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sábado, 7 de novembro de 2020

ROMANCE DE AVENTURA: AS AVENTURAS DE TOM SAWYER - CAP. 34 - MARK TWAIN - COM GABARITO

 ROMANCE DE AVENTURA: As aventuras de Tom Sawyer

                    Capítulo 34

Na manhã que se seguiu ao funeral, Tom levou Huck a um lugar onde não poderiam ser escutados, para terem uma importante conversa. Huck já tinha ouvido tudo a respeito das aventuras de Tom dos lábios do galês e da viúva Douglas, mas Tom disse achar que pelo menos uma coisa eles não lhe haviam contado; era sobre isto que ele queria conversar agora. O rosto de Huck entristeceu-se e ele disse:

– Eu já sei. Você entrou no quarto Número Dois e não encontrou nada lá, senão uísque. Ninguém me contou que tivesse sido você, mas eu sabia que tinha de ser você, assim que ouvi falar na história do uísque; e eu sabia também que você não tinha encontrado o dinheiro, porque você teria dado um jeito de me encontrar, fosse como fosse, e me contar sobre isso, mesmo que você não contasse pra mais ninguém. Tom, alguma coisa me diz que nós nunca vamos poder agarrar aquela grana.

– Mas, Huck, não fui eu. Eu nunca denunciei o dono da pensão. Você sabe que não tinham descoberto nada na hospedaria até o sábado em que eu fui ao piquenique. Você não se lembra que tinha de ficar vigiando naquela noite?

– Ah, sim! Ora, me parece que já passou quase um ano. Foi naquela merma noite que eu fui detrás de Índio Joe até a casa da viúva.

– Você o seguiu?

– Pois segui. Mas você fique quieto e não diga nada. Eu calculo que Índio Joe tinha amigos que ficavam junto com ele. Eu não quero que nenhum desses venha atrás de mim pra me fazer umas malvadezas. Se não tivesse sido por minha causa, a essa altura ele já estava no Texas, claro que sim!

Foi então que Huck contou toda a sua aventura a Tom, na mais estrita confiança, pois este só havia escutado a parte narrada anteriormente pelo galês.

– Bem – disse Huck, retornando ao assunto principal –, seja lá quem for que descobriu o uísque no Número Dois, também descobriu o dinheiro. Calculo que pra nós já se perdeu de um tudo, Tom.

– Huck, aquele dinheiro nunca esteve no quarto Número Dois!

– O quê? – Huck examinou atentamente o rosto de seu camarada.

– Tom, por acaso você pegou o rastro daquele dinheiro de novo?

– Huck, está dentro da caverna!

Os olhos de Huck reluziram como duas brasas.

– Diga de novo, Tom!

– O dinheiro está dentro da caverna!

– Tom – por favor, seja honesto comigo –, está brincando ou é pra valer?

– Estou falando sério, Huck. Nunca falei mais sério em minha vida. Você vai lá comigo, para me ajudar a trazer?

– Com certeza! Quer dizer, eu vou, se estiver em um lugar em que a gente possa pegar ele sem se perder lá dentro!

– Huck, nós podemos pegar o dinheiro sem a menor dificuldade neste mundo!

– Mas isso é ótimo! Por que você pensa que o dinheiro…

– Huck, espere só até que a gente esteja lá. Se nós não acharmos, eu prometo que dou a você meu tambor e tudo o mais que eu tiver nesse mundo. Ah, dou mesmo, palavra!

– Tudo bem, vamos logo. Quer dizer, quando você quer ir?

– Agora mesmo, se você estiver de acordo. Já está forte o suficiente?

– É muito longe a caverna? Eu estou usando as minhas varetas faz uns três ou quatro dias e já estou andando muito bem, até, mas acho que não posso caminhar mais de um quilômetro, um quilômetro e meio de cada vez, Tom. No mínimo é o que eu penso.

– Olha, fica mais ou menos há uns oito quilômetros a partir da entrada, pelo menos do jeito que todo mundo iria. Só que eu vou diferente, Huck. Existe um atalho muito bom que ninguém conhece, exceto eu. Huck, eu levo você até lá de barco, eu mesmo vou remando. Quer dizer, na ida, o barco vai pela corrente mesmo, nem precisa remar; mas na volta, eu venho remando sozinho. Você nem precisa me dar uma mão.

– Então vamos começar agora mesmo, Tom!

– Tudo bem. Vamos precisar de um pouco de pão e de carne, nossos cachimbos, um saco ou dois dos pequenos, duas ou três fiadas de pandorga e algumas dessas coisas novas que eles chamam de fósforos. Vou lhe contar, uma porção de vezes eu desejei ter alguns desses no meu bolso, quando fiquei preso lá dentro.

