Política de Privacidade

terça-feira, 15 de setembro de 2020

TEXTO: "POR PARTE DE PAI" (FRAGMENTO) - BARTOLOMEU CAMPOS QUEIRÓS - COM GABARITO

 Leia o fragmento extraído do livro “Por parte de pai”

                                 Bartolomeu Campos Queirós

            Debruçado na janela meu avô espreitava a Rua da Paciência,  inclinada e estreita. Nascia lá em cima, entre casas miúdas e se espichava preguiçosa, morro abaixo. Morria depois da curva, num largo com sapataria, armazém, armarinho, farmácia, igreja, tudo perto da escola Maria Tangará, no Alto de São Francisco. Não me lembro onde ficava a casa paroquial e vivia o vigário vestido com batina preta e sapato de verniz e elástico. Em horas certas, operários desciam e subiam a Paciência. Eles se revezavam nos muitos turnos da fábrica de tecidos. Meus avós trabalharam nela, sem muitos embaraços. Escolheram o mesmo horário para dormir e acordar juntos, contavam. Isso foi antes, quando criavam os filhos presos em caixotes, para dar sossego à minha avó nos deveres da cozinha e na lida da casa. Um menino do grupo dizia que educação vinha do berço e eu me sentia mal-educado. [...]

          Todo acontecimento da cidade, da casa, do vizinho, meu avô escrevia nas paredes. Quem casou, morreu, fugiu, caiu, matou, traiu, comprou, juntou, chegou, partiu. Coisas simples como a agulha perdida no buraco do assoalho, ele escrevia. A história do açúcar sumido durante a guerra estava anotada. Eu não sabia por que os soldados tinham tanta coisa a adoçar. Também desenhava tesouras desaparecidas, serrotes sem dentes, facas perdidas. E a casa, de corredor comprido, ia ficando bordada, estampada de cima a baixo. As paredes eram o caderno do meu avô. Cada quarto, cada sala, cada cômodo, uma página. Ele subia em cadeira, trepava em escada, ajoelhava na mesa. Para cada notícia escolhia um canto. Conversa mais indecente, ele escrevia bem no alto. Era preciso ser grande para ler, ou aproveitar quando não tinha ninguém em casa. Caso de visitas, ele anotava o dia, a hora, o assunto ou a falta de assunto. Nada ficava no esquecimento, em vaga lembrança: “A Alice nos visitou às 14 horas do dia 3 de outubro de 1949 e trouxe recomendações da irmã Júlia e do filho Zé Maria, lá de Brumado”.(...).

Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede. A casa do meu avô foi o meu primeiro livro. (...) Apreciava meu avô e sua maneira de não deixar as palavras se perderem.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Por parte de pai. Belo Horizonte: RHJ, 1995.

 

ENTENDENDO O TEXTO

1)   Observe o título do texto e responda às questões.

a)   Você já ouviu essa expressão?

Resposta pessoal.

b)   A expressão “por parte de” significa “partindo de”, “vindo de”. Com base nessa informação, explique título.

O título remete ao parentesco em relação à família do pai.

c)   Na continuação da narrativa, o autor contará que tem medo de descobrir que seu pai não é, de fato, seu pai, mas o medo dele não se resume apenas a perder o pai.

Leia:

[,,,] Meu avô pregava todas as palavras na parede, com lápis quadrado de carpinteiro, sem separar as mentiras das verdades. Tudo era possível para ele e suas letras. Não ser filho do meu pai era perder meu avô. O pesar estava aí. E se isso estivesse no teto, em alguma parte bem alta da casa onde eu só pudesse ler depois de grande?

      Bartolomeu Campos de Queirós. Por parte de pai. Belo Horizonte: RHJ, 1995. p. 18-19.

O substantivo pesar, no contexto, quer dizer “tristeza”, “mágoa”, “desgosto”. Qual era o grande pesar do menino?

Era perder o avô.

d)   Considerando a passagem transcrita no item c e o título da obra, descubra o que é revelado sobre o parentesco entre o autor e o avô dele.

O autor conta sobre seu avô paterno, que pode não ser seu avô biológico.

O apreço do menino pelo avô é tão grande que ele tem medo de perdê-lo.

2)   Releia o sentido da palavra espreitar no dicionário e explique a ação do avô no trecho: “Debruçado na janela meu avô espreitava a Rua da Paciência”.

O avô ficava debruçado na janela observando o movimento da rua, espiando o que acontecia na rua.

3)   Observe a passagem: “Não me lembro onde ficava a casa paroquial e vivia o vigário vestido com batina preta e sapato de verniz e elástico”.

a)   Que expressão indica que o autor esqueceu alguns detalhes de suas recordações?

“Não me lembro”

b)   Do que ele se esqueceu?

Da localização da casa paroquial.

c)   Que detalhes ela conserva na memória?

Os detalhes das roupas e sapatos do vigário.

d)   Em sua opinião, as memórias narradas são recentes ou antigas? Por quê?

Resposta pessoal.

4)   Em: “Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede”.

a)   Identifique as personagens a que se referem os pronomes  eu e ele.

Eu refere-se ao autor, e ele, ao avô.

b)   Qual era a atitude do autor diante das anotações?

Ele inventava histórias.

5)   Identifique a finalidade das paredes da casa para o avô do narrador do texto:

            “As paredes eram o caderno do meu avô.”.

    6)  Marque a passagem em que se percebe a importância das escritas nas paredes, feitas pelo avô, na formação do narrador-personagem:

a) “Era preciso ser grande para ler [...]”.

b) “[...] eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede.”.

c) “A casa do meu avô foi o meu primeiro livro.”.

d) “Apreciava meu avô e sua maneira de não deixar as palavras se perderem.”. 

 

    7)  Assinale a alternativa em que a classe do termo sublinhado não foi corretamente identificada nos colchetes:

a) “Coisas simples como a agulha perdida no buraco do assoalho, ele escrevia.”. [substantivo]

b) “A história do açúcar sumido durante a guerra estava anotada.”. [verbo de ligação]

c) “E a casa de corredor comprido, ia ficando bordada [...]”. [preposição]

d) “Conversa mais indecente ele escrevia bem no alto.”. [adjetivo].

 

8) Observe:

Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede. A casa do meu avô foi o meu primeiro livro.”.

O conectivo destacado instaura uma relação de:

a) adversidade

b) simultaneidade

c) reciprocidade     

d) afetividade

 

9) Justifique o emprego da forma evidenciada em: “Eu não sabia por que os soldados tinham tanta coisa a adoçar.”:

A forma “por que” foi empregada na construção de uma interrogativa indireta.

 

10) Assinale a alternativa em que a razão gramatical, que justifica o acento gráfico da palavra destacada, não foi identificada corretamente:

a) avô [monossílabo tônico]

b) história [paroxítona terminada em ditongo]

c) açúcar [paroxítona terminada em “r”].

d) cômodo [proparoxítona].

 

11) Em “Conversa mais indecente ele escrevia bem no alto.”, o prefixo sublinhado indica:

a) restrição

b) negação

c) exclusão

d) acréscimo

 

12)  Identifique a forma pronominal utilizada para a referência a “meu avô”:

A forma pronominal que retoma “meu avô” é: “ele”.

 

13) Prevalecem no texto as sequências do tipo:

a) expositivo

b) argumentativo

c) descritivo

d) narrativo

 

3 comentários:

  1. Está tudo mal organizado e algumas questões não são nela

    ResponderExcluir
  2. que legal as respostas. Porque eu nem preciso de ficar perguntando a minha mãe!

    ResponderExcluir