Artigo de opinião: Como ler muito e continuar na mesma
Ulisses Tavares
Dizem que o peixe morre pela boca,
principalmente quando abocanha o anzol crente que era uma deliciosa minhoca.
No sentido figurado, o poeta aqui deu uma
de peixe.
Durante os últimos anos, tenho
defendido que as pessoas devem ler, e muito, e sempre, e o que quiserem ou
gostarem. Com unhas e dentes, advoguei em palestras que é melhor ler pouco do
que nada. E já saí espalhando por aí que mais vale uma leitura tola e fútil que
servirá como treinamento para leituras de mais fôlego, no futuro.
Fui um dos primeiros a louvar a
Internet como ferramenta que forçasse os jovens a, no mínimo, praticarem a
linguagem escrita e despertasse a geração adormecida (como a Pátria, no Hino
Nacional) em berço esplêndido para novos conhecimentos.
Pois é: Eu, em grande medida, estava
errado. Mordi a isca e entalei com o ferrão do anzol da realidade.
Minhas “verdades” não resistem as mais
recentes pesquisas sobre hábitos de leitura e vou esclarecer tudo neste artigo,
porque persistir no erro, mesmo que bem intencionado, é pura burrice.
Primeiro, arriemos do mastro a bandeira
de que, de porcaria em porcaria literária, de livros em livros água-com-açúcar,
aos poucos o leitor ingressaria no mundo vasto mundo da literatura clássica ou
no instigante e complexo universo da literatura contemporânea.
Sei que não apenas eu como muitos
professores esperançosos, apostamos nessa possibilidade.
Infelizmente,
os fatos nos desmentem.
Levantamento de entidades ligados ao
livro, como a CBL, constataram o óbvio: as tiragens dos romances cor-de-rosa,
no Brasil, são de fato gigantescas e avidamente consumidas as centenas dos
milhares nas bancas de jornais.
Maravilha, em princípio.
Só que um dado surpreendente e
assustador emerge da pesquisa: quem lê esse tipo de literatura, continua lendo
imutáveis historinhas de amor pelo resto da vida.
Trocando em miúdos, as jovens e maduras
leitoras sonhadoras desse segmento (uma versão atualizada dos antigos
folhetins) leem muito. E trocando em graúdos, não leem nem se interessam por
nenhum outro gênero ou tipo de livros.
Certamente, não é esse leitor que vai
compor o País de Leitores que nosso romantismo canta nestes tempos
escuros.
Agora, a Internet.
É inegável que os jovens, em especial,
estão trocando o hábito de leitura de jornais, revistas e livros, pela consulta
na telinha digital.
O mercado de livros vendidos nas
livrarias já encolheu pela metade.
E o tempo dedicado à mídia tradicional
(a mídia impressa e televisiva) também caiu 40%.
Um fenômeno com consequências
imprevisíveis mas não assustador, pois quando Gutemberg inventou os tipos
móveis também se achava o fim dos tempos, afinal livros eram copiados à mão.
O que dá o que pensar, e preocupar, é
que os neo-leitores, a geração web, está lendo mais… porém sem nenhum critério.
Os trabalhos escolares estão recheados
de textos catados na internet e… sem contexto!
Parágrafos inteiros de grandes
pensadores são copiados sem citar a fonte.
Os poemas, então, são massacrados
diariamente.
Aquele famoso de Gabriel Garcia
Marques, La Marioneta, que supostamente celebra a vida de um Gabriel a beira da
morte, nunca foi do grande Gabo.
Seu autor é um ventríloquo mexicano,
Johnny Welch, que escreveu o poema para seu boneco!
Em suma, os webeiros estão lendo
qualquer droga e passando pra frente como obras definitivas.
Isso não é conhecimento. É preguiça
pura.
E leitor preguiçoso nunca vai virar um
bom leitor. Como apenas ouvir música estilo sertanejo e quebra-barraco não
é um bom primeiro degrau para se transformar em requintado ouvinte de Bach.
Por incrível que pareça, apenas os
contumazes e fiéis leitores e fazedores de quebra-cabeças (essa categoria
também composta de revistinhas e livrinhos best-sellers), estão no bom caminho
da habilitação a carta de motorista leitor-premium.
Enriquecem seu vocabulário. Lembremos
que sem amplo vocabulário não se chegará a ler e entender nem bulas de remédio
ou anúncios de imóveis.
E, de lambuja, exercitam o cérebro
evitando o mal de Alzheimer.
Acaba meu espaço mas continuam as
coisas aí pedindo para refletirmos juntos. Cartas para a redação. Ler, pensar e
coçar é só começar.
Ulisses
Tavares, poeta, escritor, professor, dramaturgo e filósofo multiuso.
Entendendo o artigo de
opinião:
01 – Qual é a principal
crítica que o autor faz em relação aos hábitos de leitura das pessoas?
O autor critica a
ideia de que a leitura de qualquer tipo de material, mesmo que seja considerado
frívolo, eventualmente levará os leitores a explorar a literatura clássica ou
contemporânea.
02 – Segundo o autor, qual é o
problema das leitoras de romances cor-de-rosa no Brasil?
O problema
apontado pelo autor é que as leitoras desses romances tendem a continuar lendo
apenas histórias de amor e não se interessam por outros gêneros literários.
03 – Como a Internet está
afetando os hábitos de leitura, de acordo com o autor?
A Internet está
levando os jovens a abandonar a leitura de jornais, revistas e livros em favor
de conteúdo digital, e isso está diminuindo o mercado de livros vendidos nas
livrarias.
04 – O que preocupa o autor em
relação à leitura na era digital?
O autor expressa
preocupação com o fato de que os leitores na era digital estão consumindo
conteúdo sem critério, copiando textos da Internet sem contexto e sem citar
fontes, o que ele considera preguiça intelectual.
05 – Qual é a crítica do autor
em relação à leitura na Internet em relação a textos escolares?
O autor argumenta
que os trabalhos escolares estão sendo preenchidos com textos retirados da
Internet sem contexto, e isso é prejudicial para a educação.
06 – De acordo com o autor, o
que é necessário para se tornar um leitor premium?
O autor sugere
que para se tornar um leitor premium, é necessário ser um leitor assíduo, fazer
quebra-cabeças, enriquecer o vocabulário e exercitar o cérebro.
07 – Quais são as consequências
negativas que o autor associa à leitura sem critério na Internet?
O autor acredita
que a leitura sem critério na Internet não resulta em conhecimento genuíno, mas
sim em preguiça intelectual e na disseminação de informações incorretas.
08 – O que o autor sugere ser
o caminho certo para desenvolver bons hábitos de leitura?
O autor sugere
que desenvolver hábitos de leitura sólida envolve a escolha de leituras
significativas, a ampliação do vocabulário e a prática constante da leitura.
09 – O que o autor quer
destacar sobre o papel dos leitores na formação de um "País de
Leitores"?
O autor quer
enfatizar que apenas ler qualquer coisa, sem critério, não contribuirá para a
formação de uma nação de leitores, e é necessário escolher leituras mais
substanciais.
10 – Qual é a mensagem final
do autor para os leitores?
A mensagem final
do autor é incentivar os leitores a refletirem sobre seus hábitos de leitura, a
escolherem leituras mais significativas e a evitarem a leitura sem critério.
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