Um pouco depois do meio-dia, os meninos tomaram emprestado um barquinho de um cidadão que se achava ausente na ocasião, e de imediato puseram-se a derivar com a corrente. Quando eles estavam diversos quilômetros além do “Fundão da Caverna”, Tom disse:

– Agora você vê que esta ribanceira aqui parece completamente igual desde a clareira em que fica a caverna. Não há casas nem serrarias, os arbustos são todos iguais. Mas você está vendo aquela mancha branca lá adiante, onde houve um desmoronamento de terra? Ora, pois esta é uma das minhas marcas. Vamos para a margem agora.

Eles desembarcaram.

– Agora, Huck, deste lugar em que nós estamos parados, você pode tocar no buraco por onde eu saí, basta esticar uma vara de pescar. Veja se consegue encontrá-lo.

Huck examinou todas as cercanias, mas não conseguiu achar nada. Tom orgulhosamente marchou até uma touceira grossa de arbustos de sumagre e disse:

– Olhe só aqui! Olhe bem, Huck, é o buraco mais seguro deste país. Mas você simplesmente fique de boca fechada e não conte nada a ninguém sobre ele. Toda a vida eu quis ser salteador, mas eu sabia que precisava de um esconderijo como este, um lugar muito difícil de ser encontrado, ainda mais por acaso. Agora que nós temos, vamos guardar absoluto segredo, só vamos contar a Joe Harper e a Ben Rogers onde é que fica. [...]

A essa altura, tudo estava preparado e os dois meninos entraram no buraco. Tom ia à frente, Huck mais atrás. Eles foram caminhando até o lugar em que se abria o túnel, então amarraram bem firme um dos barbantes de pandorga e seguiram em frente. [...]

Agora, os meninos começaram a falar em sussurros, porque a quietude e obscuridade do lugar oprimiam-lhes os espíritos. Eles seguiram caminhando em frente e, no devido tempo, entraram e seguiram pelo outro corredor de Tom, até que atingiram o “lugar de pular”. As velas revelaram o fato de que não era realmente um precipício, mas apenas uma ladeira íngreme de argila, com uns oito ou dez metros de altura. Tom murmurou:

– É agora que eu vou lhe mostrar uma coisa, Huck.

Ele levantou sua vela bem alto e disse:

– Olhe o mais longe que puder além daquela curva do caminho. Está vendo aquilo? Lá adiante, naquela rocha grande que está lá no fim. Desenhado com fuligem de vela.

– Tom, é uma cruz!

– Agora, me diga. Onde é que ficava o Número Dois? “Embaixo da cruz”, não era? E foi justamente ali que eu vi Índio Joe carregando uma vela, Huck!

Huck ficou contemplando o sinal místico por algum tempo; e então disse, com a voz trêmula:

– Tom, vamos dar o fora daqui já, já!

– O quê? E deixar o tesouro?

– Sim, deixa aí mesmo. O fantasma de Índio Joe tem de andar por aqui, claro que anda!

– Não, não anda por aqui, coisa nenhuma, Huck. O fantasma dele teria de assombrar o lugar em que ele morreu, lá longe na boca da caverna, a uns oito quilômetros daqui.

– Não, Tom, não tinha, não. O espírito dele ia se pendurar ao redor do dinheiro. Eu sei como é que os espíritos fazem com dinheiro. E você sabe também, tão bem que nem eu!

Tom começou a temer que Huck tivesse razão. Certas dúvidas começaram a se reunir em sua mente. Mas logo a seguir, ocorreu-lhe uma ideia:

– Olhe aqui, Huck, nós dois estamos fazendo papel de bobos! O fantasma de Índio Joe não pode chegar perto daqui, porque, bem lá na parede, existe uma cruz!

O argumento teve seu efeito. Huck ficou convencido.

– Puxa, Tom, eu não tinha nunca pensado nisso!… Mas é claro que é isso mesmo. É sorte nossa, essa cruz que botaram ali. Calculo que podemos chegar até lá e procurar a tal caixa.

Tom foi na frente, cortando degraus grosseiros na argila, à medida que descia. Huck desceu junto a seus calcanhares. Quatro avenidas se abriam junto à pequena caverna em cujo centro estava a grande rocha. Os meninos examinaram três delas e tiveram de retornar sem resultados. Mas encontraram um pequeno nicho no quarto corredor, justamente o que se abria mais perto da base da rocha, com um catre desengonçado, sobre o qual estava amontoada uma pequena pilha de cobertores. Acharam também um par de suspensórios velhos, algumas cascas de toucinho e ossos muito bem roídos de duas ou três aves. Mas não acharam nenhuma caixa com dinheiro. Os rapazes procuraram, pesquisaram e reviraram o lugar, sem resultado algum. Tom disse:

– Ele disse que ficava embaixo da cruz. Ora, este é justamente o lugar que fica mais embaixo da cruz. Não pode estar enterrada embaixo dessa pedra grande. É sólida demais, dura demais, está meio enterrada no chão. Não há lugar para um esconderijo.

