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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

BIOGRAFIA(FRAGMENTO): UBERABINHA (GRANDE OTELO) - SÉRGIO CABRAL - COM GABARITO

   Biografia: Uberabinhahttp://www.ctac.gov.br/otelo/imagens/1pix.gif
                     Sergio Cabral    

Para se ter uma ideia de quanto Grande Otelo trabalhava na segunda metade da década de 1950, basta que se diga que, em 1957, foram lançados seis filmes com a sua participação: Metido a bacana; Brasiliana; Baronesa transviada; Rio, Zona Norte; De pernas pro ar; e Com jeito, vai. E não era somente cinema: no dia 6 de agosto daquele ano, o produtor e diretor Carlos Machado promoveu na elegante boate Night and Day, no Centro do Rio, a estreia de Mister Samba, um espetáculo que focalizava a vida e a obra de Ary Barroso, que tinha Grande Otelo entre os seus protagonistas.

       Com a casa lotada de cariocas e de turistas vindos de todas as regiões brasileiras e de outros países, ele dividia com Elisete Cardoso, a estrela do show, a interpretação de “Boneca de piche”, um dos grandes êxitos da carreira de Ary. Grande Otelo e Elisete interpretavam essa canção havia vários anos, desde o tempo em que a grande cantora, ainda desconhecida do grande público, recebia a ajuda do amigo. Ele conseguia apresentações em clubes, circos, onde, enfim, houvesse um dinheirinho para socorrê-la naquela fase de tanta dificuldade financeira, para cantarem em dupla “Boneca de piche”.

          Certa noite, o público percebeu que alguma coisa incomodava Grande Otelo. Desaparecera o brilho do seu rosto e a alegria de sempre. Ao cantar os versos “Boneca de piche / Da cor de azeviche”, calou a boca, começou a vomitar em pleno palco e correu para os bastidores. Um médico que assistia ao show levantou-se assustado e correu para o camarim. Depois de aplicar uma injeção de coramina, ensopou um algodão com amônia e levou-o ao nariz do paciente, que protestava com veemência. Poucos minutos depois, com o brilho do rosto de volta, o artista manifestou a intenção de continuar o trabalho.

        – Vou voltar para o palco.

        – Não faça isso. Vamos saber o que você tem – advertiu o médico.

        Otelo não levou a discussão adiante. Esperou apenas que Elisete Cardoso encerrasse a interpretação de “No rancho fundo” para voltar ao palco e dar continuidade ao número exatamente na parte interrompida.

        “Boneca de piche

        Da cor do azeviche…”

          Elisete sorriu feliz e não escondeu a emoção, enquanto o público aplaudia cada verso do delicioso samba de Ary Barroso.

           Terminado o show, o médico voltou ao camarim e os dois saíram pela noite carioca. Divertiram-se muito lembrando de casos que ambos viveram ou testemunharam na primeira infância em São Pedro de Uberabinha, a cidade onde nasceram, situada a 863 metros acima do nível do mar, no nordeste do Triângulo Mineiro. Em 1929, a cidade mudaria o nome para Uberlândia, por sugestão de um dos seus filhos ilustres, João de Deus Faria. O médico, chamado Josias de Freitas, era um menino de dois anos quando Otelo, filho da cozinheira da sua casa, Maria Abadia de Souza, nasceu. Em 1957, Josias vivia no Rio, onde abriu consultório e ganhou muito prestígio como cirurgião; mais tarde, viria a assumir a direção-geral do Hospital Grafée Guinle, que transformou na maior trincheira do país na luta contra a aids.

