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sexta-feira, 15 de outubro de 2021

PEÇA TEATRAL: A FUGA - RENATO ARLEM - COM GABARITO

 Peça teatral: A fuga

   Renato Arlem

Maria Lúcia (lugar-tenente)

Helena (chefe)

Jorge (chefe)

Gabi (medrosa)

Lúcia (medrosa)

Joana (quieta)

Mariana (brigona)

Renata

Juliana

Paulo

(Uma casa vazia só com um telefone. O bando chega, menos Paulo e Juliana.)

Helena: É aqui?

Gabi: De quem é essa casa?

Jorge: É do meu pai. Está desalugada.

Joana: E se descobrem?

Helena: Como vão descobrir?

Gabi: E se chamam a polícia?

Jorge: Claro que vão chamar a polícia, mas nunca vão pensar que viemos para uma casa vazia.

Renata: E quando é que a gente vai viajar?

Maria Lúcia: Calma, Renata. Primeiro a gente se instala aqui.

Joana: Minha mãe vai ficar muito nervosa.

Helena: E não é isso que a gente quer? Quando eles ficarem bem velhos a gente telefona e exige respeito.

Joana: Vou telefonar agora.

Jorge: Vai coisa nenhuma. Primeiro o susto. Depois a gente apresenta nossas reivindicações.

Gabi: Não quero, não.

Renata: Nem eu. Quero a minha mãe.

Helena: Olha aqui, menina covarde, se você pegar neste telefone vai se ver comigo.

Joana: Cadê Juliana e o Paulo?

Helena: Devem estar chegando. Olha na janela, anda Gabi.

(Gabi volta.)

Gabi: Lá vêm eles.

(Entram Juliana e Paulo cheios de compras de supermercado.)

Juliana: Legal esta casa.

Paulo: Compramos tudo.

Mariana: Trouxe o meu Toddy?

Paulo: Não. Nescau.

Mariana: Mas eu pedi Toddy.

Paulo: E daí?

Mariana: Você é um chato.

Paulo: Leite, Nescau, pão, chocolate.

Mariana: Me dá um.

Helena: Agora não. Temos que economizar.

Gabi (Gorda.) Quando é o almoço?

Helena: Calma, Gabi. Primeiro vamos nos instalar. Vamos ver a casa.

Gabi: Tô com uma fome!

(Saem Helena, Jorge, Maria Lúcia, Mariana, Juliana e Paulo.)

Lúcia: Não sei o que estou fazendo aqui.

Gabi: Nem eu.

Renata: Vamos fugir?

Lúcia: Helena me mata.

Gabi: Será que isto vai dar certo?

Lúcia: Se os pais da gente caírem, dá.

Renata: Meu pai não vai cair e ainda vai me dar uma surra.

Gabi: O que é que vocês vão pedir?

Lúcia: Vou exigir que papai se case de novo com mamãe.

Renata: Mas isto não vale, nós combinamos. Isto é assunto deles. A gente não pode se meter.

Gabi: Eu vou exigir da minha mãe que ela fique mais em casa.

Renata: Mas por que é que ela tanto sai?

Gabi: Cabelo, unha, jogo, amigas.

Renata: Mas ela não está separada do teu pai, está?

Gabi: Não, isto não. Mas é pior. Está separada da gente. Vive na rua.

Lúcia: À minha, vou exigir que pare de me pôr de castigo quando não estudo. Afinal, não sou mais uma criancinha.

Renata: Ao meu pai, que pare de tanto viajar e depois pare também de fingir que é um pai bom.

Lúcia: O que ele faz?

Renata: Quando chega de viagem começa a beber, a ler jornal e ainda diz que ama a família acima de tudo.

Lúcia: E vocês, que fazem?

Renata: A gente vê logo que é bafo porque ele só pensa em ganhar dinheiro. Bebe, bebe, bebe e dorme. Mamãe diz que ele está cansado e assim ele nunca conversou com a gente. Ignora nossa existência. E compra a gente com ­dinheiro. Por isso é que pude dar mais para o bolo.

Lúcia: Valeu!... O meu, para dizer a verdade, prefere ler jornal a conversar com a gente.

(Voltam os outros.)

Helena: A casa está toda depredada.

Jorge: O único lugar bom é este aqui.

Maria Lúcia: Acho melhor a gente se arrumar aqui mesmo.

Mariana: Cadê o rádio, Jorge?

Jorge: Tá aqui na mochila. Será que dizem alguma coisa?

Mariana: Liga. Tá na hora das notícias.

(Ouve-se música, depois a voz do repórter.)

Repórter: (Alto-falante.) E de novo o caso do desaparecimento de 10 crianças de um dos bairros mais elegantes da cidade. Depois dos comerciais. “Se você se sente presa, incomodada, use Sempre Livre.” E agora ouviremos o apelo de Dona Lúcia, mãe de uma das crianças.

Mariana: É mamãe!

Voz: Estou desesperada. Minha filhinha querida sumiu de casa desde ontem. Não aguento mais. Minha filhinha adorada foi raptada, garanto!

Mariana: Agora sou filhinha adorada! Nunca deu a menor bola para mim. Vivia na rua. Seus clientes eram muito mais importantes.

