Reportagem: Reduto de difamação na web, Secret faz vítimas em Londrina
Apesar de não ter recebido denúncias formais, Polícia Civil afirma que adolescentes são o principal alvo do aplicativo. Diante da situação, escolas discutem e orientam sobre uso do app com alunos
Disponível no Brasil desde maio deste
ano, o aplicativo Secret começa a fazer as primeiras vítimas em Londrina. De
acordo com os usuários ouvidos pelo JL, as difamações ganharam força em agosto,
especialmente entre adolescentes da cidade. Até a tarde desta terça-feira (12),
a Polícia Civil não havia registrado denúncias formais que envolvam o
aplicativo na cidade. “Mas alguns colégios particulares já nos procuraram para
receber orientações e repassar aos alunos”, conta o investigador-chefe da 10ª
Subdivisão de Polícia Civil, Márcio Ilkiu.
Diante da popularidade do app, algumas
escolas e professores já se adiantaram e levaram a discussão sobre o uso do
aplicativo para a sala de aula. O professor Nilson Castilho, do Colégio Marista
de Londrina, conta que discute em meio à disciplina de Língua Portuguesa a
tecnologia disponível do dia a dia dos alunos.
“Quando comecei a receber relatos sobre
o Secret preparei uma aula para gente debater o aplicativo. O ponto principal
foi reforçar para os alunos que por mais que o aplicativo assegure o anonimato,
não existe identidade preservada na internet. A partir do momento que você se
cadastra, oferece seus dados para o administrador”, lembra o professor.
A estudante Camilla Carine, de 15 anos,
conta que é usuária do Secret, mas que, até agora, não foi citada no
aplicativo. No entanto, Camilla afirma que algumas de suas amigas já foram
vítimas dos comentários que circulam pela internet. “Conheço pessoas vítimas de
cyberbullying diferentes. Tem desde vítimas de mentiras até amigas que tiveram
fotos nuas divulgadas no aplicativo.”
Márcio Ilkiu pontua que assim como em
situações anteriores, os adolescentes são as principais vítimas da difamação
on-line. “No começo do ano tivemos aquele problema das selfies e agora
esse Secret. Não temos estatísticas sobre isso, mas novamente observamos que
esta faixa etária é a mais afetada.”
A professora e coordenadora Márcia
Chireia defende que apesar de, aparentemente, as meninas serem as mais afetadas
pela difamação na internet, a questão atinge a todos. “Existem casos que focam
na sexualidade ou na aparência desses adolescentes. De qualquer forma, ofende e
muito.”
Márcia pontua que a escola e os pais
devem manter o trabalho contínuo de conscientização dos riscos oferecidos na
rede. “Por mais que esses adolescentes vivam conectados parece que eles ainda
não entenderam a proporção da internet, que é a rede mundial de computadores.
Fazer uma foto sensual não é uma questão que vai ficar entre quatro paredes,
mas algo que pode se incansavelmente divulgado.”
Para o professor Castilho, o acesso
fácil e abundante dos adolescentes aos aplicativos é o principal motivo para
que eles sejam vítimas frequentes da difamação on-line. Ele defende que além da
própria escola, os pais devem estar atentos aos aplicativos utilizados pelos
filhos. “Os pais têm que se informar sobre o conteúdo dos aplicativos para
poder instruir os filhos sobre o uso dessa tecnologia. Se o pai desconhece a
finalidade dos aplicativos, não conseguem estabelecer uma política clara de uso
para os adolescentes”, opina.
Cyberbullying pode ser pior que o
bullying “real”, diz psicóloga
Mariana*, de 16 anos, de Porto Alegre,
ficou sabendo por intermédio de amigos que o tamanho do seu nariz tinha virado
assunto no aplicativo Secret. “Fiquei chocada. Me senti mal. Minha autoestima
já é baixa. É uma covardia, uma agressão”, relata a adolescente.
Psicóloga do Grupo de Estudos Sobre
Adições Tecnológicas e do Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da Infância
e Adolescência, Aline Restano destaca que essa fase do desenvolvimento é
marcada pela impulsividade. Ainda em formação, muitas vezes o jovem age sem
pensar, o que na internet pode ter consequências imprevisíveis.
“O cyberbullying é considerado pior do
que o bullying ‘real’ porque as vítimas têm a sensação de que todo mundo sabe,
não adianta mudar de escola ou cidade para ter uma nova chance. O impacto é
muito maior. Algumas se isolam, têm depressão ou até se suicidam”, alerta
Aline.
