Política de Privacidade

terça-feira, 22 de setembro de 2020

CONTO: O MENINO E O CEDRO - ADONIAS FILHO - COM GABARITO

 Conto: O MENINO E O CEDRO

Adonias Filho

      Era de fato maior que um gigante, dez vezes gigante, de tão alto que, no outono, se encontrava com as nuvens. Duzentos metros, a altura. O tronco, de casca cheia de rugas, com as raízes no coração da terra, daria madeira para cem casas. Os galhos imensos, sempre com enormes flores brancas, carregados de folhagem, sombreavam a mata embaixo. [...]

      A guerra, entre Nico e o Vermelho, ainda não terminara. Grilim, quatro dias depois, saberia que o pai não se renderia com facilidade. Nico esperou que o sol subisse no céu e, quando esquentou de alimentar uma queimada, voltou ao cedro. Levou, desta vez, uma enxada e uma garrafa de querosene. Conseguiria com o fogo o que não conseguiria com o machado. Capinou em volta do cedro e, feito o pequeno aceiro, envolveu-o com gravetos que embebeu no querosene. Riscou o fósforo e a fogueira logo cresceu a queimar o cedro por baixo. Não havia como salvar-se e, em um ou dois dias, sem qualquer suporte, cairia. Vendo o fogo tão aceso que já comia o tronco, a fumaça subindo, retornou a casa para esperar o barulhão da queda.

        –– Peça para mil estacas – disse à mulher, já em casa, a lavar as mãos.

        Uma hora depois, sempre a primeira a descobrir as coisas, Manió apurou o faro e sentiu o cheiro da fumaça. Latiu alto e, a saltar, puxou Grilim pelo braço como a mostrar a fumaça que vinha do cedro. Ambos correram, o menino e a cachorra, e viram a fogueira que acabaria por derrubar o Vermelho. O pai, trabalho do pai, o pai sabia como vencer as árvores! Ele, Grilim, não podia permitir aquilo e nem deixar que o cedro caísse. Tinha, pois, que apagar o fogo.

        –– Apagar o fogo, e depressa! – disse, a gritar, para que Manió ouvisse. [...]

        Grilim contornou o oitão da casa para alcançar o rio e, alcançando-o, apanhou o balde que ali ficava, sobre as pedras, onde a mãe lavava a roupa. E, com ele cheio, retornou ao cedro e derramou a água no fogo. Repetiu o trabalho inúmeras vezes, até que viu o fogo esmorecer, enfraquecendo, e apagar-se de uma vez.

        Nico, ao regressar das plantações, foi direto ao cedro. Queria calcular o tempo que o fogo gastaria para jogá-lo no chão. E, dando com o fogo gastaria para jogá-la no chão. E, dando com o fogo apagado, logo achou que aquilo fosse serviço de Grilim. Não pensou um segundo para concluir que um motivo bastante forte prendia o filho ao cedro. Não pedira e não insistira para que não o derrubasse e não fizesse as estacas? A tristeza que dele se apossara, quando decidira derrubar o Vermelho, parecia coisa de feitiço. Não devia, pois, contrariar a vontade do mundo. A alegria do filho, embora precisasse de dinheiro, valia muito mais que todas as moedas de ouro.

        Percebeu, ao entrar em casa, que Grilim, de tão desconfiado, se escondia pelos cantos. [...]

        –– Grilim!

        O menino, muito pálido, se voltou para o pai. Era certo, como a luz do candeeiro, que a bronca explodiria. Manió também se voltou, a cabeça baixa, fingindo que estava assustada. A pergunta de Nico veio em voz leve:

        –– Por que você apagou o fogo?

        –– O Vermelho, pai, é nosso amigo –– Grilim disse, perdendo o medo, a explicar. –– Vosmecê, pai, ainda não entendeu. Ele conhece a gente e ouve tudo o que se fala.

        –– O Vermelho vai ficar ali, de pé, até que Deus assim queira. — E, com a voz um pouco emocionada, pediu: –– Amanhã, logo cedo, diga a ele que peço desculpas.

        Grilim levou a mão aos olhos para enxugar as lágrimas. Não sabia o que dizer e como agradecer. Pensou apenas que o pai era o melhor de todos os homens. Recuou um passo e, com suavidade agora no semblante, recuou outro passo. E, finalmente, disse:

        –– Vamos dormir, Manió.

FILHO, Adonias. O menino e o cedro. São Paulo: FTD, 1993.

Fonte: Língua Portuguesa. Entre palavras – Edição renovada. Mauro Ferreira. 5ª série. Ed. FTD – São Paulo – 1ª edição – 2002. P. 44-7.

Entendendo o conto:

01 – O texto é contado por um narrador ou por um narrador-personagem? Justifique.

      É contado por um narrador, pois ele não participa dos acontecimentos; ele não é nenhuma das personagens que aparecem na história.

02 – Reescreva os acontecimentos na ordem em que ocorrem no texto.

(7) Grilim chorou de emoção ao saber que o cedro não seria cortado.

(3) Manió sentiu o cheiro de fumaça e avisou Grilim.

(1) Nico foi ao cedro levando uma enxada e uma garrafa de querosene.

(5) Nico concluiu que Grilim gostava muito do cedro.

(4) Grilim apagou o fogo carregando água do rio com um balde.

(6) Nico disse a Grilim que o cedro não seria cortado.

(2) Nico juntou gravetos ao redor do cedro, jogou querosene e pôs fogo.

03 – Na seção ouvir, você aprendeu que o cedro é uma árvore que pode ter até trinta metros de altura.

a)   Leia novamente o primeiro parágrafo do texto “O menino e o cedro” e retire dele as afirmações exageradas.

“Maior que um gigante, dez vezes gigante”; “Tão alto que [...] se encontrava com as nuvens”; “duzentos metros, a altura”; “madeira para cem casas”.

b)   Esses exageros revelam as impressões de quem em relação à altura da árvore: do narrador ou do próprio Grilim?

As impressões são do próprio Grilim, que, por ser ainda criança e admirar o tamanho do cedro, pensava que a árvore era muito maior do que na realidade.

04 – Nico, enquanto lavava as mãos, disse à mulher: “— Peça para mil estacas”. O que ele estava querendo dizer com isso?

      Ele estava dizendo à mulher que o cedro era muito grande e que, com a madeira dele, seria possível fazer mil estacas.

05 – Grilim ficou surpreso com o modo como o pai reagiu ao que ele havia feito?

      Grilim pensou que o pai ficaria bravo; no entanto aconteceu algo oposto: Nico falou com calma, prometeu não cortar o Vermelho e aceitou a justificativa do menino.

06 – Que justificativa o menino usou para tentar convencer o pai a não cortar o Vermelho?

      Grilim disse ao pai que o Vermelho era amigo deles, que os conhecia e ouvia tudo o que diziam.

07 – Costuma-se dizer que as situações difíceis e problemáticas que acontecem em nossa vida nos ajudam a crescer, porque nos tornam mais experientes, mais capazes de entender e resolver outras situações.

a)   Na sua opinião, Grilim e Nico cresceram com o conflito que aconteceu entre eles? Por quê?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, porque Nico concluiu que a felicidade do menino era mais importante que o dinheiro.

b)   Procure recordar-se de uma situação que você tenha vivido e que o (a) ajudou a crescer. Conte-a aos colegas.

Resposta pessoal do aluno.

08 – Quando um escritor cria uma história, procura despertar no leitor certas reações (riso, alegria, esperança, medo, etc.). Como você se sentiu ao terminar a leitura desse texto? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

     

Nenhum comentário:

Postar um comentário