Poema: Ser indígena – Ser Omágua
Márcia Wayna Kambeba
Sou filha da selva, minha fala é Tupi.
Trago em meu peito,
as dores e as alegrias do povo Kambeba
e na alma, a força de reafirmar a
nossa identidade,
que há tempo ficou esquecida,
diluída na história.
Mas hoje, revivo e resgato a chama
ancestral de nossa memória.
Sou Kambeba e existo sim:
No toque de todos os tambores,
na força de todos os arcos,
no sangue derramado que ainda colore
essa terra que é nossa.
Nossa dança guerreira tem começo,
mas não tem fim!
Foi a partir de uma gota d’água
que o sopro da vida gerou o povo Omágua.
E na dança dos tempos
pajés e curacas
mantêm a palavra
dos espíritos da mata,
refúgio e morada
do povo cabeça-chata.
Que o nosso canto ecoe pelos ares
como um grito de clamor a Tupã,
em ritos sagrados,
em templos erguidos,
em todas as manhãs!
KAMBEBA, Márcia
Wayna. Ay kakyri Tama. Manaus: Grafisa, 2013.
Fonte: Língua
Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020
– editora Ática – p. 296.
Entendendo o poema:
01 – Por que a voz do eu
lírico pode ser identificada à voz da própria autora? Que efeito essa
identificação provoca na leitura do poema?
A voz lírica se
faz presente já no primeiro verso (“[Eu] Sou
filha da selva, minha fala é
Tupi.”), confirmando-se nos demais. Assim, essa identificação provoca o efeito
de “testemunho”, de uma história vivida que é, nos versos, poeticamente
recriada.
02 – Qual é a principal
ideia desenvolvida pelo eu lírico na segunda estrofe? Explique a partir de
trechos do poema.
A segunda estrofe tem início com o verso:
“Sou Kambeba e existo sim:” – a partir dele, o eu lírico afirma a força de
resistência de seu povo, pois a “dança guerreira tem começo, / mas não tem
fim!”, e apresenta algumas de suas tradições, que estão vivas, pois “na dança
dos tempos / pagés e curacas / mantêm a palavra / dos espíritos da mata”.
Portanto, a principal ideia desenvolvida na estrofe é a afirmação identitária.
03 – A terceira estrofe
expressa um desejo do eu lírico. Qual é esse desejo? De que forma ele expressa
um ideal de resistência dos povos indígenas?
A terceira estrofe expressa o desejo de
que o canto do povo Omágua ecoe pelos ares, como um grito de clamor a Tupã, em
ritos sagrados, em templos erguidos, em todas as manhãs. Esse desejo expressa
um ideal de resistência na medida em que revela o desejo de perpetuação das
tradições (canto, grito de clamor a Tupã, ritos sagrados, templos erguidos) do
povo Omágua ao longo do tempo (em todas as manhãs).
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