Carta: para Eileen – Fragmento
Hospital, Monflorite
Querida Eileen,
Você é realmente uma mulher
maravilhosa. [...] Odeio saber que você está resfriada e se sente abatida.
Também não deixe que façam você trabalhar demais, e não se preocupe
comigo, pois estou muito melhor e espero voltar para o front amanhã
ou no dia seguinte. Felizmente o envenenamento em minha mão não se espalhou e
agora ela está quase boa, embora, naturalmente, a ferida ainda esteja
aberta. Posso usá-la muito bem e pretendo fazer a barba hoje, pela primeira vez
em cinco dias. O clima está muito melhor, uma verdadeira primavera na maior
parte do tempo, a aparência da terra me faz pensar em nosso jardim e me
perguntar se os goiveiros estão florindo. Sim, a resenha de Pollitt foi
muito ruim, embora evidentemente boa como publicidade. Suponho que ele deve ter
ouvido falar que estou servindo na milícia do POUM. Não presto muita atenção
nas resenhas do Sunday Times, pois, como Gollancz anuncia muito lá, eles
não se atrevem a falar mal dos livros dele. Todos foram muito bons comigo
enquanto estive no hospital, visitando-me todos os dias etc. Acho que agora o
tempo está melhorando e posso passar um mês fora sem ficar doente, e
então que teremos descanso, e iremos pescar também, se for possível.
Muitíssimo obrigado por ter enviado as
coisas, querida, mantenha-se bem e feliz. Escreverei novamente em breve.
Com todo o meu amor
Eric
Disponível em: http://revistapiaui.estadao.com.br/materia/espero-sair-comvida-para-escrever/. Acesso
em: 15 dez. 2015. (Fragmento).
Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na
língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição
– São Paulo, 2016 – Moderna – p. 332-3.
Entendendo a carta:
01 – Que notícia a carta
leva a Eileen sobre a saúde do escritor?
A notícia de que Eric se recupera
bem, pois o envenenamento em sua mão não se espalhou.
02 – Que palavra sugere que
Eric (Orwell) não está preocupado com o fato de a ferida em sua mão permanecer
aberta? Justifique.
O uso de naturalmente sugere que ele está ciente de que os ferimentos
costumam demorar a cicatrizar e, portanto, não se preocupa com a
ferida aberta.
03 – Orwell parece
satisfeito com as resenhas de sua obra? Por quê?
Não muito. A
resenha escrita por Pollitt é considerada boa propaganda, embora
critique a obra, e as do jornal Sunday Times, ainda que favoráveis,
são vistas como respostas ao dinheiro gasto com publicidade pelo editor
Gollancz.
04 – Segundo George Orwell,
a resenha escrita por Pollitt é, simultaneamente, boa e ruim. Como os
advérbios empregados sugerem um equilíbrio entre os dois efeitos?
O advérbio muito em “muito ruim”
reforça o efeito negativo, mas o uso de evidentemente antes
de boa, também enfático, mostra
que a resenha é vista positivamente pela involuntária propaganda ocasionada.
05 – O
advérbio realmente, usado na primeira oração, refere-se a um termo ou à
oração inteira? Qual é a função desse advérbio?
O advérbio
refere-se à primeira oração inteira e reforça o elogio a Eileen.
06 – Na frase “Suponho que ele deve ter ouvido falar que
estou servindo na milícia do POUM”, o autor revela maior ou menor certeza
em relação ao que está dizendo nesse trecho da carta? Justifique.
Menor certeza, já
que se trata de uma hipótese.
07 – Reescreva o trecho no
caderno empregando um advérbio capaz de expressar o mesmo grau de certeza ou
incerteza.
Sugestão: Provavelmente
(possivelmente) ele deve ter ouvido falar que estou servindo na milícia do
POUM.
08 – Examine agora este
outro trecho: “Felizmente o
envenenamento em minha mão não se espalhou [...]”. Reescreva-o duas vezes,
deslocando o advérbio felizmente para outras posições possíveis.
O envenenamento
em minha mão felizmente não se espalhou.
O envenenamento em minha mão não se espalhou felizmente.
09 – Por que o uso desse
advérbio contribui para o caráter mais subjetivo do enunciado?
O advérbio felizmente pontua o sentimento do
produtor do texto em relação ao conteúdo expresso.
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