POEMA: OLHOS VERDES
Gonçalves Dias
Eles verdes são:
E têm por usança
Na cor esperança,
E nas obras não.
CAMÕES, Rimas
São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte,
Diz uma – vida, outra – morte;
Uma – loucura, outra – amor.
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz no coração;
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São uns olhos verdes, verdes,
Que podem também brilhar;
Não são de um verde embaçado,
Mas verdes da cor do prado,
Mas verdes da cor do mar.
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como se lê num espelho,
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei vós, ó meus amigos,
Se vos perguntam por mi,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos cor de esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei vós: “Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem esp’rança,
Davam amor sem amar!”
Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mi!
Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!
(1823-1864)
Cancioneiro do amor – Os mais belos versos da poesia brasileira
Antologia organizada por Wilson Lousada
Livraria José Olympio Editora – 2ª edição, 1952.
Fonte:
Livro-Conecte literatura brasileira: William Roberto Cereja/Thereza Cochar
Magalhães- 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p.199/200.
ENTENDENDO
O POEMA
01. Explicar por que, sendo o Romantismo contrário à
tradição clássica, o poema "Olhos verdes" apresenta como epígrafe
versos de Camões.
Os versos que
servem de epígrafe ao poema são escritos na medida velha (redondilhas menores),
métrica de origem medieval e muito apreciada pelos românticos.
02. Comentar a importância dos dualismos - como
vida/morte, loucura/amor - na construção do texto "Olhos verdes" e
confrontá-los com os dualismos barrocos.
Os românticos apreciavam
os dualismos, mas não com a perspectiva conflituosa e cheia de culpa do Barroco,
que opunha o mundo material ao espiritual. Os dualismos românticos visavam
demonstrar o desarranjo interior provocado pela paixão e, muitas vezes pela falta de correspondência amorosa.
03.
Explicar em que consiste o estado de morto-vivo" do eu linco, no poema Olhos
verdes".
O eu lírico sente-se como
um morto-vivo, ou seja, alguém que, embora vivo, morreu interiormente, pois não
é correspondido no amor.
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