Entrevista: Marcos César Pontes, um brasileiro conquista o espaço
Por Gustavo
Klein
Você não vem de uma família rica e
mesmo assim se tornou o primeiro astronauta vindo de um país do Hemisfério Sul.
Como conseguiu direcionar sua formação para esse objetivo?
É, minha família era realmente humilde.
Meu pai era servente do Instituto Brasileiro do Café e minha mãe, escriturária
da Rede Ferroviária Nacional. Eu não teria condições financeiras de pagar uma
boa escola. O que eu fiz? Entrei para o Senai, que considero um serviço
fantástico, e por meio dele consegui um trabalho como aprendiz de eletricista.
Com esse salariozinho que ganhava, pagava um curso de técnico em eletrônica, à
noite.
E
a vida de militar, surgiu como?
Em 1980, me inscrevi para os exames de
seleção da Academia da Força Aérea (AFA). Não podia pagar o colégio e o curso
preparatório e, para estudar, contei com a ajuda de muitos professores do
colégio, que me emprestaram livros. Os exames foram difíceis, mas consegui
passar em segundo lugar em todo o país. Entrei na AFA em 1981 e recebi meu
brevê de piloto e a espada de oficial da Força Aérea em 1984. Aí, então, me
tornei piloto de caça. Depois, em 1989, fui aprovado no processo seletivo do
curso de Engenharia Aeronáutica do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
e, em 1996, seguindo ainda a área acadêmica, me mudei com minha esposa e meu
filho para Monterey, na Califórnia, para fazer Mestrado em Sistemas de
Engenharia. Foi preciso muita persistência, mas eu não acho que tenha nada de
extraordinário, sou uma pessoa como qualquer outra. Acho que essa é a grande
lição que posso passar para os jovens: acreditar e investir em si mesmo,
sonhando e traçando um objetivo para o futuro.
Ser
astronauta é um sonho de infância comum. É o seu caso?
Meu primeiro sonho era ser piloto da
Força Aérea. Sou de Bauru e ia de bicicleta até um aeroporto próximo só pra
ficar vendo os aviões decolando e pousando. Adorava também ver os aviões da
Esquadrilha da Fumaça. E a motivação foi essa, de ser piloto.
[...]
E como você foi chamado para participar
da seleção?
Absolutamente por acaso. E não fui
chamado: na época eu ainda estava fazendo aquele mestrado em Monterey, na
Califórnia, e meu irmão me mandou, por e-mail, um recorte de jornal falando da
seleção de astronautas aqui no Brasil. Todos aqueles sonhos inconscientes
vieram à tona, confesso que já havia dado uma olhada na página da Nasa na
Internet para saber se tinha os requisitos para ser um astronauta.
E
tinha?
Todos, menos um: ser americano. Quando
esse requisito foi retirado, demorei uns trinta segundos para tomar a decisão
(risos).
Quantos
candidatos participaram da seleção?
Foram 40 de todo o Brasil, dos quais
sobraram cinco, que foram fazer a última seleção, uma entrevista lá na Nasa.
Como disse no final da entrevista de seleção… “Imagine como está se sentindo
aquele garoto aprendiz de eletricista só pelo fato de estar participando dessa
seleção!”. O anúncio de minha escolha está entre os momentos de minha vida que
sou capaz de descrever em todos os detalhes.
Qualquer
pessoa pode se candidatar a astronauta?
Existem requisitos ligados à parte
acadêmica, por exemplo, é preciso ter formação acadêmica em Exatas ou
Biológicas: Medicina, Veterinária, Biologia, Engenharia, Matemática, Física,
Química…
[...]
Há um tempo máximo recomendado para
permanência no espaço?
Os astronautas da antiga
estação espacial soviética MIR chegaram a ficar mais de seis meses, mas isso
não é recomendável. Quem passa algum tempo no espaço volta, invariavelmente,
sofrendo de uma descalcificação severa, algo muito próximo da osteoporose, da
qual se recupera a longo prazo. O problema mais grave é o da radiação. Se nosso
trabalho fosse controlado pelos padrões tradicionais, como por exemplo o do
Ministério do Trabalho, depois de uma missão espacial, o astronauta teria que
se aposentar.
[...]
O que é mais importante em uma missão
espacial?
O espírito de equipe verdadeiro é
fundamental. Afinal, sua vida está nas mãos de todos os sete membros, em
momentos diversos. Quando você está lá fora da nave, preso ao braço mecânico,
sua vida depende do responsável por operá-lo, por exemplo. Uma boa equipe tem
que ter motivação, valores comuns, para formar uma identidade, cada membro da
equipe tem que ser confiável. A comunicação entre os elementos do time é
fundamental.
E
o que acontece se o cabo que lhe prende à nave se rompe ou solta?
A roupa que utilizamos tem, atrás, uma
espécie de foguete a base de nitrogênio líquido. Se o cabo se rompe e o
astronauta fica flutuando no espaço, ele precisa se virar na direção da nave e
acionar esse foguete, que dará um empurrão na direção certa. Se a mira do
cidadão estiver ruim e ele passar direto pela nave, ele deve aproveitar bem as
oito horas que dura a bateria que sustenta a pressurização da roupa, para ter
uma visão única do espaço sideral, porque não vai mais voltar.
Quais
são as perguntas mais comuns que lhe fazem?
