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quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

CRÔNICA: PEQUENOS ABUSOS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Pequenos Abusos

                Walcyr Carrasco

ACONTECEU EM UM SÁBADO, a uma da manhã. Eu havia saído com alguns amigos. A carona me deixou em frente o meu prédio, onde há uma banca de revistas. Estava aberta. Aproveitei para entrar. E uma banca grande, com caixa e até máquina que preenche cheque. Espantei-me ao ver, espalhados sobre o balcão, vários montinhos de dinheiro, alguns de moedas. Troco pequeno: notas de um, dois reais. O caixa contava o total. Ao lado, um engraxate. Moleque. Na idade em que já deveria estar em casa, e não solto pelas ruas do centro da cidade. Trouxera a féria do dia, em dinheiro picadinho, para trocar por notas de maior valor.   

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjs7T5_yZlyDWYRF2Z2uoXYowJlK-GQLyiqyEDrAr7MgFUxXbZP2KkI6Wf-B40QOwvbXwrrf76-6lu6fl7XhmhahTweAumxFuuFc0fWDHK3ebQQ3iviWnxgEStIr42JQJPT7ryAF8l6gWe7mwVFgplFUQpmE0WnZvlcZ2Da9TtWELgbUdC2WvYJCHohLH8/s320/ENGRAXATE.jpg

   

Nesse instante, um policial entrou na banca. Alto, fardado. Olhou para o garoto. Estendeu o pé, mostrando o sapato. O garoto quis explicar.

— Estou sem material para engraxar.

— Lustre — ordenou o policial.

Confesso que fiquei chocado. Ninguém é obrigado a trabalhar à uma hora da manhã. Ainda mais de graça. Obviamente, o policial nem sequer cogitava pagar. Também, confesso, fiquei sem ação. O garoto, já acostumado à dura vida na rua, ajoelhou-se. Tirou um pano da caixa de engraxate. Lustrou ambos os sapatos. Mas, ao abrir a caixa, subiu um cheiro de cola no ar.

         — É cola? — disse o policial.         

Percebi uma acusação a caminho. Lembrei-me dos meus tempos de criança, quando havia um sapateiro perto de casa. Às vezes a sola do meu sapato soltava, e ele colava novamente. Não sou ingênuo a ponto de achar que o garoto fosse completamente inocente. Mas, segundo acredito, até qualquer prova em contrário ninguém é culpado. Talvez carregar cola fosse normal para um engraxate.

Comentei:

-— A cola pode servir para consertar uma sola solta, por exemplo.

O policial me encarou e não respondeu. Olhou o garoto, ameaçador. Decidi permanecer na banca. A vítima ali era o garoto. Por que motivo um policial acha que tem o direito de usufruir trabalho gratuito? Ainda mais de madrugada? Já vi isso acontecer várias vezes. E comum um policial entrar em um bar e consumir sem botar a mão no bolso. Não acho correto. E o mais interessante é que estou do lado dos policiais. São mais do que necessários, com a violência de hoje em dia. Não têm vida fácil, não. O salário é baixo. Pequeno, para o risco que todo policial corre diariamente. Uma vez conversei com um policial e ele desabafou:

— Imagine o que é sair para trabalhar todo dia sem saber se vou voltar vivo para casa. Além de ganhar pouco, muitos até têm de esconder a profissão, para não sofrer hostilidades na vizinhança. Mas é justamente por isso que sua atitude deveria ser completamente outra. O policial deve ser visto como um amigo. Por todos nós. Mas fundamentalmente pelos mais pobres, mais carentes, que só têm a eles para recorrer. Pequenos abusos, como espichar o pé para lustrar o sapato de madrugada, levam à desconfiança. Ao medo. À perda de confiança necessária para fazer denúncias. A polícia precisa do apoio da população. Como conquistá-lo com atitudes nesse estilo?

Certamente, o pequeno engraxate estava apavorado. A presença da cola na caixa de trabalho talvez merecesse uma conversa. Um encaminhamento. Talvez eu estivesse errado em sair tão prontamente em sua defesa. Mas o que havia lá era apenas ameaça. Terror. 

O rapaz da banca terminou de contar o dinheiro e deu duas notas de dez reais ao garoto. Seu faturamento no dia, provavelmente. Ele partiu. O policial saiu em seguida. Voltei para meu prédio sentindo uma grande tristeza. Enquanto continuarem os pequenos abusos, muita coisa grande vai ficar sem solução.

 Entendendo o texto

  01. O que o autor observa ao entrar na banca de revistas na crônica "Pequenos Abusos"?

       A) Jornais espalhados.

       B) Montinhos de dinheiro.

       C) Máquina de café.