Examinaram tudo mais uma vez e depois, sentaram-se no chão, desencorajados. Huck não conseguia sugerir nada. Mas daí a pouco, Tom falou:

– Olhe aqui, Huck: há pegadas e um pouco de sebo de vela sobre o barro de um dos lados desta rocha, mas dos outros lados, não há nada. Agora me explique: por que é assim? Aposto que o dinheiro está embaixo da pedra. Eu vou cavoucar nessa argila.

– Não é uma má ideia, Tom! – disse Huck, muito animado.

O “legítimo canivete Barlow” de Tom saiu imediatamente de seu bolso; ele não tinha cavado mais que dez centímetros quando bateu em madeira.

– Huck! Huck! Você escutou isso?

Huck começou a cavar com as mãos. Logo foram descobertas e removidas algumas tábuas, estas estavam escondendo uma cova natural que se estendia para baixo da rocha. Tom entrou dentro dela e esticou o braço com a vela o mais distante que pôde, e então disse que era um buraco muito grande e não conseguia ver até o fundo da fenda. Decidiu explorá-la. Encurvou-se e passou por baixo da rocha. O caminho estreito descia gradualmente. Ele foi seguindo a senda tortuosa, primeiro para a direita, depois para a esquerda, com Huck logo atrás dele. Em breve, a aleia fazia uma curva fechada. Tom dobrou-a e exclamou:

– Meu Deus do Céu, Huck, olhe aqui!

Era a caixa do tesouro, sem a menor dúvida, ocupando uma pequena abertura lateral, juntamente com uma barrica de pólvora vazia, dois revólveres dentro de coldres de couro, dois ou três pares de mocassins velhos, um cinto de couro e mais uma meia dúzia de artigos sem valor, empapados pela água que brotava das paredes.

– Até que enfim, conseguimos! – exclamou Huck, enfiando as mãos por entre as moedas um tanto azinhavradas. – Meu Deus, nós estamos ricos, Tom!

– Huck, eu sempre soube que nós íamos encontrar o tesouro. É quase bom demais para se acreditar, mas nós acabamos conseguindo, graças a Deus! Mas escute só, não vamos ficar de bobeira por aqui, vamos tirar tudo isso e levar para fora. Deixe ver se eu consigo levantar a caixa.

Devia pesar uns vinte quilos. Tom conseguia levantá-la, mas de uma maneira bastante desajeitada; e não poderia carregá-la confortavelmente.

– Foi o que eu achei – disse ele. – Aquele dia, na casa mal-assombrada, quando eles saíram com esta caixa, vi que estavam carregando uma coisa pesada. Percebi muito bem. Eu tinha toda a razão em trazer aquelas duas bolsas.

Logo o dinheiro estava dentro dos dois sacos e os meninos carregaram para fora da lapa, colocando-os aos pés da grande rocha. [...]

Em breve, eles emergiram da touceira de arbustos de sumagre, olharam muito cautelosamente ao redor, viram que “não havia mouros na costa” e desceram em seguida para o barquinho, onde fizeram um lanche e deram umas baforadas. Enquanto o sol se afundava em direção ao horizonte, eles empurraram a embarcação para o fluxo do rio e puseram-se a remar contra a corrente. Tom foi conduzindo o bote junto à margem, onde a correnteza era menos forte, através do longo crepúsculo de verão, tagarelando alegremente com Huck, até que desembarcaram um pouco depois de escurecer.

– Bem, Huck – determinou Tom –, vamos esconder o dinheiro no sótão do galpão de lenha da viúva Douglas e voltamos de manhã para contar as moedas e dividir. Depois nós encontramos um lugar na floresta para esconder tudo, um lugar bem seguro, que ninguém mais possa achar. Fique quieto aqui tomando conta do botim, enquanto eu corro para pegar a carrocinha de Benny Taylor. Não vou demorar mais que um minuto.

Ele desapareceu e em breve retornou com a carrocinha, colocou os dois sacos de moedas dentro, jogou uns trapos velhos por cima, para não chamar a atenção de ninguém, e iniciou a jornada, puxando a pequena carroça pelo varal. Quando os meninos chegaram à altura da casa do galês, pararam para descansar. No momento em que iam recomeçar a avançada, o galês saiu de casa e falou:

– Alô! Quem são vocês?

– Huck e Tom Sawyer.

– Que bom! Venham comigo, meninos, todo mundo está esperando por vocês. Vamos, apurem, vão na minha frente! Deixem que eu levo a carroça. Ué, mas como está pesada! Pensei que a carga fosse bem mais leve. O que é que vocês colocaram aí dentro? Tijolos ou metal velho? [...]

