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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

HISTÓRIA: ODISSEIA - SAUDADE DE CASA (FRAGMENTO) - ANA MARIA MACHADO - COM GABARITO

 História: Odisseia – Saudade de casa (Fragmento)

              Ana Maria Machado

        Uma súbita brisa soprou. As brisas se reuniram num vento. O vento se contorceu num vendaval veloz, e o vendaval rodopiou até se tornar um frenesi. As ondas faziam malabarismos com os dozes navios de Odisseu: os que eram erguidos pelas cristas e os que eram puxadas para baixo colidiam casco com casco enquanto subiam e desciam. Os tripulantes olharam aterrorizadas para seus companheiros e todos se viram por um momento contra um céu furioso de raios; no instante seguinte, estavam num vale de brilhante água escura e, logo, envoltos em nuvens de espuma. Ergueram os remos, mas foram lentos demais para baixar as velas, que se rasgaram em pedaços. Seus panos foram tão retorcidas pelo vento que os cordões quase estrangulavam os marujos. Duzentas vozes chamaram pelos deuses, e as preces deslizaram como gaivotas sobre o mar tempestuoso. Por nove dias e nove noites, comeram pão empapado e beberam água da chuva, recolhendo-a com as mãos dos porões dos navios.

        -- Terra!

        -- Onde? Você está mentindo!

        -- Lá! Lá!

        -- É uma nuvem!

        -- É um recife!

        -- É uma ilha!

        -- Seremos levados para longe dela!

        -- Seremos arremessados contra ela!

        -- Seremos esmagados!

        -- Seremos salvos – disse Odisseu em voz baixa e calma –, e devemos agradecer aos deuses por isso.

        Era mesmo o caso de agradecer aos deuses. A tempestade cessou num instante, e eles se viram numa praia ensolarada de areias brancas. Dispersos como restos de um naufrágio, os dozes navios estavam virados de lado, enquanto o mar roçava seus ventres bojudos. Os marujos se apinhavam sobre a areia, e a maioria adormeceu.

        -- Podemos sair à procura de comida? – perguntou Euríloco.

        -- Não querem descansar? – disse Odisseu, surpreso.

        -- Tenho mulher e seis filhos à minha espera em casa, e não tenho a intenção de fazê-las esperar mais do que o necessário, capitão. Já fiquei longe por dez anos.

        -- Muito bem. Mas vá com cuidado. Leve só vinte homens com você: não quero que os habitantes da ilha pensem que somos uma força invasora... e não se metam em nenhuma briga.

Homero. Odisseia. Adaptação de Geraldine McCaughrean; apresentação de Ana Maria Machado. São Paulo: Ática, 2010. p. 11 e 12.

         Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 168-9.

Entendendo a história:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Apinhar: unir.

·        Bojudo: arredondado.

·        Empapado: muito molhado.

·        Frenesi: agitação.

·        Roçar: atritar.

02 – Reescreva a frase substituindo as palavras assinaladas por sinônimos. Observe o contexto de uso delas e, se tiver dúvidas, consulte o dicionário.

        “[...] O vento se contorceu num vendaval veloz, e o vendaval rodopiou até se tornar um frenesi. [...]”.

      O vento se contorceu num vendaval rápido (acelerado), e o vendaval girou até se tornar um desvario.

03 – No texto, a tempestade desencadeia uma complicação. Releia a reação dos tripulantes.

        “[...] Os tripulantes olharam aterrorizadas para seus companheiros e todos se viram por um momento contra um céu furioso de raios. [...].”

a)   Como foi a tempestade?

Muito forte.

b)   De que modo o trecho revela isso ao leitor?

A descrição da reação dos tripulantes e do estado do céu mostra a gravidade da tempestade.

c)   O modo como os fatos são narrados cria que efeito no texto? Esse modo de narrar caracteriza qual gênero textual?

Os fatos narrados levam o leitor a envolver-se com os perigos e mistérios da história e o modo de narrar caracteriza o gênero narrativa de aventuras.

04 – Ainda no primeiro parágrafo, observe:

        “Uma súbita brisa soprou. As brisas se reuniram num vento. O vento se contorceu num vendaval veloz, e o vendaval rodopiou até se tornar um frenesi.”

Mostre de que modo os sintagmas nominais foram indicando a progressão da narrativa e mostrando a mudança de uma situação.

      Primeiro, o narrador fala em brisa, depois brisas que formam um vento, depois o vento virou um “vendaval veloz”, que se transformou em um frenesi. Dessa forma, ele mostrou a chegada da tempestade.

05 – Releia o trecho a seguir e responda às questões.

        “[...] Duzentas vozes chamaram pelos deuses, e as preces deslizaram como gaivotas sobre o mar tempestuoso. [...]”.

a)   O determinante no sintagma “duzentas vozes” cria um efeito de sentido na narrativa. Qual seria esse efeito: Exatidão? Exagero? Dúvida? Explique sua resposta.

O determinante duzentas foi usada para dizer que muitas vozes chamaram pelos deuses. Não foram exatamente duzentas vozes, mas o número alto mostra que foram muitos os que chamaram pelos deuses. O efeito é de exagero.

b)   No contexto da narrativa, qual é o sentido da comparação das preces dos marujos com gaivotas que deslizam?

O sentido é dizer que as preces de nada adiantaram, porque o navio foi atingido pela tempestade.

06 – Examine as sequências a seguir, identificando-as como descritivas ou narrativas. Justifique sua resposta.

I – “Uma súbita brisa soprou. As brisas se reuniram num vento. O vento se contorceu num vendaval veloz, e o vendaval rodopiou até se tornar um frenesi. As ondas faziam malabarismos com os dozes navios de Odisseu [...]”.

II – “[...] Ergueram os remos, mas foram lentos demais para baixar as velas, que se rasgaram em pedaços. Seus panos foram tão retorcidas pelo vento que os cordões quase estrangulavam os marujos. Duzentas vozes chamaram pelos deuses, e as preces deslizaram como gaivotas sobre o mar tempestuoso. Por nove dias e nove noites, comeram pão empapado e beberam água da chuva, recolhendo-a com as mãos dos porões dos navios.”

      A sequência I é descritiva, porque apresenta o ambiente, o cenário da aventura. A sequência II é narrativa, porque conta o encadeamento das ações.

07 – Releia o primeiro diálogo do texto.

a)   É possível saber quais personagens falam? Explique.

Com exceção da fala de Odisseu, as falas não são identificadas, é como se todos os marujos estivessem falando.

b)   Que opiniões são dadas? O que as personagens parecem sentir?

Cada tripulante dá uma opinião diferente. Parecem estar ansiosos.

c)   Em que tempo os verbos são usados no diálogo? Que efeito isso cria?

No presente. Parece que a conversa acontecia realmente naquele momento.

08 – Caracterize o texto em relação.

a)   Ao narrador.

O narrador escreve em 3ª pessoa; é um narrador-observador.

b)   À função do diálogo.

No diálogo, aparecem várias vozes de marujos e apenas uma delas é identificada – a de Odisseu. O diálogo torna a narrativa mais viva e verdadeira, porque parece que as personagens estão realmente conversando e comentando o que lhes acontecerá.

c)   À situação final.

A situação final mostra o fim da tempestade e a chegada dos marujos a uma “praia ensolarada de areias brancas”. Tudo termina bem depois da aventura vivida na tempestade.

 

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