           Por ter apenas dois anos quando Grande Otelo nasceu, Josias não se lembrava da data exata do nascimento do amigo. Nada de mais, pois o próprio Otelo também ignorava. E por isso acabou inventando uma: o dia e o mês, 18 de outubro, segundo justificava, seriam os mesmos do seu batizado. Já o ano, 1915, inventara mesmo. É que ele nunca recorrera à única fonte possível para conhecer toda a verdade, já que, na época, principalmente numa cidade do interior, quase sempre os filhos do povo deixavam de ser registrados nos cartórios oficiais. Se ele tivesse o cuidado de recorrer ao arquivo da paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Uberlândia, veria no livro número 11, de 150 folhas, com a relação de todos os batizados que deveriam ser realizados entre 1o de janeiro de 1915 e 19 de outubro de 1917, o dia certo em que veio ao mundo. Talvez por sobrar folhas em branco, o livro foi até janeiro de 1918. Na página 108, o registro número 42 dá conta de um batizado realizado pelo vigário da paróquia, cônego Pedro Pezzuto, com os seguintes dizeres: “A vinte e um de janeiro de 1918, batizei o inocente Sebastião, nascido a 18 de outubro do ano passado, filho legítimo de Francisco Bernardo da Costa e de Maria Abadia. Padrinhos: Marcelino Felipe de Campos e Maria de Pina”. Portanto, a versão do futuro ator sobre o seu nascimento estava correta pelo menos em relação ao dia e ao mês, embora não tivessem nada com a data do batizado, que foi dia 21 de janeiro. Ele só errou no ano em que nasceu. Na verdade, era dois anos mais novo, pois, segundo o registro da igreja, nasceu em 1917 e não em 1915, como dizia.

Sérgio Cabral. Grande Otelo: uma biografia. São Paulo: Editora 34, 2007. p. 19-21.

Fonte: Livro Se liga na língua. 9º Ano - Ed.Moderna.1º edição, 2018 – p.117.

Entendendo a biografia:

01 – O produtor da biografia do ator Grande Otelo a iniciou com o relato de um espetáculo.

a)   Qual era o tema desse espetáculo?

A vida e a obra de Ary Barroso.

b)   Que fato inesperado aconteceu durante a apresentação?

Grande Otelo sentiu-se mal e precisou set atendido por um médico.

c)   Como a situação se resolveu?

Um médico aplicou-lhe uma injeção de coramina e o fez inalar amônia, o que permitiu sua volta ao palco.

02 – O relato do show pôs em destaque o médico Josias de Freitas.

a)   Por que ele é importante para o relato da vida de Grande Otelo?

Porque, além de ter ajudado nessa situação específica, o médico fez parte do passado do artista.

b)   Há indícios no texto de que o médico também é uma figura de destaque social? Justifique.

Sim. O médico Josias de Freitas foi diretor-geral do Hospital Grafée Guinle, que foi muito importante na luta contra a aids.

03 – O capítulo transcrito oferece informações sobre a origem do biografado.

a)   Qual é o primeiro nome dele?

Sebastião.

b)   Onde ele nasceu?

Em São Pedro de Uberabinha, atual Uberlândia.

c)   Considerando a verdadeira data de nascimento de Grande Otelo, quantos anos ele tinha em 26 de novembro de 1993, quando faleceu?

76 anos.

d)   Segundo a data que o próprio artista indicava como correta, quantos anos ele teria vivido?

78 anos.

04 – O texto menciona a família de Grande Otelo.

a)   Qual era a condição financeira dessa família?

Era uma família pobre.

b)   Cite dois fatos que justifiquem sua conclusão.

A mãe de Grande Otelo era cozinheira em uma residência, e seu nascimento não foi registrado, como costumava acontecer com a população de baixa renda.

05 – Releia o início do texto.

a)   Que imagem de Grande Otelo o leitor constrói com base no primeiro parágrafo?

A imagem de um homem que trabalhava muito e fazia bastante sucesso.

b)   A relação que o artista mantinha com a cântaro Elisete Cardoso acrescenta outra característica dele. Qual? Justifique.

Revela que Grande Otelo era solidário, porque procurava apresentações para ambos em clubes e circos para que a amiga pudesse ter rendimentos em uma fase de dificuldade financeira.

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