Superexposição
Entusiasta
das redes sociais por fortalecerem os laços entre famílias e escola, o
professor de Filosofia Betover Santos costuma debater os riscos da
superexposição. Recentemente, aproveitou conceitos previstos no plano de aula
da disciplina, como ética e moral, para orientar turmas de Ensino Médio sobre o
comportamento on-line.
“Quais as consequências daquilo que
torno público? Tudo no mundo virtual, mesmo que anônimo, possui implicações
morais e éticas. As redes exigem uma relação de zelo, cuidado, reciprocidade.
Posso postar qualquer coisa, mas isso está passível de inúmeras interpretações.
Qual o limite do que posso tornar público? O que ainda precisa permanecer no
privado? Quanto mais idôneo, consciente, racional eu for, melhor será o uso da
internet na minha vida”, analisa o professor de Filosofia.
SALVÁTICO, Tatiane. Reduto de difamação na
web, Secret faz vítimas em Londrina. Gazeta do Povo, 19 ago. 2014.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 208-210.
Entendendo a reportagem:
01 – Uma reportagem ou matéria jornalística deve ser
importante para o público a que se destina, envolvendo-o, informando-o e,
muitas vezes, convencendo-o de algo. Para isso, apresenta exemplos ou
depoimentos que podem dar credibilidade ao que é informado.
a) Qual é o tema da reportagem lida?
O uso do aplicativo Secret.
b) O tema da reportagem relaciona-se ao público adolescente. A linguagem utilizada no texto também é destinada a esse público? Explique.
Não. Espera-se que o aluno perceba que, apesar de o tema da
reportagem relacionar-se ao público adolescente, a linguagem do texto é voltada
ao público adulto.
c) De modo geral, qual é o objetivo dessa reportagem?
Convencer o leitor de que o aplicativo Secret é uma ferramenta de
difamação.
d) Na reportagem, aparecem depoimentos de um policial, de uma psicóloga e de alguns professores. Com que intenção o discurso deles foi usado?
Os depoimentos foram usados para embasar ou dar validade ao que é
dito sobre o aplicativo, conferindo credibilidade à matéria.
02 – O título da reportagem
afirma que o aplicativo Secret fez vítimas em Londrina. Essa afirmação é
confirmada no primeiro parágrafo do texto? Explique.
Ela não é confirmada. Ao contrário, no primeiro parágrafo afirma-se
que a Polícia Civil não havia registrado denúncias formais na cidade que
envolvessem o aplicativo.
03 – Segundo o texto, o que
levou as escolas a discutirem e orientarem os alunos sobre o uso do aplicativo?
O fato de os
adolescentes serem o principal alvo de difamação.
04 – De acordo com o professor Nilson Castilho,
por que os adolescentes são as principais vítimas de difamação on-line?
De acordo com o professor, os
adolescentes têm acesso abundante aos aplicativos e isso os torna mais
passíveis de serem vítimas de tais difamações.
05 – Em uma reportagem, é muito comum haver
entretítulos, ou seja, títulos que separam as informações e ajudam o leitor a
organizar sua leitura. Releia o texto que acompanha o entretítulo
“Cyberbullying pode ser pior que o bullying ‘real’, diz psicóloga”. De que
forma o texto justifica a informação trazida pelo entretítulo?
O texto mostra
que o cyberbullying é pior que o bullying real porque a vítima tem a sensação
de que todo mundo sabe sobre seu problema, o que faz com que se sinta ainda
mais humilhada.
06 – Releia o trecho a
seguir:
Márcia
pontua que a escola e os pais devem manter o trabalho contínuo de
conscientização dos riscos oferecidos na rede. “Por mais que esses adolescentes
vivam conectados, parece que eles ainda não entenderam a proporção da internet,
que é uma rede mundial. Fazer uma foto sensual não é uma questão que vai ficar
entre quatro paredes, mas algo que pode ser incansavelmente divulgado.”
a) De acordo com o trecho, por que a escola e os pais devem conscientizar os adolescentes sobre os riscos oferecidos pela rede?
Porque os adolescentes parecem não ter consciência da proporção da
internet, eles parecem desconhecer os riscos da exposição.
b) A opinião de Márcia confirma ou contradiz o que é exposto no texto que acompanha o entretítulo “Superexposição”? Explique.
Essa opinião confirma o que é dito no texto que acompanha o
entretítulo “Superexposição”, porque ambos deixam claro o perigo de se expor
demais.
07 – O que é cyberbullying?
É o bullying, um
crime, que envolve a internet.
08 – Releia as perguntas
feitas pelo professor Betover Santos:
“Quais
as consequências daquilo que torno público? [...]”
“Qual
o limite do que posso tornar público? [...]”
“O
que ainda precisa permanecer no privado?”
· Como você as responderia?
Resposta pessoal do aluno.
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