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domingo, 13 de junho de 2021

ARTIGO DE OPINIÃO: O AVANÇO DA TECNOLOGIA - RANIA AL-ABDULLAH - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: O avanço da tecnologia

Rania Al-Abdullah - rainha da Jordânia

Árvores luminescentes plantadas nas calçadas para substituir lâmpadas de rua. Encanamentos de água que monitoram os próprios vazamentos. Braços biônicos comandados pela mente. Protetores bucais que detectam comoções cerebrais. Carros que dispensam motoristas. Essas são algumas tecnologias que se tornarão mais comuns nos próximos dez anos. E não há dúvida de que o ritmo das inovações deve acelerar vertiginosamente à medida que as mentes mais criativas do mundo procurem satisfazer as demandas do nosso apetite insaciável por avanços e um estilo de vida instantâneo, mais rápido, mais barato, mais fácil e melhor - independentemente do que "melhor" possa significar.

Mas quando refletimos sobre o que serão os próximos dez anos devemos nos perguntar: qual é o benefício oferecido por essas tecnologias se elas não podem ser compartilhadas e desfrutadas por todos - especialmente pelas pessoas ou nações que mais necessitam delas? Ou se a falta de segurança e estabilidade impede as pessoas de terem acesso? Em outras palavras, qual é o benefício do progresso tecnológico sem o progresso moral? Resposta: nada mais que uma ilusão de progresso.

Neste exato momento na minha região, o Oriente Médio, homens são decapitados por bruxaria enquanto crianças são forçadas a assistir. Mulheres são escravizadas e abusadas por pertencer a "outra" religião. Cerca de 5 milhões de crianças não frequentam a escola, ignorantes quanto ao seu futuro e o futuro da sua região.

Em outros lugares, as cenas revoltantes em Ferguson e Baltimore nos lembram que embaixo da superfície - e muitas vezes acima dela - a injustiça e o preconceito estão em ebulição nos Estados Unidos. Vimos a intolerância religiosa se manifestar nos massacres do Quênia.

Ainda este ano, mil refugiados em busca de uma vida melhor morreram afogados, em parte por causa da indiferença da comunidade global quanto às suas aflições. Enquanto o progresso for exclusivo e não inclusivo, compartilhado por alguns e não por todos, veremos mais incidentes como esses. E veremos cada vez mais lobos solitários e grupos terroristas como Estado Islâmico, Al Shabad e Boko Haram alimentando o sentimento de injustiça das populações e buscando satisfação deturpada.

Para um progresso real e duradouro precisamos voltar atrás, ao que é essencial. Retornar às raízes de nossa humanidade e aos valores universais que nos ligam um ao outro. E temos de desejar avidamente e buscar incansavelmente esses valores como se fossem um novo smartphone, uma Fitbit ou um novo videogame.

Imagine o poder por trás do simples ato de conhecer outras pessoas diferentes de nós próprios - e nos comunicarmos com alguém de uma religião ou cultura diferentes da nossa. Como seria imensa a compreensão e a compaixão se nos colocássemos no lugar do outro.

Amor de mãe

Sou árabe e muçulmana, mãe de quatro filhos, mas vi com simpatia e aplaudi as ações de Toya Graham, uma mãe negra, quando ela arrancou seu filho dos tumultos em Baltimore e o obrigou a voltar para casa. Sei que não fui a única. O amor de uma mãe é o mesmo em qualquer cultura, religião ou língua. Por acaso Toya é diferente de Ghada, de 40 anos, uma mãe síria de cinco meninas e dois meninos? Seu marido foi morto por um franco atirador, a casa de seus sogros foi saqueada e queimada, suas filhas ameaçadas de estupro e morte e com os serviços de segurança atrás, ela fugiu com seus filhos. No meio da noite, temendo que a luz da lua os delatasse, ela vagou por terrenos acidentados e montanhosos carregando o filho mais novo e o que podia de haveres, até alcançar a fronteira jordaniana. O amor de uma mãe é o mesmo em qualquer cultura, religião ou língua.

É no momento que pensamos que "este poderia ser meu filho" que começamos a nos identificar com os outros e com as esperanças e temores recíprocos. É o impulso que nos leva a assumir a responsabilidade pelo bem-estar recíproco. Esta é a essência da cidadania global e do que significa viver num mundo interdependente: sermos capazes de depender um do outro.

Mas, em algum lugar em nosso mundo que avança velozmente, repleto dos mais recentes gadgets que se tornaram supostos símbolos do "progresso", um número demasiado de pessoas esquece os valores com base nos quais nossa família global é constituída.

Então, como resolver isso? Com um aplicativo chamado "Moralidade", que clicamos diariamente para nos lembrarmos de ser honestos, amáveis e generosos? Ou com um "Valuebit" que colocamos em nosso pulso para contar os pontos de integridade, amor e perdão? Que tal parar, colocar de lado os dispositivos, olhar e ouvir nossos corações e nossas consciências? Nada de muita "conectividade", somente nos conectarmos um com o outro. E se este progresso moral avançar no mesmo ritmo do progresso tecnológico,  este será, de fato, o real progresso.

AL-ABDULLAH, Rania. O avanço da tecnologia. O Estado de S. Paulo, 10 maio 2015. Caderno Internacional, p. A14.


Boxe complementar:

FONTE: Reprodução/www.unicef.org/brazil/pt/br_kent_007.jpg

Rania Al-Abdullah (1970) é rainha da Jordânia, país árabe situado na região do Oriente Médio, que faz fronteira com Síria, Israel, Arábia Saudita e Palestina. A rainha Rania é conhecida por trabalhos em que promove o desenvolvimento cultural e educacional de crianças e jovens. Por esses trabalhos, foi designada Defensora Eminente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Já esteve no Brasil em visita oficial, quando pôde conhecer projetos educacionais desenvolvidos no nosso país para a promoção educacional de crianças.

Entendendo o texto

1. Em que veículo de comunicação o texto foi originalmente publicado?

O texto de Rania Al-Abdullah foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo.

2. Quem seriam os leitores supostos desse texto?

Os leitores do jornal O Estado de S. Paulo são, em geral, adultos, normalmente interessados em informar-se sobre questões e temas da atualidade.

3. Que questão polêmica é discutida no texto de Rania Al-Abdullah?

   A questão polêmica está explícita: "qual é o benefício do progresso tecnológico sem o progresso moral?".

4. Você, como leitor desse texto, consegue posicionar-se em relação a essa questão polêmica? Concorda com a autora ou discorda dela? Por quê? Escreva essas ideias.

Resposta pessoal.

5. Em que parágrafo do texto essa questão polêmica aparece pela primeira vez?

 No segundo parágrafo.

6.Depois de argumentar sobre essa questão, Rania Al-Abdullah a retoma e conclui sua argumentação. Em que parágrafo isso ocorre?

No último parágrafo.

Um comentário:

  1. Um artigo fascinante faz você pensar sobre muitas coisas, mas ainda acredito que as tecnologias modernas tornam a vida mais fácil e não complicada. E o fato de que nem todos podem tornar sua vida mais fácil é apenas um sinal de que toda a população do planeta está se desenvolvendo em ritmos diferentes. Pessoalmente, fico feliz que em nosso tempo, haja uma oportunidade de espionar conversas do whatsapp só com o número e saber com quem a criança está se comunicando e assumir a responsabilidade na hora certa se não for seguro para ela. Afinal, nosso mundo está longe de ser seguro e, se houver uma oportunidade de proteger nossos filhos, isso definitivamente não precisa ser abandonado.

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