       D) Revistas empilhadas.

02. O que o garoto engraxate faz quando o policial entra na banca?

      A) Corre para fora.

      B) Conta dinheiro.

      C) Lustra os sapatos do policial.

      D) Pede uma carona.

03. Qual é a ordem dada pelo policial ao garoto?

      A) Contar o dinheiro.

      B) Comprar jornais.

      C) Lustrar os sapatos.

      D) Fechar a banca.

04. Como o autor reage à situação do garoto engraxate?

     A) Fica chocado.

     B) Ri da situação.

     C) Ignora o ocorrido.

     D) Oferece ajuda financeira.

05. O que o policial observa na caixa de engraxate do garoto?

     A) Dinheiro picadinho.

     B) Balas e doces.

     C) Ferramentas de trabalho.

     D) Um cheiro de cola.

06. O que o autor comenta sobre a presença da cola na caixa do engraxate?

    A) Sugere que pode ser usada para consertar sapatos.

    B) Acusa o garoto de má conduta.

    C) Ignora o assunto.

    D) Oferece uma explicação alternativa.

07. O que o policial faz após o garoto lustrar seus sapatos?

    A) Paga pelo serviço.

    B) Ameaça o garoto.

    C) Ignora o garoto.

    D) Prende o garoto.

08. Como o autor descreve a atitude do policial em relação ao trabalho do garoto?

    A) Correta e justa.

    B) Inadequada e abusiva.

    C) Simpática e compreensiva.

    D) Desinteressada e apática.

09. Qual é a preocupação do autor em relação aos pequenos abusos policiais?

    A) Eles levam à desconfiança e ao medo.

    B) Eles aumentam a confiança da população.

    C) Eles não têm impacto significativo.

    D) Eles são inevitáveis na sociedade.

10. Como o autor se sente ao voltar para seu prédio no final da crônica?

    A) Feliz.

    B) Enraivecido.

    C) Triste.

    D) Indiferente.

 

CRÔNICA: INVASÃO NA CHAMINÉ - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Invasão na Chaminé

                Walcyr Carrasco

UM DOS MEUS MAIORES DESEJOS era acender a lareira. Tenho uma na chácara. Sou apaixonado pelo fogo. Pelas chamas tremulando. Pelas cores. A maior parte do ano tenho de me contentar em observar um resto de cinzas. Meses atrás estava deitado no sofá, lendo um policial. Um dos meus vícios é gostar de mistério. O livro pode ser horrendo, mas vou até o fim, mesmo descobrindo na primeira página o final da história. Nessa noite, justamente quando o serial killer estava prestes a assassinar sua nova vítima em um mar de sangue, ouvi ruídos na chaminé.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjppkoxy5a0gLFlZwfrf44GP4nf6v4Q1_sF1SL6ruxXFMUAMnqFUR41ZWdsBgdkFU92wS4AzzlqDUdcJup6QQVzKdgAN9s0LP9Mq7Fo8Fiv5WcnnTguxGqucMxmTP5_iGeIglWJf2RckDWaF12JWrIwLnV50IOlyFSUDixq57mQ0_ztwdOq67NEKOPAeLc/s320/MORCEGO.jpg 

— Será impressão? — disse para mim mesmo, sabendo perfeitamente que não era.

O barulho aumentou. Pareciam pés raspando no duto. Só Papai Noel tem o hábito desconfortável de entrar nas casas pelo telhado e não pelas portas. Mania que, certamente, só Freud explica. Estava longe do Natal. Que poderia ser? Um serial killer entrando pela chaminé, com um facão erguido? Por que se dar a tanto trabalho se a casa estava inteiramente aberta? Bem, assassinos de romances e filmes americanos têm essas originalidades. Arrepiei. Um serial killer de Nova York estaria prestes a pular dentro de minha sala? A troco do quê? Os ruídos aumentaram ainda mais. Corri a chamar o caseiro. Quando veio, expliquei o mais calmamente possível:

— Há alguém na chaminé. Entre na lareira e veja quem é.

Por que ele e não eu? Pelo simples motivo de que ele é ele e eu sou eu!

Horrorizado, arriscou:

— E se for o Conde Drácula acordando, agora que escureceu?

Refleti. Que mau gosto! Se eu fosse um vampiro, encontraria acomodação melhor. Um túmulo bem quentinho. Ou o cofre de um banco com cédulas confortáveis para deitar em cima! Mano, o caseiro, resolveu acender a lareira.

— Seja o que for, a gente espanta com fogo e fumaça.

Meu sonho de contemplar as chamas finalmente realizado?

