Romance: Gabriel Ternura (fragmento)
Edson Gabriel Garcia
Momento de ouvir
Gabriel, Rafa e os filhos do homem que
trabalhava no computador entraram para a escola.
O prédio era feio, velho, sujo e
malcuidado. Em nenhum lugar poder-se-ia encontrar maior desmazelo. As paredes
haviam perdido a cor; o reboco, em algumas partes caído, deixava à vista os
tijolos desanimados pelo peso das telhas. Os móveis jaziam sem vontade de
receber as crianças. Mesmo a professora, ranzinza e doente dos pulmões, dava a
impressão de total desarranjo e desinteresse pelo trabalho. Nenhum cartaz ou
mural quebrava o pesado ar de decadência da escola.
Apesar da aparência, eles quiseram
frequentar essa escola.
Logo nos primeiros instantes de
participação na escola, Gabriel estranhou que a professora não conversava nem
olhava para as crianças. Todas estavam quietas, mudas, sem interesse por tudo
que rodeava o ambiente. Tampouco as crianças perguntavam alguma coisa para a
professora. Ele quis saber o motivo e perguntou à mestra:
– As crianças não fazem perguntas nem
precisam saber os porquês?
– Os adultos sabem por elas e seus
manuais trazem tudo pronto e respondido. A elas cabe apenas a tarefa de
conviver uma com a outra.
– Conviver ?! A senhora chama isto de
conviver?? Como?? Alguém aqui sabe quem é o colega do lado e o que ele faz
aqui?
A professora não respondeu ao
comentário-pergunta de Gabriel. Não porque não queria, mas porque não sabia.
Cansada pelo esforço que seu fraco pulmão fizera para responder à pergunta, nem
levantou os olhos para Gabriel.
Gabriel pegou a aquarela e com o pincel
desenhou sobre a mesa um lindo ramalhete de margaridas que ofereceu à
desconfiada professora.
Ela o pegou e agradeceu. Olhou admirada
e com desconfiança para aquelas flores brancas e simpaticamente bonitas.
No instante seguinte, Gabriel deu vida
amarela e azul ao velho prédio da escola. Pintou trepadeiras nas paredes e um
abacateiro carregadinho de frutas na porta de entrada. As plantas davam novo
alento ao ambiente. O ventinho leve do balanço das folhas trazia pequenas doses
de satisfação à criançada ali presente. O verde da trepadeira esparramava-se
nos buracos da parede cobrindo o desânimo dos tijolos. Mas faltava ainda alguma
coisa.
– Os risos, Rafa! – lembrou Gabriel.
Rafa saiu um instante e voltou com os
alegres companheiros do Depósito de Risos: ali estavam, para voltar aos lábios
das crianças, os sorrisos, os risos, as risadas e as gargalhadas. A professora nada
entendia, acostumada que era com o passar monótono e pacato dos dias. Menos
ainda entendeu quando seus discípulos começaram a sorrir à boca aberta e a sala
coloriu-se de um azul suave vindo do rosto de Rafa. Entusiasmada, esquecida dos
pulmões doentes, gritou:
– Oba! Como você fez isto?
– Com amor, professora – respondeu
Gabriel.
– Ah! – fez ela, coçando o birote dos
cabelos, continuando a não entender coisa alguma.
E em meio a toda aquela algazarra de
alegria e colorido, Gabriel abriu o gargalo da garrafa e deixou as bocas
voltarem aos seus donos.
– Por que você sorri azul? Quem é você?
– Por que eu estou sentado aqui? Como vim
parar aqui? Que livro é este? Por que esta cor?
– Por que a professora não conversa?
– Quem manda? Onde? Por quê? Como?
E a escola voltou a sorrir e a
responder às perguntas das crianças. “Isso é muito bom” – pensou Gabriel.
É a escola que começa a responder às
primeiras inquietações espirituais dos futuros homens e criar outras perguntas
que a própria vida responderá.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª Edição São Paulo 2015 p. 86-8
Entendendo o romance:
01 – Como se comporta a
professora?
Ela não tem interesse nos problemas que
aflingem as crianças e não dá sequer oportunidade para elas se relacionarem.
02 – Que linguagem predomina
no texto? Como você chegou a essa conclusão?
Está escrito em
uma linguagem formal, sem o tom coloquial, sem gírias e apresenta um
vocabulário bem-cuidado.
03 – Releia o seguinte
parágrafo, em que se apresentam as descrições da escola e da professora:
“O
prédio era feio, velho, sujo e malcuidado. Em nenhum lugar poder-se-ia
encontrar maior desmazelo. As paredes haviam perdido a cor; o reboco, em
algumas partes caído, deixava à vista os tijolos desanimados pelo peso da s
telhas. Os móveis jaziam sem vontade de receber as crianças.
Mesmo a professora, ranzinza e doente
dos pulmões, dava a impressão de total desarranjo e desinteresse pelo trabalho.
Nenhum cartaz ou mural quebrava o pesado ar de decadência da escola.”
a) No texto há, várias expressões usadas no sentido figurado. Identifique-as.
“Tijolos
desanimados”; “móveis sem vontade”; “pesado ar”.
b) Por que podemos dizer que essas expressões estão em sentido figurado?
Porque as palavras “desanimados”, “vontade” e “pesado” foram usadas
em sentido que vai além do usual, comum, direto.
c) Que efeitos de sentido essas expressões figuradas provocaram no texto?
Essas expressões humanizam a escola, pejorativamente. Os seres
inanimados parecem participar da história e do cenário como se fossem pessoas
tristes, sem vida, desanimadas.
d) A que classe gramatical pertencem as palavras “feio”, “velho”, “sujo” e “malcuidado”, usadas na primeira frase desse parágrafo? Para que servem as palavras dessa classe gramatical?
São adjetivos. Os adjetivos conferem características aos
substantivos.
04 – Esse parágrafo foi
construído para que o leitor visualizasse a escola e a professora. Que tipos de
palavras mais colaboraram para que esse objetivo fosse atingido? Dê exemplos.
As palavras que
caracterizam ou descrevem o ambiente e as pessoas: “feio”, “velho”, “sujo”,
“malcuidado”, “desanimados”, “ranzinza”, “doente”, “pesado”.
05 – O trecho do texto em
destaque é predominantemente descritivo ou narrativo? Justifique sua
resposta.
Ele é descritivo, já que o objetivo é
levar o leitor a imaginar o espaço e a personagem.
Nossa me ajudou muito
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