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domingo, 27 de dezembro de 2020

CONTO: MEDO DO SACI - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Medo do saci

            Monteiro Lobato

        Pedrinho, naqueles tempos, costumava passar as férias no sítio de Dona Benta, onde brincava de tudo, como está nas Reinações e na Viagem ao céu. Só não está contado o que lhe aconteceu antes da famosa viagem ao céu, quando andava com a cabeça cheia de sacis.

        A coisa foi assim. Estava ele na varanda com os olhos no horizonte, postos lá onde aparecia o verde-escuro do Capoeirão dos Tucanos, a mata virgem do sítio. De repente, disse:

        — Vovó, eu ando com ideias de ir caçar na mata virgem.

        Dona Benta, ali na sua cadeirinha de pernas cotós, entretida no tricô, ergueu os óculos para a testa.

        — Não sabe que naquela mata há onças? — disse com ar sério. — Certa vez uma onça-pintada veio de lá, invadiu aqui o pasto e pegou um lindo novilho da Vaca Mocha.

        — Mas eu não tenho medo de onça, vovó! — exclamou Pedrinho fazendo o mais belo ar de desprezo.

        Dona Benta riu-se de tanta coragem.

        — Olhem o valentão! Quem foi que naquela tarde entrou aqui berrando com uma ferrotoada de vespa na ponta do nariz?

        — Sim, vovó, de vespa eu tenho medo, não nego — mas de onça, não! Se ela vier do meu lado, prego-lhe uma pelotada do meu bodoque novo no olho esquerdo; e outra bem no meio do focinho e outra…

        — Chega! — interrompeu Dona Benta, com medo de levar também uma pelotada. — Mas além de onças existem cobras. Dizem que até urutus há naquele mato.

        — Cobra? — e Pedrinho fez outra cara de pouco-caso ainda maior. — Cobra mata-se com um pedaço de pau, vovó. Cobra!… Como se eu lá tivesse medo de cobra…

        Dona Benta começou a admirar a coragem do neto, mas disse ainda:

        — E há aranhas-caranguejeiras, daquelas peludas, enormes, que devoram até filhotes de passarinho.

        O menino cuspiu de lado com desprezo e esfregou o pé em cima. — Aranha mata-se assim, vovó — e seu pé parecia mesmo estar esmagando várias aranhas-caranguejeiras.

        — E também há sacis — rematou Dona Benta.

        Pedrinho calou-se. Embora nunca o houvesse confessado a ninguém, percebia-se que tinha medo de saci. Nesse ponto não havia nenhuma diferença entre ele, que era da cidade, e os demais meninos nascidos e crescidos na roça. Todos tinham medo de saci, tais eram as histórias correntes a respeito do endiabrado moleque duma perna só.

        Desde esse dia ficou Pedrinho com o saci na cabeça. Vivia falando em saci e tomando informações a respeito. Quando consultou Tia Nastácia, a resposta da negra foi, depois de fazer o pelo-sinal e dizer “Credo!”:

        — Pois saci, Pedrinho, é uma coisa que branco da cidade nega, diz que não há — mas há. Não existe negro velho por aí, desses que nascem e morrem no meio do mato, que não jure ter visto saci. Nunca vi nenhum, mas sei quem viu.

        — Quem?

        — O Tio Barnabé. Fale com ele. Negro sabido está ali! Entende de todas as feitiçarias, e de saci, e de mula-sem-cabeça, de lobisomem — de tudo

        Pedrinho ficou pensativo.

        [...]

 Monteiro Lobato. O Saci. São Paulo: Brasiliense, 1979.

                            Fonte: Português – Palavra Aberta – 5ª série – Isabel Cabral – Atual Editora – São Paulo, 1995. p. 05-07.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbr.pinterest.com%2Fpin%2F312578030383108389%2F&psig=AOvVaw1MSieLUCoUqws0IqfAiV5_&ust=1609165116747000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCMCRxKyt7u0CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo o conto:

01 – “Dona Benta, ali na sua cadeirinha de pernas cotós, entretida no tricô, ergueu os óculos para a testa.” Responda às perguntas abaixo. Se for preciso, consulte o dicionário.

a)   As pernas da cadeira de Dona Benta eram longas ou curtas?

Curtas.

b)   Dona Benta estava entretida no tricô. E você, quando fica entretido? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

02 – “Se ela vier do meu lado, prego-lhe uma pelotada do meu bodoque novo no olho esquerdo [...]”.

a)   Você já viu ou já usou um bodoque? Se a resposta for afirmativa, desenhe um bodoque em seu caderno e mostre a seus colegas que nunca tenham visto um. Diga a eles para que serve um bodoque.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Bodoque é uma estilingue, uma atiradeira; serve para atirar coisas, como pedras.

b)   Reescreva com suas próprias palavras o trecho destacado.

Resposta pessoal do aluno.

c)   Hoje em dia, bodoques ou estilingues não são brinquedos comuns de se encontrar. Na sua opinião, por que os meninos não os usam mais em suas brincadeiras? Eles foram substituídos por outras coisas? Pelo quê?

Resposta pessoal do aluno.

03 – Pedrinho e Dona Benta são as personagens dessa história.

a)   Onde estão as duas personagens?

Na varanda do sítio.

b)   Quem narra a história também é personagem?

Não.

04 – Pedrinho quer caçar na mata virgem. Porém, sua avó mostra-lhe vários perigos existentes nesse local.

a)   Que perigos são esses?

Onças, cobras, aranhas e sacis.

b)   Pedrinho mostra ter medo de todos os perigos da mata? De que ele diz não ter medo? Por quê?

Não. Não tem medo de onça, de cobra e de aranha. Acha que é fácil feri-las ou mata-las.

c)   Você teria medo se tivesse de enfrentar onças, cobras e aranhas? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

d)   Você acha que caçar animais é uma boa ideia? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

05 – Observe o seguinte trecho do texto: “— E também há sacis — rematou Dona Benta. / Pedrinho calou-se.”. Por que Pedrinho se calou nesse momento?

      Porque ele tinha medo de saci.

 

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