Não exatamente. Era uma noite de verão. Mal a lenha começou a queimar, meu cérebro já estava derretendo. Segundos depois, um, bando de morcegos saiu voando pela chaminé. Bateram as asas que nem loucos pela sala. Eu e o caseiro corremos, enquanto os morcegos tentavam fugir das lâmpadas. Era óbvio. A chaminé se transformara no lar dos voadores!

— Viu só? Não era o Drácula. Só seus filhos! — comentei.

No dia seguinte fiscalizei o caseiro enquanto ele despejava os restantes. Minha amiga Lalá reclamou:

— É um absurdo. Os morcegos são fundamentais para o equilíbrio ecológico. 

— Por isso não. Boto todos em uma gaiola e mando para 'sua casa — ofereci.  

Ela silenciou, estrategicamente.

Finalmente, nas últimas semanas, esfriou! Voei para a chácara. No caminho, comprei um saco de lenha.

— Acenda a lareira, Mano! — ordenei ao caseiro.

Deitei-me, pronto para desfrutar o calor. A sala ficou cheia de fumaça.

— E lenha verde! — explicou ele. — Não queima, só...

— ...faz fumaça! — completei tossindo, enquanto corria para a varanda.

 O pobre Mario ficou abanando a sala. Duas noites depois, encontramos lenha seca. Convidei uns amigos.

— Vamos tomar um vinho diante da lareira.

Sentamos. O fiel Mano botou fogo. As chamas se elevaram, majestosas.

Imediatamente, ouvi... piu, piu!

— Morcegos de novo? Mas morcego pia? 

Um bando de andorinhas voou para dentro da sala. Tinham tomado posse da chaminé, que devia estar obstruída no alto! Uma delas queimou algumas penas no fogo e caiu. Minha amiga Vera gritou.

-— Salvem, salvem! Apaguem o fogo!

Pegou a andorinha na mão. Gorjeou, para fazer amizade. A pobre ave parecia mais aterrorizada. Atravessar as chamas e ainda ter de ouvir uma mulher daquele tamanho piando devia ser demais.       

-— Como você pôde acender a lareira com as andorinhas dentro? — brigou Vera.

— Mas eu... eu... — quis argumentar.

Pegou o marido pelo braço e partiu com a andorinha. Soube que está sendo tratada melhor que um beija-flor. Já foi ao veterinário. Acabará em um cabeleireiro para arrumar "as penas queimadas. Quem sabe vai botar peruca!

Quanto à lareira, desisti. Continuo olhando as cinzas. Leio romances policiais e ouço ruídos aterrorizantes. Minha chaminé foi invadida outra vez. O que pode sair voando, se eu acender de novo? Um pterodáctilo? Melhor não saber. Que vença a vida.

Entendendo o texto 

  01. O que despertou o desejo do autor na crônica "Invasão na Chaminé"?

      A) Ler um romance policial.

      B) Acender a lareira.

      C) Observar as cinzas.

      D) Ouvir ruídos misteriosos.

02. Como o autor descreve sua paixão pelo fogo na crônica?

      A) Pelos sons misteriosos.

      B) Pelas chamas tremulando.

      C) Pela presença do caseiro.

      D) Pelas cores da lareira.

03. Quem o autor inicialmente suspeita ser o invasor da chaminé?

      A) Papai Noel.

      B) Serial killer.

      C) Caseiro.

      D) Conde Drácula.

04. Por que o autor decide chamar o caseiro para verificar a chaminé?

     A) O caseiro é corajoso.

     B) O autor tem medo de enfrentar o invasor.

     C) O caseiro é fã de vampiros.

     D) O autor está ocupado lendo.

05. O que é encontrado na chaminé quando a lareira é acesa pela primeira vez?

      A) Lenha seca.

      B) Morcegos.

      C) Andorinhas.

      D) Serial killer.

06. Qual é a reação da amiga Lalá em relação aos morcegos?

     A) Ela os considera fundamentais.

     B) Ela os quer em uma gaiola.

     C) Ela os acha assustadores.

     D) Ela os ignora.

07. Por que a sala fica cheia de fumaça na segunda tentativa de acender a lareira?

     A) Lenha verde.

     B) Lenha seca.

     C) Andorinhas.

     D) Morcegos.

08. O que acontece quando finalmente conseguem acender a lareira na presença dos amigos?

    A) Chaminé é obstruída.

    B) Morcegos invadem.

    C) Andorinhas voam para dentro.

    D) Todos se queimam.

09. Como a amiga Vera reage à situação das andorinhas na lareira?

    A) Fica feliz.

    B) Grita para apagar o fogo.

    C) Pega uma andorinha na mão.

    D) Ri da situação.

10. O que o autor decide fazer em relação à lareira no final da crônica?

    A) Continua tentando acender.