Twain, Mark, 1835-1910 pseud. As aventuras de Tom Sawyer / Samuel Langhorne Clemens / tradução de William Lagos. – Porto Alegre: L&PM, 2011. (Coleção L&PM POCKET)

Disponível em< http://www.litterarius.com.br/assets/upload/post/As%20Aventuras%20de%20Tom%20Sawyer%20-%20Mark%20Twain(1).pdf > Acesso em 10 de ago. de 2020.

 

1)  Com que finalidade o texto acima foi escrito?

 a)  Narrar fatos do cotidiano, geralmente colhidos no noticiário jornalístico.

b)  Informar o leitor sobre um acontecimento.

c)  Entreter, despertando a imaginação.

d)  Convencer sobre a boa qualidade de um determinado produto.

 

2)  Preencha o quadro:

Qual é o tipo de narrador?

Narrador observador.

Em que tempo acontece os fatos?

Após o meio dia até ao entardecer.

Em que espaço as ações acontecem?

Na caverna e na cidade.

Quais são os personagens da narrativa?

Tom Sawyer e Huckblerry Finn.

 

3)  As aventuras de Tom Sawyer é um romance de aventura. O que diferencia um romance de aventura de outras narrativas em geral? Justifique sua resposta, com elementos do texto.

O romance de aventura contém necessariamente situações de aventura (por mar, terra ou ar), perigos, mistérios e descrições dos lugares e paisagens. No texto lido há a busca do tesouro em uma caverna (terra), os perigos que os personagens enfrentam para achar esse tesouro e a descrição de como era o lugar.

 4)  Nesse texto, há presença de um narrador

 a)  personagem, pois o Tom conta sua própria história.

b)  personagem, porque o Huck narra sua vida.

c)  observador, porque conta a história e ainda faz parte dela.

d)  observador, pois ele apenas narra os fatos sem participar da história.

 

5) Observe este trecho e responda:

 

“Venham comigo, meninos, todo mundo está esperando por vocês. Vamos, apurem, vão na minha frente! Deixem que eu levo a carroça. Ué, mas como está pesada!”

 Dos termos destacados, há predominância de verbos que indicam algo que já aconteceu, está acontecendo ou ainda acontecerão?

Indicam que algo está acontecendo.

 6)  Marque um X na alternativa que justifica o uso do travessão no texto acima.

 a)  Utilização de termos em língua estrangeira.

b)  A fala dos personagens.

c)  Indicação do pensamento das personagens.

d)  Descrição do ambiente.

 

7)  O texto lido apresenta características

   a)  narrativas.

b)  instrucionais.

c)  argumentativas.

d)  descritivas.


Disponível em <http://tudosaladeaula.blogspot.com/2017/08/leia-o-texto-e-responda-as-proximas-10.html> Acesso em 10 de ago. de 2020.

8)  No trecho “[...] Tom entrou dentro dela e esticou o braço com a vela o mais distante que pôde, e então disse que era um buraco muito grande e não conseguia ver até o fundo da fenda. Decidiu explorá-la. Encurvou-se e passou por baixo da rocha. O caminho estreito descia gradualmente. Ele foi seguindo a senda tortuosa, primeiro para a direita, depois para a esquerda, com Huck logo atrás dele. [...]”, as palavras destacadas se referem a quem?

      a)  Huck.

b) Índio Joe.

c) Tom.

d) O galês.


 9) No trecho lido acima, os verbos indicam qual tempo?

Indicam um tempo passado (pretérito)

 10)Observe o trecho a seguir e responda:

 “Tom foi conduzindo o bote junto à margem, onde a correnteza era menos forte, através do longo crepúsculo de verão, tagarelando alegremente com Huck, até que desembarcaram um pouco depois de escurecer.”

 a)   As palavras Tom e Huck estão escritas com iniciais maiúsculas. Qual é a classificação que esses nomes recebem?

        São substantivos próprios.

 b)   Que sentido a expressão “crepúsculo” quer dizer no texto lido?

   Os instantes antes do pôr do sol.

 11)Qual foi a estratégia utilizada por um dos meninos para não se perder na caverna?

Amarraram barbantes de pandorga para se orientarem.

 12)No trecho “Ele desapareceu e em breve retornou com a carrocinha:”, a expressão “em breve” expressa a ideia de

a)  tempo.

b) lugar.

c)  condição.

d)  dúvida.  


 13. No trecho “Meu Deus, nós estamos ricos, Tom!A função do ponto de exclamação é

       a)  questionar.

b)   finalizar uma frase.

        c)    separar palavras.

        d) demonstrar emoção.


 

 

 

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