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terça-feira, 28 de setembro de 2021

ROMANCE: GABRIEL TERNURA(FRAGMENTO) - EDSON GABRIEL GARCIA - COM GABARITO

 Romance: Gabriel Ternura (fragmento)

                Edson Gabriel Garcia

Momento de ouvir

  Gabriel, Rafa e os filhos do homem que trabalhava no computador entraram para a escola.

 O prédio era feio, velho, sujo e malcuidado. Em nenhum lugar poder-se-ia encontrar maior desmazelo. As paredes haviam perdido a cor; o reboco, em algumas partes caído, deixava à vista os tijolos desanimados pelo peso das telhas. Os móveis jaziam sem vontade de receber as crianças. Mesmo a professora, ranzinza e doente dos pulmões, dava a impressão de total desarranjo e desinteresse pelo trabalho. Nenhum cartaz ou mural quebrava o pesado ar de decadência da escola.

        Apesar da aparência, eles quiseram frequentar essa escola.

        Logo nos primeiros instantes de participação na escola, Gabriel estranhou que a professora não conversava nem olhava para as crianças. Todas estavam quietas, mudas, sem interesse por tudo que rodeava o ambiente. Tampouco as crianças perguntavam alguma coisa para a professora. Ele quis saber o motivo e perguntou à mestra:

        – As crianças não fazem perguntas nem precisam saber os porquês?

        – Os adultos sabem por elas e seus manuais trazem tudo pronto e respondido. A elas cabe apenas a tarefa de conviver uma com a outra.

        – Conviver ?! A senhora chama isto de conviver?? Como?? Alguém aqui sabe quem é o colega do lado e o que ele faz aqui?

        A professora não respondeu ao comentário-pergunta de Gabriel. Não porque não queria, mas porque não sabia. Cansada pelo esforço que seu fraco pulmão fizera para responder à pergunta, nem levantou os olhos para Gabriel.

        Gabriel pegou a aquarela e com o pincel desenhou sobre a mesa um lindo ramalhete de margaridas que ofereceu à desconfiada professora.

        Ela o pegou e agradeceu. Olhou admirada e com desconfiança para aquelas flores brancas e simpaticamente bonitas.

        No instante seguinte, Gabriel deu vida amarela e azul ao velho prédio da escola. Pintou trepadeiras nas paredes e um abacateiro carregadinho de frutas na porta de entrada. As plantas davam novo alento ao ambiente. O ventinho leve do balanço das folhas trazia pequenas doses de satisfação à criançada ali presente. O verde da trepadeira esparramava-se nos buracos da parede cobrindo o desânimo dos tijolos. Mas faltava ainda alguma coisa.

        – Os risos, Rafa! – lembrou Gabriel.

        Rafa saiu um instante e voltou com os alegres companheiros do Depósito de Risos: ali estavam, para voltar aos lábios das crianças, os sorrisos, os risos, as risadas e as gargalhadas. A professora nada entendia, acostumada que era com o passar monótono e pacato dos dias. Menos ainda entendeu quando seus discípulos começaram a sorrir à boca aberta e a sala coloriu-se de um azul suave vindo do rosto de Rafa. Entusiasmada, esquecida dos pulmões doentes, gritou:

        – Oba! Como você fez isto?

        – Com amor, professora – respondeu Gabriel.

        – Ah! – fez ela, coçando o birote dos cabelos, continuando a não entender coisa alguma.

        E em meio a toda aquela algazarra de alegria e colorido, Gabriel abriu o gargalo da garrafa e deixou as bocas voltarem aos seus donos.

        – Por que você sorri azul? Quem é você?

        – Por que eu estou sentado aqui? Como vim parar aqui? Que livro é este? Por que esta cor?

        – Por que a professora não conversa?

        – Quem manda? Onde? Por quê? Como?

        E a escola voltou a sorrir e a responder às perguntas das crianças. “Isso é muito bom” – pensou Gabriel.  

        É a escola que começa a responder às primeiras inquietações espirituais dos futuros homens e criar outras perguntas que a própria vida responderá.

 GARCIA, Edson Gabriel. Gabriel Ternura. São Paulo: Loyola, 1982.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª Edição São Paulo 2015 p. 86-8

Entendendo o romance:

01 – Como se comporta a professora?

      Ela não tem interesse nos problemas que aflingem as crianças e não dá sequer oportunidade para elas se relacionarem.

02 – Que linguagem predomina no texto? Como você chegou a essa conclusão?

      Está escrito em uma linguagem formal, sem o tom coloquial, sem gírias e apresenta um vocabulário bem-cuidado.

03 – Releia o seguinte parágrafo, em que se apresentam as descrições da escola e da professora:

        “O prédio era feio, velho, sujo e malcuidado. Em nenhum lugar poder-se-ia encontrar maior desmazelo. As paredes haviam perdido a cor; o reboco, em algumas partes caído, deixava à vista os tijolos desanimados pelo peso da s telhas. Os móveis jaziam sem vontade de receber as crianças.

        Mesmo a professora, ranzinza e doente dos pulmões, dava a impressão de total desarranjo e desinteresse pelo trabalho. Nenhum cartaz ou mural quebrava o pesado ar de decadência da escola.”

a)   No texto há, várias expressões usadas no sentido figurado. Identifique-as.

         “Tijolos desanimados”; “móveis sem vontade”; “pesado ar”.

b)   Por que podemos dizer que essas expressões estão em sentido figurado?

Porque as palavras “desanimados”, “vontade” e “pesado” foram usadas em sentido que vai além do usual, comum, direto.

c)   Que efeitos de sentido essas expressões figuradas provocaram no texto? 

Essas expressões humanizam a escola, pejorativamente. Os seres inanimados parecem participar da história e do cenário como se fossem pessoas tristes, sem vida, desanimadas.

d)   A que classe gramatical pertencem as palavras “feio”, “velho”, “sujo” e “malcuidado”, usadas na primeira frase desse parágrafo? Para que servem as palavras dessa classe gramatical?

São adjetivos. Os adjetivos conferem características aos substantivos.

04 – Esse parágrafo foi construído para que o leitor visualizasse a escola e a professora. Que tipos de palavras mais colaboraram para que esse objetivo fosse atingido? Dê exemplos.

      As palavras que caracterizam ou descrevem o ambiente e as pessoas: “feio”, “velho”, “sujo”, “malcuidado”, “desanimados”, “ranzinza”, “doente”, “pesado”.

05 – O trecho do texto em destaque é predominantemente descritivo ou narrativo? Justifique sua resposta. 

      Ele é descritivo, já que o objetivo é levar o leitor a imaginar o espaço e a personagem.

 

 

 

 

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