    B) Desiste de acender.

    C) Chama um profissional.

    D) Transforma a chaminé em lar dos morcegos.

 

 

CRÔNICA: O PONTO X - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: O Ponto X

                 Walcyr Carrasco

 

MASSAGEM VIROU MODA na cidade. Todo candidato a ser massageado se imagina como um imperador romano em fita de Hollywood. Deitado, com belas escravas núbias tocando suas costas, dá ordens para invadir um pedaço do mundo. Ai de mim! Nem sempre funciona desse jeito! Boa parte dos massagistas prefere é me dar uma boa surra!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtyooQAclkDEfGm_ul44FzckjaCAHHQvTUTbIXimFLReN_GaRdVt54pyrd4lUTtOo-CUE_DwapkMXnv0ErNxrY0xVUvnAtfEGyOhA0BhyphenhyphenWzpGsrTenPEYTv3WCnCeQc3ZiFaL-2cu9DMIU6k73N0DbnQyuFZXVm2gpTNXgXv32EiUlLUzkr86_cRemEUY/s320/Tuina-blog.png


Tive um fantástico, de Osasco. Eu morava na Granja Viana, e ele, de origem nipônica, ia em casa. Do-in. Dedões fortes, apertava todo o meu corpo, segundo afirmava, para "reequilibrar" as energias. Na terceira semana pediu algodão, álcool e uma toalha. Concedi. Ligou uma máquina cheia de bulbos de vidro. Prendeu vários deles em minhas costas e pernas.

— São ventosas — explicou.

Acionadas eletricamente, as ditas cujas aspiraram o ar, formando bolhas na minha pele. Ele as retirou e picou o círculo marcado. Quando ia gritar, botou as ventosas de novo!

   — Estou retirando seu sangue velho. Fiz isso em um cavalo contundido e foi muito bom. 

Retribuí com um sorriso equino. Seria a solução dos meus problemas de ciático? Quando terminou, eu parecia uma jiboia, cheio de marcas redondas. Adorei. A cada quinze dias, me aplicava as ventosas. Até no dedo mindinho! Minha vida social rareou, pois, reconheço, tornei-me uma figura muito esquisita! Minha alternativa teria sido virar punk. Parei quando insistiu em vir às 7 horas da manhã. Nada me faz acordar tão cedo nem mesmo a perspectiva de ficar tão ágil quanto um cavalo do Jockey.

Outro decidiu me tornar uma pessoa melhor dando um soco no meu peito.

— Isso vai abrir o seu coração. A dor que está sentindo é por ser uma pessoa muito fechada.

Profissionais decididos a tratar a vida emocional não são raros. Houve um que na segunda sessão só conversou.    — O que está sentindo?

— Cansaço. O trânsito está horrível. Ainda por cima, a chuva...

— Você precisa se transformar.

— Preciso? Você... bem.... será que eu... o que fiz?

— Tem de se tornar uma nova pessoa. Acabou o horário.

Não deu tempo de tocar o seu físico, mas foi importante para o seu astral. Acerte com minha secretária e marque nova consulta.

Saí carregado de culpa. Transformar, transformar... sem dúvida. Mas e a

espinha cansada? E o ciático? Fugi.

Houve um ótimo, no Sumaré. Não podia contar onde estava doendo, pois,

nesse caso, usava os cotovelos.

— Deixa eu desfazer esse nó.

— Aiiiiiiiiiiii!

—- Depois você vai se sentir melhor.

Quem não se sente? E o alívio do fim da surra. Outro aplica moxabustão. E uma técnica indiana. Aproxima um bastão de incenso aceso da área dolorida. Vai esquentando o local até que...  

— Está queimando, queimou, queimou!

Retira o incenso com ar sábio e aplica mais além. No ar, resta o cheirinho dos meus pêlos chamuscados!

Já ousei até a tal de "massagem express"'. Há uma tenda em frente ao Edifício Itália, aos domingos. É a massagem rápida, feita no torso, em uma cadeira especial. Fico de camiseta. Ele aperta, aperta. Quase durmo. Quando me levanto, um grupinho observa, curioso. Por falta do que fazer, resolveram assistir à sessão?! Que raiva!

O mais recente usa técnicas de shiatsu. Comprime pontos de tensão ou dor com os dedos.

— Veja, é como um botão. Eu aperto aqui e...

— UüUüUi!

-— Fica quieto, só estou ajudando. Agora só faltam os pés. Segundo afirma, na planta dos pés estão concentrados todos os pontos necessários para as curas. E lá vai o dedo! Urro. —- Relaxa, Relaxa!

— Como vou relaxar com um alicate no meu pé?

