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domingo, 25 de outubro de 2020

ARTIGO DE OPINIÃO: FALAR, CALAR - LYA LUFT - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: Falar, calar

                                          Lya Luft

        Hoje eu falo de silêncio. Eu, que amo as palavras, hoje fico nos espaços brancos e nas entrelinhas. Fico ausente, estou ausente embora de longe siga pelo milagre da tecnologia tudo o que acontece onde me leem neste instante.

        Ausente presente como tantas vezes tantas pessoas.

        Nas histórias que relato ou invento, hoje não me interessam tanto as tramas e os personagens: somos todos sombras que andam de um lado para o outro, aparecem e desaparecem em quartos, corredores, jardins. Caem de escadas, jogam-se no poço, naufragam como rostos ou ratos.

        A mim seduzem palavras e silêncios, e jeitos de olhar. O formato de uma boca melancólica, ou o baixar de uma pálpebra que esconde o desejo de morrer ou de matar, ódio ou desamparo, hipocrisia, ah, o olhar sorrateiro, o estrábico olhar dos mentirosos.

        A mim interessam as coisas que normalmente ninguém valoriza. Porque o real está no escondido. Por isso escrevo: para esconjurar o avesso das coisas e da vida, de onde nos vem o medo, que impulsiona como a esperança.

        Nas relações amorosas, sou fascinada pela fração de segundo, o lapso mínimo em que os olhares se desencontram e a palavra que podia ser pronunciada se recolhe por pusilanimidade, egoísmo ou autocompaixão. E a cumplicidade se rompe e a gente se sente sozinha.

        O caminho do desencontro é ladrilhado de silêncios, quando se devia falar, e de palavras quando melhor teria sido ficar calado: e a gente sabia, ah, sim, sabia. Pior: é ladrilhado de gestos que não foram feitos quando o outro precisava.

        E no silêncio o peso da omissão, cumplicidade com o erro, se agiganta.

        [...]

Revista Veja, 7/9/2005.

Fonte: Língua Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 136-7.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Esconjurar: afastar ou exorcizar; fazer desaparecer.

·        Pusilanimidade: característica de quem é pusilânime (covarde).

02 – Comparem os períodos, depois façam o que se pede no caderno:

·        “Hoje eu falo de silêncio.”

·        “Eu, que amo as palavras, hoje fico nos espaços brancos e nas entrelinhas.”         

          a)   Classifiquem os períodos em relação ao número de orações.

          O primeiro período é simples e o segundo é composto.

    b)   A autora se caracteriza por meio de uma oração subordinada adjetiva explicativa. Escreva essa oração.

Que amo as palavras.

c)   Qual oração do segundo período:

·        Se opõe à ideia de silencia?

Que amo as palavras.

·        Se refere ao silêncio?

Eu hoje fico nos espaços brancos e nas entrelinhas.

03 – A autora declara que está ausente-presente como tantas pessoas. A palavra ou expressão que melhor indica esse estado é:

a)   Melancolia.

b)   Pusilanimidade.

c)   Silêncio.

d)   Ódio.

04 – Por meio de antíteses, a autora mostra um pouco de sua desilusão. Os pares de palavras que indicam isso são:

a)   Falar x calar.

b)   Ausente x presente.

c)   Aparecem x desaparecem.

d)   Palavras x silêncios.

e)   Tramas x personagens.

05 – A oração subordinada que expressa um fato oposto à ideia da oração principal, confirmando assim as ideias contidas nas questões 2 e 3, é:

a)   “[...] embora de longe siga pelo milagre da tecnologia tudo [...]” (subordinada adverbial concessiva).

b)   “[...] que acontece [...]” (subordinada adjetiva restritiva).

c)   “[...] onde me leem neste instante.” (Subordinada adverbial locativa).

06 – Em seu texto a autora procura explicar o objetivo, a finalidade de sua profissão. A oração subordinada adverbial que indica isso é:

a)   “Porque o real está no escondido.” (Adverbial causal).

b)   “[...] para esconjurar o avesso das coisas e da vida [...]” (Adverbial final).

07 – Leiam a reorganização dos períodos do penúltimo parágrafo:

        “O caminho do desencontro é ladrilhado de silêncios, quando se devia falar, e de palavras quando melhor teria sido ficar calado: e a gente sabia, ah, sim, sabia. Pior: é ladrilhado de gestos que não foram feitos quando o outro precisava.”

        Nesse parágrafo a autora marca os desencontros da vida com momentos. Esses momentos são indicados por orações subordinadas adverbiais temporais. Identifiquem-nas.

      Quando se devia falar; quando o melhor teria sido ficar calado; quando o outro precisava.

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