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terça-feira, 25 de agosto de 2020

CRÔNICA: A NUVEM - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: A nuvem          

               Rubem Braga

  – Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem reclamar, sem protestar, sem espinafrar! E meu amigo falou da água, telefone, Light em geral, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na rua, etc. etc. etc. Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é que vai aguentar me ler? Acho que o leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.

        Além disso, a verdade não está apenas nos buracos das ruas e outras mazelas. Não é verdade que as amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as cinzas de meu crepúsculo.

        E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão – e seus tradicionais buracos.

(Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana)

Entendendo a crônica:

01 – É correto afirmar que, a partir da crítica que o amigo lhe dirige, o narrador cronista:

a)    Sente-se obrigado a escrever sobre assuntos exigidos pelo público.

b)    Reflete sobre a oposição entre literatura e realidade.

c)    Reflete sobre diversos aspectos da realidade e sua representação na literatura.

d)    Defende a posição de que a literatura não deve ocupar-se com problemas sociais.

e)    Sente que deve mudar seus temas, pois sua escrita não está acompanhando os novos tempos.

02 – Em: “E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! (...)”, o sinal de pontuação utilizado serviu para indicar:

a)    Uma admiração.

b)    Uma pausa.

c)    Uma indagação.

d)    Uma continuação.

03 – De acordo com o texto, qual a explicação que o cronista deu por ter deixado de reclamar?

a)    Por ele estar doente.

b)    Por estar estudando outras coisas.

c)    Porque se continuasse reclamando ninguém aguentaria ler mais suas crônicas.

d)    Porque suas crônicas não estavam sendo publicadas.

04 – No trecho: “... eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem ilusão”, o termo sublinhado se refere:

a)   Ao transporte.

b)   Ao telefone.

c)   Ao custo de vida.

d)   Ao carinho.

05 – Segundo o texto, o que o autor quis dizer quando mencionou o termo “grávido de razões”:

a)   Não tinha razão.

b)   Estava cheio de razões.

c)   Suas razões não eram boas.

d)   A razão não era suficiente.

06 – Com relação ao gênero do texto, é correto afirmar que a crônica:

a)    Parte do assunto cotidiano e acaba por criar reflexões mais amplas.

b)   Tem como função informar o leitor sobre os problemas cotidianos.

c)    Apresenta uma linguagem distante da coloquial, afastando o público leitor.

d)   Tem um modelo fixo, com um diálogo inicial seguido de argumentação objetiva.

e)   Consiste na apresentação de situações pouco realistas, em linguagem metafórica.

07 – Em: “E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga”, o narrador:

a)   Chama a atenção dos leitores para a beleza do estilo que empregou.

b)   Revela ter consciência de que cometeu excessos com a linguagem metafórica.

c)   Exalta o estilo por ele conquistado e convida-se a reverenciá-lo.

d)   Percebe que, por estar velho, seu estilo também envelheceu.

e)   Dá-se conta de que sua linguagem não será entendida pelo leitor comum.

08 – Atente para as seguintes afirmações:

I – A fala do amigo, na abertura do texto, revela que ele atribui a um cronista profissional a função de se pronunciar o mais criticamente possível diante dos dramas existenciais maiores que afligem a humanidade.

II – O cronista supõe que seus leitores não esperam que ele se dedique a protestar o tempo todo, deduzindo-se daí que ele considera a possibilidade de uma crônica adotar uma tonalidade mais leve.

III – O escritor se vale dessa crônica, para sustentar a convicção de que a maior parte de seus textos corresponde perfeitamente à expectativa de seu amigo.

Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em:

a)   I e II.

b)   I e III.

c)   II e III.

d)   I.

e)   II.

 

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