Queria ver se alguém tratava assim um imperador romano!

Mas... que vida! Reclamo da boca pra fora. Entra ano, sai ano, e estou sempre nas garras de um novo massagista!

Entendendo o texto

01. Qual é a visão inicial do autor sobre as massagens na cidade?

O autor inicialmente menciona que massagem virou moda na cidade, e os candidatos a serem massageados se imaginam como imperadores romanos em fitas de Hollywood.

02. Como o autor descreve a experiência com um massagista de origem nipônica de Osasco?

      O autor descreve que o massagista de origem nipônica de Osasco fazia uma técnica chamada do-in, utilizando dedões fortes para apertar todo o seu corpo e, em uma sessão, aplicou ventosas que aspiraram o ar, formando bolhas na pele.

03. O que acontece quando o autor tenta se tornar uma pessoa melhor através de massagens, e por que ele para com essa prática?

      O autor menciona que um massagista tentou fazer com que ele se tornasse uma pessoa melhor dando um soco no peito, alegando que isso abriria o seu coração. Ele para com essa prática quando o massagista insiste em sessões matinais às 7 horas.

04. Qual é a experiência do autor com um massagista que utiliza os cotovelos e o que ele promete ao autor?

       O autor menciona um massagista que utiliza os cotovelos, prometendo desfazer nós e garantindo que o autor se sentirá melhor após a surra.

05. Qual é a técnica utilizada por um massagista que envolve a aplicação de incenso aceso na área dolorida do autor?

      O massagista aplica moxabustão, uma técnica indiana, aproximando um bastão de incenso aceso da área dolorida até queimar os pelos, promovendo alívio na região.

06. O que o autor experimenta na "massagem express" e como os espectadores reagem?

      O autor experimenta a "massagem express" realizada em uma cadeira especial em frente ao Edifício Itália, e os espectadores observam curiosos, o que deixa o autor irritado.

07. Quais são as técnicas utilizadas pelo massagista mais recente, e como o autor reage a elas?

      O massagista mais recente utiliza técnicas de shiatsu, comprimindo pontos de tensão ou dor com os dedos. O autor reage com urros, especialmente quando o massagista aplica pressão nos pés.

08. Como o autor descreve a sua relação constante com massagistas ao longo do tempo?

O autor reclama, mencionando que entra ano, sai ano, e ele está sempre nas garras de um novo massagista.

09. Quais são os métodos específicos mencionados na crônica que os massagistas utilizam para tratar o autor?

Os métodos mencionados incluem do-in com dedões fortes, aplicação de ventosas, soco no peito para abrir o coração, uso de cotovelos para desfazer nós, moxabustão com incenso aceso, massagem express em uma cadeira especial, e técnicas de shiatsu com pressão nos pontos de tensão.

10. Como o autor descreve o impacto na sua vida social devido às práticas constantes de massagens?

      O autor menciona que sua vida social rareou, tornando-se uma figura esquisita devido às marcas e efeitos das massagens, incluindo uma alternativa que teria sido virar punk.

 

CRÔNICA: CADA UM POR SI - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Cada Um por Si

                Walcyr Carrasco

QUANDO APRENDI A DIRIGIR, ouvi o conselho.

—- Fique na pista da direita, até ter segurança no volante.  Bem que tentei. Preferia dirigir devagar, sem atrapalhar o trânsito. Mas a pista da direita era, e continua sendo, uma tortura. Já perdi a conta do número de vezes que fiquei parado atrás de um ônibus ou van.

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglyBAOyjx5j7QZE6E25Th5XCXCWKryA14e5ZOaE4RNXSZgsW8gecLZxcKykmh9qexrOwM35GRj-ECZvWCbG9FgzSwHItmTXJzlOZJr1h7MbU5HQBmg5IRu3mHgi5SWw0rPf2mnJ1ybTj5XCj6ljfMLxMQKD-L33r91EGklNO0ZHEdoxgj07rWdtXTzDu4/s320/onibus.jpeg 

Passageiros sobem e. descem, eu espero. Às vezes, misteriosamente, o ônibus liga o pisca-alerta. Fica imóvel. Boto a seta à esquerda, pedindo passagem. Alguém deixa entrar? Respondo: jamais! Aceleram! Se boto o braço para fora implorando compaixão, corro o risco de que me levem o cotovelo! E carros que subitamente estacionam na pista da direita para alguém descer? Outro dia, em plena avenida Água Espraiada, tive de ficar esperando uns dez minutos! A mulher ainda bateu um papinho e depois desembarcou. Ao sair, me encarou! Simplesmente, eu me senti um paspalho.       

