CONTO: A FESTA NO CÉU
Nelcina
Alves
Ia haver uma festa no céu e o
amigo urubu convidou todos os bichos.
Dona juriti, que era cantora
afamada, foi convocada para animar a festa.
Nesse tempo, o sapo andava em
pé, e era muito farrista. Encontrou- se com a juriti, que estava polindo a
garganta. Logo que viu o sapo, ela começou a zombar dele:
— É, amigo sapo, você não pode
ir à festa do amigo urubu no céu, pois não tem asas! E vai ser uma festança
danada! Mas é só para os bichos que voam. O sapo pediu:
— Oh, amiga juriti, me leva!
— Levo nada. Você é muito
pesado. Quando voltar da festa, eu lhe conto como foi.
O sapo garantiu que não
perderia a festa por nada, e a juriti riu pra danar dele.
No dia da festa, ele arrumou
um jeito de se enfiar na viola do urubu, que era o tocador. O urubu sentiu que
a viola estava pesada, mas não parou para ver o que era, pois, sendo ele o
tocador, não poderia chegar atrasado.
No céu, toda espécie de bicho
de asas estava lá, se alegrando, dançando e comendo muito.
Nisso, para surpresa de todos,
surge o sapo.
O danado comeu, bebeu e dançou
até altas horas. Depois, lembrou-se da volta e, sem que ninguém o visse, se
meteu na viola do urubu.
A festa ainda estava animada e
a juriti, maldosa, achou de provocá-lo:
— Tá todo mundo aqui, só o
sapo não! Tá todo mundo aqui, só o sapo não!
O besta do sapo, em vez de
ficar quieto, achou de colocar a cabeça pra fora da viola e responder:
— Ói eu aqui, óí eu aqui,
aqui, aqui! O urubu, brabo com o engano, pegou o sapo e disse que ia jogá-lo lá
embaixo. Então o sapo pediu que o jogasse na água, mas não jogasse no lajedo (o
lajedo era seu amigo).
O urubu estava com raiva e
disse:
— Eu vou lhe jogar é no
lajedo, seu miserável! E jogou o sapo, que ia caindo e gritando:
— Lajedo, abre os braços!
Abre os braços, lajedo!
O lajedo ouvia, mas não
conseguia entender direito, pois o sapo estava muito alto. Quando foi entender
já era tarde, e o sapo se estatelou em cima dele - Pof!
Aí o sapo quebrou a coluna, e
desse dia em diante não andou mais em pé.
Fonte: Nelcina Alves (Mãe Nelcina). In: Contos e fábulas do
Brasil. Marco Haurélio (Org.). São Paulo: Nova Alexandria, 2011. p. 29-30.
Vocabulário
polindo:
lustrando.
lajedo: piso
revestido de pedras.
Entendendo o texto
01. Releia a frase que inicia
o conto.
a) Das três informações
abaixo, qual delas não está expressa na frase inicial do conto?
⦁ O que
vai acontecer.
⦁ O
lugar do acontecimento.
• Quando vai
acontecer.
b) Como você poderia explicar
a falta dessa informação num conto popular?
A falta de informação sobre o "quando" pode ocorrer porque
muitos contos populares têm um caráter atemporal e mítico, enfatizando mais os
acontecimentos e os personagens do que um contexto temporal específico.
02. Releia o primeiro parágrafo
do conto: Ia haver uma festa no céu e o amigo urubu convidou todos os bichos.
Dona juriti, que era cantora afamada, foi convocada para animar a festa. Nesse
tempo, o sapo andava em pé, e era muito farrista. Encontrou-se com a juriti,
que estava polindo a garganta. Logo que viu o sapo, ela começou a zombar dele:
a) Quem são os personagens da
história?
Amigo urubu, dona juriti, sapo.
b) Qual é a expressão
empregada para caracterizar a juriti?
"Cantora afamada".
c) Quais são as expressões que
caracterizam o sapo?
"Andava em pé" e "era
muito farrista".
d) Retire do texto duas
expressões que indicam tempo.
"Nesse tempo" e "no dia da
festa".
03. Reflita sobre as ações da
juriti, expressas nestes trechos: Logo que viu o sapo, ela começou a zombar
dele. [...] — E vai ser uma festança danada! Mas é só para os bichos que voam.
Além de cantora afamada, o que mais se pode afirmar sobre a juriti?
Além de ser uma cantora famosa, a juriti é mostrada como alguém que
gosta de zombar dos outros, nesse caso, do sapo. Ela se diverte provocando-o,
destacando a ideia de que a festa é apenas para os bichos que voam, excluindo o
sapo.
04. Ao dizer: "E vai ser
uma festança danada! Mas é só para os bichos que voam", a juriti atinge o
seu objetivo: provocar o sapo. Explique por quê.
Ao fazer esses comentários, a juriti pode provocar o sapo, uma vez que
ela ressalta que a festa é exclusiva para os bichos que voam, implicando que o
sapo não está qualificado para participar devido à falta de asas. Isso suscita
o desejo do sapo de provar o contrário e faz com que ele tome ações para
participar da festa.
05. Qual seria a participação
da juriti na festa? E a do urubu?
A juriti seria a cantora da festa, responsável por animar o evento com
suas músicas. O urubu, por sua vez, é classificado como o tocador de viola, o
que sugere que ele seria responsável pela música instrumental.
06. Você acha que o sapo,
mesmo não tendo sido esperado, também contribuiu para o sucesso da festa?
Sim, o sapo contribuiu para o sucesso da festa, pois trouxe um elemento
inesperado e engraçado para o evento. Sua presença e suas ações animaram a
festa de maneira única, acrescentando uma dimensão divertida e inusitada ao
acontecimento.
07. Além de farrista, que
outras características podem ser aplicadas ao sapo? Escolha, entre as
alternativas abaixo, aquelas que estejam de acordo com o texto e justifique
suas escolhas.
a) trapaceiro
b) teimoso
c) ingrato
d) impulsivo
e) animado
Justificativa:
Teimoso: O sapo demonstra teimosia ao insistir
em ir à festa, mesmo após a juriti dizer que ele não poderia participar por não
ter asas.
Ingrato: Ele pode ser considerado ingrato por responder de forma
provocativa à zombaria da justiça, mesmo quando ela estava disposta a contar
como foi a festa.
Impulsivo: Sua decisão de entrar na viola do urubu e de responder à
provocação da juriti mostra impulsividade.
Animado: O sapo demonstra animação ao participar
da festa, comer, beber e dançar.
Uma alternativa "trapaceiro" não se aplica bem ao sapo neste contexto, pois não há
evidência direta de que ele tenha agido com má-fé ou engano.
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