Crônica: Em Busca da Paz
Walcyr Carrasco
FÉRIAS! QUEM VAI VIAJAR costuma ser acometido pela síndrome de mudança de vida. Basta sentir um cheirinho de mato ou uma brisa marinha para querer jogar o emprego, os compromissos e a rotina cheia de horários para o alto, É o sonho de morar fora da cidade. Quer-se largar tudo e viver no campo ou na praia, mergulhado em silêncio e tranquilidade. Um casal de amigos tinha um sítio em Ibiúna, onde esperava passar a velhice.
Casa simples e três cachorros, que a dona chamava carinhosamente de "meus filhos peludos". Acabaram sequestrados juntamente com os caseiros. Os "filhos peludos" mantiveram-se a distância, abanando o rabo para os meliantes. Os reféns ficaram presos em uma casa, no meio- da mata. Apavorados.
A família não poderia pagar um resgate, nem
que fosse dividido em suaves prestações. A certa altura, os bandidos saíram.
Meus amigos conseguiram abrir uma janela. Saltaram. Ela torceu o tornozelo.
Fugiram pelo mato, morrendo de medo das cobras e de outros bichos, ou de
ficarem perdidos para sempre.
Gente urbana imagina que toda mata é
semelhante à selva amazônica. Desaguaram em uma chácara a quilômetros de
distância. Ainda tiveram de fugir dos cães de guarda. Esses, sim, furiosos.
E
montar restaurante à beira-mar? Conheço uma penca de gente que lá pelos 40 anos
almeja ser dono de bar ou restaurante. Imaginam que basta ficar bebendo e
comendo com os fregueses, e passar a vida dando risada. Acompanhei um casal
durante todo o processo. Ela murmurava:
—
Vou servir umas comidinhas caseiras, tipo feijão gordo, arroz bem soltinho,
mandioca frita. Quem não vai gostar?
Eu
fazia a pergunta desagradável:
—
Quem vai fritar a mandioca?
Mal
arrumaram o ponto, em uma praia distante, ela descobriu a resposta. Acorda
todos os dias às 4 da manhã para botar o feijão no, tacho. Os cabelos, antes
lavados com xampu, transformaram-se em uma massa envolta em óleo de cozinha. Lá
está ela, a postos, quebrando ovos, fritando, cortando, temperando e brigando
com garçons. Ele se esfalfa no caixa e reclama das costas! Ao se deitarem, moídos
de cansaço, suspiram pelos tempos no asfalto. Iam ao cinema. Liam. Podiam
sentir preguiça! De suspiro em suspiro, a esperança reviveu. Puseram o
restaurante à venda!
Eu
também já tive o sonho. Fui para o sítio de um amigo com o objetivo de comprar
algum em torno. Passamos o dia com o corretor. No primeiro, para chegar à casa
era preciso atravessar o estábulo no meio das vacas, com o risco de levar uma
chifrada. Outro, lindo, repleto de buganvílias, era na beira da estrada. Mais
barulhento que o Minhocão! Dormi no sítio onde fora convidado. Os cachorros
latiram embaixo da minha janela até o amanhecer. Passei a noite desejando estar
nomeio de um belo congestionamento!
Nem tudo está perdido. Finalmente,
descobri uma pessoa que conseguiu realizar o sonho de ser feliz. Uma antiga
colega de escola, Eugênia. Mudou-se para Peruíbe. Trabalha como tradutora.
Escreveu alguns livros. O último narra sua vida na praia, divertida e... bem,
não tão pacífica assim! Morar na praia ou no campo é mel para hóspedes! Durante
as férias sua casa fica invadida por parentes, amigos, amigos dos amigos. Passa
o verão preparando cafés da manhã, almoços, secando toalhas e lavando o chão.
Vive na praia, mas fica aterrorizada diante da chegada do sol. Realizou o
sonho, mas está sempre torcendo pela vinda da chuva e do mau tempo. Que vida!
Já não se fazem sonhos como antigamente! Férias são boas quando são justamente
o que "o nome diz: simplesmente férias!
Entendendo
o texto
01. Qual é o impulso que as
pessoas costumam sentir durante as férias, de acordo com a crônica?
a) Mudar de emprego.
b) Morar fora da cidade.
c) Iniciar um restaurante à beira-mar.
d) Viajar para a selva amazônica.
02. O que aconteceu com o casal
de amigos quando foram sequestrados no sítio em Ibiúna?
a) Pagaram o resgate.
b) Fugiram pela estrada.
c) Os "filhos peludos" lutaram
contra os meliantes.
d) Saltaram pela janela e fugiram pelo
mato.
03. O que a personagem do casal
imaginava ao decidir abrir um restaurante à beira-mar?
a) Passar a vida dando risada.
b) Trabalhar apenas no caixa.
c) Servir comidinhas caseiras.
d) Viajar para uma praia distante.
04. O que ocorreu após o casal
abrir o restaurante à beira-mar?
a) Venderam o restaurante.
b) Tiveram sucesso imediato.
c) Enfrentaram desafios e se cansaram.
d) Mudaram para uma chácara.
05. Qual era a pergunta desagradável feita pelo
narrador ao casal que abriu o restaurante?
a) Quem vai fritar a mandioca?
b) Quem vai cuidar do caixa?
c) Quem vai lavar os pratos?
d) Quem vai comprar os ingredientes?
06. O narrador, ao buscar um
sítio, teve problemas com:
a) Vacas.
b) Cachorros.
c) Buganvílias.
d) Congestionamento.
07. Quem é Eugênia e como ela
realizou seu sonho de viver na praia?
a) Dona de restaurante; abriu um em
Peruíbe.
b) Tradutora; mudou-se para Peruíbe e
escreveu livros.
c) Corretora de imóveis; comprou uma casa
à beira-mar.
d) Chef de cozinha; abriu um restaurante
famoso.
08. Como Eugênia se sente em
relação à vida na praia, de acordo com a crônica?
a) Feliz e tranquila.
b) Atormentada e agitada.
c) Desiludida e arrependida.
d) Realizada e pacífica.
09. O que Eugênia faz durante as
férias em sua casa na praia?
a) Abre um restaurante temporário.
b) Viaja para o campo.
c) Fica aterrorizada diante do sol.
d) Realiza seu sonho de ter paz.
10. Qual é a conclusão do autor
sobre o conceito de férias ao final da crônica?
a) Férias são boas quando há muito sol.
b) Férias são ideais quando se vive no
campo.
c) Férias são simplesmente férias,
independentemente do local.
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