Tem mais: motos costumam cortar pela direita. E preciso tomar mais cuidado com quem está à direita do que à esquerda. Motoqueiros e motoristas agem como se fosse uma pista de ultrapassagem rápida. Cortam subitamente minha frente! Pior: quando tento ir calmamente pela direita, sempre alguém encosta e me força a ganhar velocidade. Sem falar nos carrinhos de sucata, lentíssimos, ou nas bicicletas que surgem inesperadamente na contramão. Tudo à direita! Não entendo! Quem quer ir devagar, na pista de baixa velocidade, passa por mais riscos e contratempos do que os apressadinhos!

Pedestres jamais respeitam mãos de direção. Gostam de ocupar o espaço todo. Outro dia, no shopping, eu tinha pressa para chegar a um encontro. Três pessoas andavam calmamente na minha frente, sem deixar passagem em nenhum dos lados. Se eu tentava ultrapassar, mexiam-se como ondas, cortando minha passagem. Um amigo foi passear na praça Buenos Aires. Três mulheres iam à frente, bem devagar, conversando. Tentou se esgueirar pelo muro. Só dando cotoveladas. Acabou descendo para a rua e andou no meio dos carros para ultrapassar os pedestres. Tudo bem, elas têm o direito, de passear. Mas é justo ocupar a calçada inteira?

O metrô é terrível. Muitas vezes, quem está entrando não quer deixar os outros sair. O correto é esperar todo mundo desembarcar. Nas estações mais tumultuadas, é uma guerra. Um grupo se atira sobre o outro. Engalfinham-se. É um sufoco. Já me aconteceu de não conseguir descer na estação!

Em elevador, nem se fala. Entro. Dois passageiros vêm logo atrás e ficam bem na porta. Só que vão para o último andar.

Quando chega minha vez de descer, tenho de gritar:

         — Um momento.          

Mergulho entre braços e pernas, até ser expelido para fora. Por cortesia, quem vai para os andares mais altos deveria ir para o fundo. Mas não. Como se ficando na frente chegassem mais depressa!

Sem falar em avião! Na ponte aérea para o Rio de Janeiro, que uso sempre, os lugares são marcados. Que adianta? Basta o aviso de embarque para os passageiros correrem como uma manada selvagem. Já vi gente com criança esperando para evitar atropelos. O desembarque é ainda pior. Ultimamente, faço questão de viajar na janela. Não só por conta da paisagem. Mas para não ser obrigado a me levantar e ficar parado no corredor do avião! Basta a aeronave parar.

Todo mundo se ergue, pega as malas e fica se espremendo à espera de que as portas sejam abertas!

Não seria mais fácil dar espaço, cumprir as leis do trânsito? Enfim, viver em sociedade? Por mim, continuo na pista da direita. Posso ficar atrás de ônibus. Mas sofro menos estresse.

Entendendo o texto

01. Qual é o conselho recebido pelo autor quando aprendeu a dirigir e qual a sua tentativa de segui-lo?

O autor recebeu o conselho de “ficar na pista da direita até ter segurança no volante.” Sua tentativa foi dirigir devagar na pista da direita para não atrapalhar o trânsito.

02. Quais são os desafios e contratempos enfrentados pelo autor ao permanecer na pista da direita?

      O autor enfrenta problemas como ficar parado atrás de ônibus, lidar com motos que cortam pela direita, carros que forçam maior velocidade, carrinhos de sucata lentos, bicicletas na contramão, e pedestres que ocupam todo o espaço da calçada.

03. Como o autor descreve a atitude de motos em relação à pista da direita?

O autor menciona que motos costumam cortar pela direita, agindo como se fosse uma pista de ultrapassagem rápida, e destaca a necessidade de tomar mais cuidado com quem está à direita do que à esquerda.

04. Quais são os desafios enfrentados pelo autor no metrô e como ele descreve a situação nas estações mais tumultuadas?

No metrô, o autor menciona que muitas vezes as pessoas que estão entrando não querem deixar os outros sair. Nas estações mais tumultuadas, descreve uma situação de guerra, onde grupos se atiram uns sobre os outros, tornando difícil desembarcar.

05. Como o autor descreve a situação em elevadores e qual é a sua experiência ao descer?

O autor descreve que, ao entrar no elevador, outros passageiros ficam na porta, mesmo indo para andares mais altos. Ao descer, precisa gritar para conseguir espaço e sair, sendo expelido para fora.

06. Qual é a crítica do autor em relação ao comportamento dos passageiros em aviões, especialmente na ponte aérea para o Rio de Janeiro?

O autor critica o comportamento dos passageiros que, mesmo com lugares marcados, correm como uma manada selvagem assim que é anunciado o embarque, e a situação piora no desembarque, com todos se levantando antes mesmo das portas se abrirem.