Por incrível que pareça, todo mundo
gosta de saber como é ir ao banheiro no espaço. E é realmente interessante,
porque em uma situação de gravidade zero, você flutua, tudo flutua.
Como
fazer?
É simples: primeiro, ganchos fixam o
astronauta ao vaso sanitário. Que, por não ter água, funciona por sucção. Há um
buraco e é preciso acertar bem ali dentro, caso contrário suja o vaso e você
mesmo tem que limpar.
E
como acertar o buraco?
Simples: há uma câmera dentro do vaso e
uma tela na frente do astronauta, que controla tudo.
E
quando se está em missão fora da nave?
Ah, aí a coisa funciona da forma mais
básica possível: fraldas. Aliás, a roupa utilizada pelos astronautas é bem
complexa, tem até sistema de refrigeração por meio de água gelada, aquecedores
elétricos, bote, luzes, comida desidratada, é pressurizada e custa a bagatela,
cada uma, de US$ 20 milhões.
[...]
O
senhor tem conhecimento de pesquisas da Nasa envolvendo extraterrestres?
Não sei. Se existem, não tenho
conhecimento, mas tenho consciência de que respondendo assim eu dou margem a
dúvidas como “ele está escondendo alguma coisa”. Não existe, na Nasa, nenhum
treinamento específico sobre o que fazer no caso de toparmos com um extraterrestre
no espaço. O que posso dizer é que, entre os pilares da Nasa, estão a
exploração de novos mundos, descobrimentos científicos e a procura de vida
extraterrestre. Está em um documento oficial da Nasa e, portanto, é um objetivo
efetivo da agência.
Isso
pressupõe que a Nasa acredita que exista vida em outros planetas, não?
Claro. Acredita-se, realmente, que
exista vida extraterrestre, até porque a possibilidade de que exista é muito
maior do que a que não exista. Conhecemos uma parcela tão ínfima do universo!
Mas isso não quer dizer que existam homenzinhos verdes, nos anima qualquer
possibilidade de quaisquer formas de vida, mesmo as mais ínfimas, que existam
ou que tenham existido, seja em Marte ou em qualquer outro lugar. Eu acredito,
mas tenho conhecimento de fotos ou de coisas como Roswell ou a Área 51.
Em
um trabalho que exige tanta técnica e frieza, há espaço para a emoção?
Sempre há espaço para a emoção, e ela é
importante inclusive para uma reação rápida diante de uma situação de
emergência. Na hora em que algo dá errado, a primeira reação é a emocional,
claro, mas os procedimentos estão tão gravados na nossa mente, como um circuito
impresso, que é preciso frieza para fazer o que é preciso sem se deixar contaminar.
Mas em um trabalho que dá a chance de ver a circunferência inteira do planeta e
confirmar por conta própria que a Terra é azul, é impossível não ter emoções.
Fonte: http://www.velhosamigos.com.br/Reportart/reportart33.html.
Acesso em: 23 jan. 2015.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 9º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 178-181.
Entendendo a entrevista:
01 – Que fato pode ter despertado o interesse do site para escolher o
entrevistado?
Provavelmente, o fato de Pontes ser um astronauta
brasileiro reconhecido.
02 – Na primeira pergunta feita ao entrevistado, o jornalista enfatiza
qual assunto?
O assunto é o fato de Marcos ser de uma família
humilde, mas ter se tornado o primeiro astronauta vindo do Hemisfério Sul.
03 – Que pressuposto é revelado pela primeira pergunta do jornalista?
O de que apenas pessoas vindas de
famílias ricas podem se tornar astronautas.
04 – O que há em comum tanto na primeira como na segunda resposta do
entrevistado?
Ambas revelam que o esforço e a dedicação de Marcos
contribuíram muito para suas conquistas.
05 – Marcos Pontes informa que, entre as exigências da Nasa para
selecionar um astronauta, ele só não tinha uma. Qual?
A exigência de ser americano.
06 – Mesmo não sendo americano, Marcos tornou-se um astronauta da Nasa.
Por que isso foi possível?
Porque a agência resolveu deixar de lado o
requisito de “ser americano” e realizou uma seleção de astronautas brasileiros.
07 – Quais são os requisitos acadêmicos exigidos pela Nasa aos
candidatos a astronauta?
É preciso ter formação acadêmica em Exatas ou
Biológicas.
08 – O espírito de equipe é o que Marcos Pontes considera o fator mais
importante em uma missão espacial.
a) Por que ele tem essa opinião?
A opinião dele se explica porque é necessária a
união da equipe, já que a vida de um depende da vida do outro.
b) Segundo ele, como uma equipe cria uma identidade?
Essa identidade é criada a partir de motivação,
valores comuns e confiança um no outro.
09 – Sobre vida extraterrestre, qual é o posicionamento da Nasa, de
acordo com Marcos Pontes?
A Nasa acredita que há a possibilidade de vida fora
da Terra e tem a pesquisa do tema como um de seus objetivos.
10 – Em sua opinião, a trajetória de Marcos Pontes pode ser considerada
inspiradora? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
11 – Entre as exigências da Nasa para os interessados em fazer parte de
seu corpo de astronautas, está a de ser americano.
a) Provavelmente, por que isso acontece?
A Nasa é uma agência americana. É importante
discutir a visibilidade que as conquistas e descobertas da Nasa dá aos Estados
Unidos.
b) Em sua opinião, essa exigência é correta? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
12 – Que aspecto da entrevista você achou mais interessante? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
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