.

         b) Nunca experimentou, mas queria.

         c) Despreza, pois está fora de moda agora.

         d) Acha que é uma moda passageira.

    07. Qual é a atitude do narrador em relação aos livros e filmes populares?

         a) Sempre os lê e assiste.

         b) Só os consome se forem populares.

         c) Ignora, pois prefere coisas menos conhecidas.

         d) Assiste mais tarde, no vídeo.

    08. O que o narrador questiona sobre a obsessão por conhecer vinhos e charutos?

         a) Se as pessoas realmente apreciam essas bebidas.

         b) Se essa busca contribui para o desenvolvimento pessoal.

         c) Se deveriam dedicar-se ao estudo de assuntos mais relevantes.

         d) Se é possível distinguir a qualidade desses produtos.

     09. Como o narrador vê as pessoas que buscam ser notórias da noite para o dia?

         a) Com admiração e respeito.

         b) Como tolas e superficiais.

         c) Como visionárias.

         d) Como inspiradoras.

     10. Qual é a crítica final do narrador em relação à busca desenfreada por status?

         a) Acredita que todos devem buscar ser "tudo".

         b) Sugere que essa busca pode levar ao vazio.

         c) Apoia a ideia de ser especial a qualquer custo.

         d) Afirma que a busca por status é essencial para o sucesso.

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