07. Por que o autor prefere permanecer na pista da direita mesmo com os desafios que enfrenta?

      O autor prefere permanecer na pista da direita para evitar maior estresse, mesmo que tenha que ficar atrás de ônibus, pois acredita que sofre menos estresse dessa maneira.

08. Como o autor descreve a atitude dos pedestres em relação às mãos de direção e qual é o exemplo dado no shopping?

      O autor menciona que pedestres não respeitam as mãos de direção e descreve um exemplo no shopping, onde três pessoas andavam lentamente na sua frente, sem deixar passagem em nenhum dos lados.

09. Qual é o motivo pelo qual o autor faz questão de viajar na janela em voos e qual é a situação no desembarque?

O autor prefere viajar na janela para evitar ter que se levantar e ficar parado no corredor do avião. No desembarque, todos se levantam, pegam as malas, e ficam se espremendo à espera de que as portas sejam abertas.

10. Qual é a crítica geral do autor em relação ao comportamento no trânsito e na convivência social?

      O autor critica a falta de cumprimento das leis de trânsito, a falta de espaço e consideração, e questiona a dificuldade de viver em sociedade, sugerindo que seria mais fácil se as pessoas dessem espaço e cumprissem as regras do convívio social.

 

sábado, 27 de janeiro de 2024

SONETO: SOLEMNIA VERBA - ANTERO DE QUENTAL - COM GABARITO

 Soneto: Solemnia verba

        Antero de Quental

     Disse ao meu coração: «Olha por quantos
     Caminhos vãos andámos! Considera
     Agora, desta altura fria e austera,
     Os ermos que regaram nossos prantos...
     

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     Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
     E noite, onde foi luz de Primavera!
     Olha a teus pés o Mundo e desespera,
     Semeador de sombras e quebrantos!»
     
     Porém o coração, feito valente
     Na escola da tortura repetida, 
     E no uso do penar tornado crente,
     
     Respondeu: «Desta altura vejo o Amor! 
     Viver não foi em vão, se é isto a vida, 
     Nem foi de mais o desengano e a dor.»

     Entendendo o texto

01. Qual é a reflexão central apresentada no soneto "Solemnia verba" de Antero de Quental?

         A reflexão central é sobre a experiência da vida, marcada por caminhos vãos, desilusões, e a contemplação das consequências dessas experiências.

02. Quem é o interlocutor do poema e o que ele diz ao coração?

         O interlocutor do poema é o eu lírico, que se dirige ao próprio coração. Ele diz ao coração para observar os caminhos percorridos, as desilusões enfrentadas e a desolação resultante.

03. Como o eu lírico descreve a atual situação, a partir da "altura fria e austera"?

         O eu lírico descreve a atual situação como erma e austera, destacando os lugares que foram regados pelos prantos, transformados em pó e cinzas, onde antes havia flores e encantos.

04. Qual é a resposta do coração diante da perspectiva desoladora apresentada pelo eu lírico?

O coração responde de maneira valente, evidenciando que, mesmo diante das desilusões e do sofrimento, a vida não foi em vão. O coração destaca que vê o Amor dessa altura, sugerindo uma perspectiva mais positiva.

05. Que elementos poéticos, como metáforas ou imagens, são utilizados para expressar a condição do eu lírico?

         O poema utiliza metáforas como "caminhos vãos," "erros que regaram nossos prantos," e "pó e cinzas onde houve flor e encantos" para expressar a condição do eu lírico, destacando a jornada marcada por desilusões e transformações.

 

 

 

CRÔNICA: CASAS AMÁVEIS - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Crônica: Casas amáveis

                   Cecília Meireles

    VOCÊS ME DIRÃO QUE AS casas antigas têm ratos, goteiras, portas e janelas empenadas, trincos que não correm, encanamentos que não funcionam. Mas não acontece o mesmo com tantos apartamentos novinhos em folha?

