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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

CRÔNICA: A DECADÊNCIA DO OCIDENTE - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 CRÔNICA: A DECADÊNCIA DO OCIDENTE

                  Luís Fernando Veríssimo

 O doutor ganhou uma galinha viva e chegou em casa com ela, para alegria de toda a família. O filho mais moço, inclusive, nunca tinha visto uma galinha viva de perto. Já tinha até um nome para ela – Margarete – e planos para adotá-la, quando ouviu do pai que a galinha seria, obviamente, comida.

– Comida?!

– Sim, senhor.

– Mas se come ela?

– Ué. Você está cansado de comer galinha.

– Mas a galinha que a gente come é igual a esta aqui?

– Claro.

Na verdade, o guri gostava muito de peito, de coxa e de asas, mas nunca tinha ligado as partes do animal. Ainda mais aquele animal vivo ali no meio do apartamento.

O doutor disse que queria comer uma galinha ao molho pardo. A empregada sabia como se preparava aquilo? A mulher foi consultar a empregada. Dali a pouco o doutor ouviu um grito de horror vindo da cozinha. Depois veio a mulher dizer que ele esquecesse a galinha ao molho pardo.

– A empregada não sabe fazer?

– Não só não sabe fazer, como quase desmaiou quando eu disse que precisava cortar o pescoço da galinha. Nunca cortou um pescoço de galinha.

Era o cúmulo! Então a mulher que cortasse o pescoço da galinha.

– Eu?! Não mesmo! O doutor lembrou-se de uma velha empregada de sua mãe. A Dona Noca.

– A Dona Noca já morreu – disse a mulher.

– O quê?!

 – Há dez anos.

– Não é possível!

A última galinha ao molho pardo que eu comi foi feita por ela.

– Então faz mais de 10 anos que você não come galinha ao molho pardo.

Alguém no edifício se disporia a degolar a galinha. Fizeram uma rápida enquete entre os vizinhos. Ninguém se animava a cortar o pescoço da galinha. Nem o Rogerinho do 701, que fazia coisas inomináveis com gatos.

– Somos uma civilização de frouxos! – sentenciou o doutor. Foi para o poço do edifício e repetiu:

– Frouxos! Perdemos o contato com o barro da vida!

E a Margarete só olhando.

 VERÍSSIMO, Luis Fernando. A decadência do Ocidente. In: A mesa voadora. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p.98. Adaptado.

Compreensão do texto

     01.  O texto é construído com base nas informações que o cronista colhe nos lugares que percorre cotidianamente. De acordo com isso responda:

a)   Que fato desencadeou os acontecimentos narrados na crônica?

O fato do doutor ter chegado em seu apartamento com uma galinha viva.

b)   Em que parágrafo o autor menciona o acontecimento que derivou esta crônica?

No primeiro parágrafo.

c)   O autor fazia parte da situação narrada ou estava como observador?

Ele estava como narrador-observador.

       02.  Quem são os personagens do fato narrado?

O doutor, o filho mais velho, a empregada, a mulher, Dona Noca, Rogerinho e Margarete (a galinha). 

03 . “A empregada sabia como se preparava aquilo?”

           A palavra destacada no trecho se refere

           a) à civilização de frouxos.

           b) à galinha ao molho pardo.

           c) à receita de Dona Noca.

           d) ao pescoço da galinha.

     04. A repetição da expressão “galinha ao molho pardo” revela a

               a. vontade do médico de comer aquele tipo de receita de galinha.

          b. curiosidade do menino que nunca tinha visto uma galinha viva.

             c. impaciência da esposa por não conseguir resolver o problema.

        d. ignorância da empregada que não sabia fazer a receita.

        e. falta de coragem das pessoas para cortar o pescoço da galinha.

  05. O trecho que expressa o uso de linguagem coloquial é:

       a. “- O doutor ganhou uma galinha viva...”.

       b. “Mas se come ela?”

       c. “A mulher foi consultar a empregada”.

       d. “- Há dez anos.”

       e. “Fizeram uma rápida enquete entre os vizinhos.”

 

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