Todos: Psiu!!!

Repórter: Vai falar o Dr. Souza Aguiar, pai da menina Helena.

Pai: Se é dinheiro que querem estes raptores, pago o que quiserem. Quero minha filhinha de volta.

Helena: Ué, hoje não é dia de jogo? O que é que ele está fazendo no rádio?

Jorge: Desliga isto. (Desligam.)

Juliana: E agora, gente?

Paulo: Deixa eles sofrerem um pouco.

Joana: Minha mãe, garanto que ainda nem reparou. Está ocupada demais com o novo namorado.

Mariana: Os meus vão ter que ver comigo. Me prendem tanto em casa que não vou a uma festa!

Juliana: A minha mãe vai largar meu pai, não é? Pois então vou largar ele também.

Maria Lúcia: Tô com fome.

Helena: Vamos comer.

(Aparece um aluno com uma tabuleta ou o alto-falante anuncia: três dias depois, todos estão caídos pelos cantos, meio desgrenhados.)

Maria Lúcia: Tô com fome.

Renata: Eu também.

Helena: Para de ter fome, Maria Lúcia.

Gabi: Quero ir para casa!

Renata: Quero minha mãe.

Helena: Covardes!

Jorge: É preciso aguentar mais um pouco.

Mariana: E você vai arrumar mais comida, vai?

Jorge: Claro que vou.

Mariana: Com que dinheiro?

Helena: Acabou tudo. Também, vocês comem demais.

Juliana: E você, não?

Gabi: Não quero mais fugir não. Quero meu pai!

Joana: Estou me sentindo mal. Tô com dor de barriga.

Paulo: Essa casa é uma droga. Não sei quem teve essa ideia!

Joana: Quero voltar para minha casa. Quero meu pai, quero minha mãe.

Helena: Mas sua mãe não é uma chata?

Joana: É chata, sim, mas eu quero ela!

Gabi: Estou toda torta. Não aguento mais dormir neste chão. Quero minha cama.

Maria Lúcia: Tô com fome.

Joana: Droga! Droga! Droga!

Jorge: Então vamos telefonar para nossos pais e fazer as reivindicações.

Juliana: Não quero reivindicação nada, quero minha mãe!

Helena: Vou ligar o rádio. (Toca alguma música da moda.)

Jorge: Vamos dançar. (Os dois tentam dançar.)

Mariana: Dançar coisa nenhuma! Quero minha mãe.

(Todos gritam em cima da música.)

Todos: Quero minha mãe!! Quero meu pai! Quero minha casa!

 Machado, Maria Clara. Exercícios de palco. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1996.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 98-102.

Entendendo a peça teatral:

01 – Por que as crianças fugiram de casa? O que reivindicavam?

      Reivindicavam mais atenção dos pais, possibilidade de convivência com eles e mais liberdade.

02 – É possível supor a idade das personagens? Como você chegou a essa conclusão?

      As personagens devem ter uma idade aproximada de 9 a 11 anos. A rádio anuncia o desaparecimento de crianças. O teor da conversa durante a peça auxilia na formação de uma ideia a respeito disso.

03 – É possível afirmar que todas as personagens que falam no texto encontram-se no mesmo espaço físico? Explique sua resposta.

      Não, as crianças estão em uma casa vazia, desalugada, mas, no texto, ainda aparecem falas do repórter e dos pais das crianças desaparecidas, que estão em outro lugar, no estúdio de uma estação de rádio.

04 – Em determinado momento da narrativa, há uma mudança de direção na história. Que mudança é essa? Localize no texto a frase que introduz esse momento.

      Com o tempo, as crianças começam a se cansar da situação e sentem fome e saudade da família. A frase que inicia essa mudança é: “(Aparece um aluno com uma tabuleta ou o alto-falante anuncia: três dias depois, todos estão caídos pelos cantos, meio desgrenhados.)”

05 – Depois dos acontecimentos descritos na história, a que conclusão as crianças chegaram a respeito da vida que levavam com os pais?

      Chegaram à conclusão de que, apesar de tudo, era melhor a vida em casa com os pais do que a aventura.

06 – Em sua opinião, a saída das crianças de casa poderia provocar uma mudança de atitude dos pais e dos filhos? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Se você vivesse problemas parecidos com os das personagens, o que faria para tentar resolvê-los?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Em sua opinião, a que público se dirige essa peça? Por quê?

      A peça se dirige ao público em geral, inclusive aos jovens. Ela tanto interessa aos filhos como aos pais, pois enfoca problemas comuns nas famílias.

09 – Em quanto tempo se passa a história? Que recurso a autora utilizou para indicar esse tempo?

      Três dias. Um aluno entraria no palco com uma tabuleta para anunciar esse tempo ou ele seria informado por um alto-falante.

10 – Nesse texto, é possível identificar claramente algum narrador?

      Não, no texto não há o registro claro de alguém que conta a história.

11 – No texto dramático, para que servem as expressões entre parênteses?

      Elas servem para indicar características, gestos ou ações das personagens, além de detalhes sobre cenário, sonoplastia, etc. 

 

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