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    Agora, o que nenhum arranha-céu poderá ter, e as casas antigas tinham, é esse ar humano, esse modo comunicativo, essa expressão de gentileza que enchiam de mensagens amáveis as ruas de outrora.
    Havia o feitio da casa: os chalés, com aquelas rendas de madeira pelo telhado, pelas varandas, eram uma festa, uma alegria, um vestido de noiva, uma árvore de Natal.
    As casas de platibanda expunham todos os seus disparates felizes: jarros e compoteiras lá no alto, moças recostadas em brasões, pássaros de asas abertas, painéis com datas e monogramas em relevos de ouro. Tudo isso queria dizer alguma coisa: as fachadas esforçavam-se por falar. E ouvia-se a sua linguagem com enternecimento. Mas, hoje, quem se detém a olhar para rosas esculpidas, acentos, estrelas, cupidos, esfinges, cariátides? Eram recordações mediterrâneas, orientais: mitologia, paganismo, saudade. (Que quer dizer saudade? E para que e o que recordar?)
    Os jardins tinham suas deusas, seus anões; possuíam mesmo bosques, onde morariam ecos e oráculos; e pequenas cascatas, pequenas grutas com um pouco d'água para os peixinhos. Possuíam canteiros de flores obscuras - violetas, amores-perfeitos - para serem vistas só de perto, carinhosamente, uma por uma, de cor em cor. (Hoje, estes ventos grandiosos apagam tudo.)
E, lá dentro, as casas tinham corredores crepusculares, porões úmidos, habitados por certos fantasmas domésticos, que de vez em quando se faziam lembrar, com seus pálidos sopros, seus transparentes calcanhares, suas algemas de escravidão.
    As famílias abrigavam cortejos de mortos.
E havia as clarab
oias. Luz como aquela? Nem a do luar! - uma suavidade de cinza e marfim, a maciez da seda, o fulgor da opala. As casas eram o retrato de seus proprietários. Sabia-se logo de suas virtudes e defeitos. Retratos expostos ao público: nem sempre simpáticos, mas geralmente fiéis.
    Agora, os andaimes sobem, para os arranha-céus vitoriosos, frios e monótonos, tão seguros de sua utilidade que não podem suspeitar da sua ausência de gentileza.
    Qualquer dia, também desaparecerão essas últimas casas coloridas que exibem a todos os passantes suas ingênuas alegrias íntimas - flores de papel, abajures encarnados, colchas de franjas - e sujas risonhas proprietárias têm sempre um Y no nome, Yara, Nancy, Jeny... Ah! Não veremos mais essas palavras, em diagonal, por cima das janelas, de cortininhas arregaçadas, com um gatinho dormindo no peitoril.
Afinal, tudo serão arranha-céus. (Ninguém mais quer ser como é: todos querem ser como os outros são.)
    E eis que as ruas ficarão profundamente tristes, sem a graça, o encanto, a surpresa das casas que vão sendo derrubadas. Casas suntuosas ou modestas, mas expressivas, comunicantes. Casas amáveis.

Entendendo o texto

01. Qual é o tema central abordado na crônica "Casas amáveis" de Cecília Meireles?

a) As goteiras em casas antigas.
b) A arquitetura de casas antigas.
c) A falta de comunicação em arranha-céus.
d) A gentileza e comunicação das casas antigas.

   02. Quem é o narrador da crônica "Casas amáveis"?

        a) Um arquiteto.
        b) Um observador externo.
        c) A própria Cecília Meireles.
        d) Um morador de arranha-céu.

   03. Segundo a crônica, o que as casas antigas têm que os arranha-céus não podem ter?

       a) Goteiras.
       b) Ar humano e gentileza.
       c) Portas e janelas empenadas.
       d) Corredores crepusculares.

   04. O que as fachadas das casas antigas tentavam fazer?

       a) Falar com enternecimento.
       b) Manter a privacidade dos moradores.
       c) Esconder suas imperfeições.
       d) Impressionar com a modernidade.

     05. Quais elementos decorativos eram comuns nas casas antigas mencionadas na crônica?

         a) Gatos e cachorros.
         b) Rosas esculpidas, estrelas, e cupidos.
         c) Pássaros de asas abertas.
         d) Árvores de Natal.

   06. O que os jardins das casas antigas possuíam?

         a) Chafarizes e esculturas.
         b) Deuses e deusas.
         c) Paredes de pedra.
         d) Piscinas.

   07.  Segundo a crônica, qual é a característica das casas que as torna um retrato de seus proprietários?

         a) As goteiras.
         b) As fachadas decoradas.
         c) As claraboias.
         d) Os corredores crepusculares.

  08. O que a crônica menciona sobre os arranha-céus em comparação com as casas antigas?

         a) São mais seguros.
         b) São mais coloridos.
         c) São mais frios e monótonos.
         d) São mais expressivos.

  09. Como as casas coloridas mencionadas na crônica expressam suas alegrias íntimas?

         a) Flores de papel e abajures encarnados.
         b) Piscinas e jardins.
         c) Claraboias e corredores crepusculares.
         d) Fachadas decoradas com datas e monogramas.

 10. Qual é a previsão da autora para o futuro das ruas mencionadas na crônica?

         a) Ficarão profundamente tristes sem as casas antigas.
         b) Serão mais movimentadas com os arranha-céus.
         c) Manterão sua graça e encanto.
         d) Terão mais casas coloridas.