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domingo, 19 de setembro de 2021

ROMANCE: O MENINO SEM IMAGINAÇÃO - PARTE II - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

 ROMANCE: O MENINO SEM IMAGINAÇÃO parte II

                      Carlos Eduardo Novaes

        [...]

        -- Você não diz que lembra de tudo o que vê na televisão? Então. Feche os olhos e faz de conta que a televisão está dentro de você. Pega os programas que quiser na sua telinha interior.

        Fechei os olhos e só então percebi que lembrava apenas de cenas fragmentadas, nunca dos programas inteiros, como tinham ido ao ar.

        -- O que estiver faltando – disse ela – você completa com sua imaginação!

        Era impossível: eu “via" uma cena ou duas ou três, e quando elas acabavam minha cabeça não sabia para onde ir. Antes que minha irmã começasse a desconfiar da minha falta de imaginação, resolvi parar:

        -- Escuta, mana, não precisa se preocupar comigo. Faz de conta que não estou aqui; faz de conta que só volto quando a televisão entrar no ar. tá?

        [...]

        Na sala todos procuravam fingir indiferença diante da falta de televisão. Papai ouvia música clássica, recolhido ao seu silêncio costumeiro, mas de vez em quando abria um olho na direção da Fantástica sobre o aparador. Titia lia jornal sem mudar de página e volta e meia aproximava o ouvido do radinho de vovô para escutar as notícias. Vovô era o único que parecia realmente despreocupado: de radinho na mão, viajava de volta à sua juventude.

        Mamãe escondia sua ansiedade no telefone, onde se pendurou desde que saiu da mesa. Ela é fanática por telenovelas: vê reprises, lê os resumos dos capítulos, sabe tudo o que vai acontecer e conversa mais com os personagens do que com papai. Depois de mim, ela é a pessoa que passa mais tempo na frente da televisão; diferente de papai, que só aparece para ver esportes, e da mana, que só assiste a esses programas do mundo animal para ficar perguntando se a gente sabe como se reproduz o ornitorrinco.

        -- Tavinho! Tive uma ideia! Corre lã no videoclube do shopping e pega um filme pra gente assistir.

        Eu não suporto fita de vídeo. Ninguém entende como eu, gostando tanto de televisão, detesto essas fitas. Explico: os vídeos não têm vida própria, vivem de explorar a televisão. Minha irmã diz que o videocassete está para a televisão como o boneco do ventríloquo para o ventríloquo. Faltam canais ao vídeo, faltam comerciais, atualidade, variedade e sobretudo a vibração dos televisores.

        A ideia de mamãe, porém, foi muito bem recebida por todos e até Maria surgiu na sala com cara de sono. Acho que na falta de televisão todo mundo sentiu vontade de olhar para a telinha.

        -- Que gênero, mãe?

        Ela tornou a segurar o fone, aflita:

        -- Qualquer um, drama, comédia, policial. Traz uns três! Não, traz cinco! Chama sua irmã para ir com você! Espera! Pega uns dez!

NOVAES, Carlos Eduardo. O menino sem imaginação. 6. ed. São Paulo: Ática, 1997.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 9º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 101-2.

Entendendo o romance:

01 – Dentre todos os personagens, quem mais sofre com a falta da televisão? E quem não sente falta nenhuma dela? Por quê? Justifique sua resposta.

      Tavinho é quem mais sofre com a falta da TV, porque não sabe como passar o tempo de outra forma; e o avô é o que realmente não sente falta nenhuma dela, porque viveu em uma época em que não havia TV e ele aprendeu a se divertir com outras coisas.

02 – Para consolar Tavinho, a irmã decide inventar uma brincadeira. Explique como funciona a brincadeira proposta por ela e como isso poderia ajudar o menino.

      A brincadeira funciona assim: Tavinho faz de conta que engoliu a TV e fica recordando as imagens já vistas em sua mente como se fosse um filme. Dessa forma, ele sentira menos falta e teria a sensação de que a TV estava dentro dele.

03 – Em sua opinião, isso realmente poderia funcionar? E na história, funcionou?

       Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Isso pode funcionar desde que a pessoa consiga usar a imaginação para criar histórias, o que Tavinho não conseguiu.

04 – O autor Carlos Eduardo Novaes publicou o romance “O menino sem imaginação” em 1993. Se o livro fosse escrito hoje, você acha que a TV continuaria sendo a responsável pela falta de imaginação de Tavinho? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: No tempo atual, o celular desempenha esse papel.

05 – Na década de 1990, a televisão era considerada por muitas pessoas uma das principais formas de entretenimento. Em sua opinião, ela continua a ocupar essa posição?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Atualmente, a TV vem perdendo espaço para outras formas de entretenimento, principalmente para a internet.

06 – Desde a época em que o romance foi publicado, surgiram novas possibilidades de entretenimento, principalmente relacionadas à tecnologia. Cite um exemplo de uma forma atual de entretenimento.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sites da internet, jogos on-line, redes sociais, chats, entre outras.

 

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