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sábado, 11 de julho de 2020

CRÔNICA: MÃE É CONTRADIÇÃO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

Crônica: Mãe é contradição  

                Walcyr Carrasco

        Mãe sofre, essa é a verdade. Secretária de diretoria de uma grande empresa, ela vivia suspirando:

        — De que adianta ser mãe, se não tenho tempo para ficar com meus filhos?

        Penou para conseguir férias ao mesmo tempo que as crianças. Refugiou-se em um hotel-fazenda, O marido só comparecia nos fins de semana. Ela passou quinze dias em êxtase, vendo os três pimpolhos, de pendores artísticos, atléticos e científicos, torrarem a energia no gramado ou aprendendo a andar a cavalo. Só um momento de choque: quando Joãozinho começou a espirrar. Tinha alergia a ar puro.

        — Que mundo é esse em que vivemos? – chocou-se.

        Voltou para a cidade mais gorda (o bufê self-service do hotel era irresistível). Beijou o marido longamente:

        — Finalmente, vamos ter vida de família!

        Sentou-se no sofá, tirou os sapatos, aninhou-se. As três gracinhas não tinham, porém, nenhum talento para se comportar como aves num poleiro. Em minutos, ela descobriu, horrorizada. Que a energia gasta nos gramados seria agora exaurida no carpete. A menorzinha entrou na sala dançando. Estudava balé, a artista, O marido aplaudiu, enquanto a pequena graça apresentava pliés e jetés em frente da televisão. Ela percebeu que ia perder o melhor capítulo da novela, mas conformou-se. Qual a mãe que não se curva perante o talento da filha?

        — Que linda essa roupinha de cigana! Onde você arrumou?

        — Minhas gravatas de seda! — gritou o marido, executivo de alto nível.

        Realmente: recortadas, as gravatas faziam um belo efeito. Mal tiveram tempo de se refazer da surpresa: o cientista apareceu com um litro cheio.

        — O perfume que eu inventei!

        Uma delícia. Nem poderia deixar de ser, O aspirante a químico tinha misturado todas as fragrâncias francesas que ela, a duras penas, comprara no shopping. Nem teve tempo de gritar. Ouviu-se um barulho no banheiro, correram todos: a do meio tinha se cortado ao tentar fazer a barba. Sim, a barba! O pai quis explicar, durante o curativo:

        — Menina não tem barba!

        — Mas eu quero ter!

        — Ai, meu Deus! - gemeu a mãe.

        Os pais foram se deitar exaustos, as maravilhas reclamando que era cedo. No dia seguinte o marido começou a chegar mais tarde. Dava um jeito de ficar trabalhando até as crianças estarem cansadas. Ela resistiu, apavorada.

        — E quando eu voltar a trabalhar?

        Retomou esgotada. O chefe, um francês irritadiço, dava pito ao vê-la distraída, preocupada. Passava o dia em linha direta com a empregada.

        — O Joãozinho fez um doce de banana, pimenta. ketchup e chocolate, e diz que vai comer. E se ele morre?

        — A menorzinha só quer salsicha com Coca-Cola, nada de arroz e feijão!

        — A do meio está tomando banho faz duas horas e não quer sair!

        Voltava para encontrar uma dançando no seu colchão, outra brincando no elevador do prédio. Quase se ajoelhou quando a empregada ameaçou ir embora porque o garoto quis criar uma aranha num aquário. O chefe reclamou que ela não saía do telefone. O marido, que o apartamento tinha virado uma bagunça. Lamentava-se.

        — Que férias demoradas!

        Cada vez que ouvia a expressão “volta às aulas”, sorria de satisfação. Com alívio, acertou a velha rotina: acorda cedíssimo, faz o café, se maquia e se penteia. Leva a menorzinha de carro para a aula de balé, enquanto os outros vão no ônibus escolar. Foge no almoço para deixar os maiores no curso de inglês. Uma amiga com quem faz revezamento os recolhe. Volta à noitinha e prepara o jantar. Em casa, todos são unânimes, sua comida dá de dez na da empregada. Passa as camisas do marido, pois a doméstica “nunca acerta o colarinho”, e ele, afinal, é um executivo de futuro. Quando vê os olhinhos dos pimpolhos apertados de sono. Sente ondas de felicidade.

        — Finalmente, posso descansar!

        Mentira. Não tem coragem de falar, mas pensa:

        — Eu, trabalhando o dia todo! As crianças na escola! Quando é que vamos ter uma vida em família?

        Já sonha com o fim do ano:

        — Ah, que saudades das férias!

        Ser mãe é uma eterna contradição.

Walcyr Carrasco

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, a mãe passa o dia todo no trabalho, o marido só aparecia nos fins de semana e as crianças na escola. Ela pensava em ter pelo menos um momento:  

a)   Com o marido.

b)   Com os filhos.                                                  

c)   Em família.

d)   De descanso. 

02 – No trecho “Ela passou quinze dias em estado de alegria, vendo os três pimpolhos, de pendores artísticos, atléticos e científicos, torrarem a energia no gramado ou aprendendo a andar a cavalo.” A expressão “ESTADO DE ALEGRIA” pode ser substituída por:

a)   Êxtase.

b)   Arrebatar.                                                             

c)   Encolerizar.

d)   Absorver.

03 – O que gerou a situação conflituosa da história foi:

a)   A mãe não ter tempo para ficar com os filhos.

b)   A mãe passar o dia todo fora da casa.

c)   O marido só aparecer nos fins de semana.

d)   Os filhos passarem o tempo todo na escola. 

04 – No trecho “Ai, meu Deus!” Essa fala é de qual personagem?

a)   Do narrador. 

b)   Do pai.                                                   

c)   Da mãe.

d)   Da empregada.

05 – O assunto do texto é:

a)   Mãe é insubstituível.

b)   A saudade dos filhos.                                        

c)   Vida em família.

d)   Ausência dos pais.

06 – No trecho “Cada vez que ouvia a expressão “volta às aulas”, sorria de satisfação”, o uso da expressão em destaque revela:

a)   A rotina.

b)   O alívio.                                                             

c)   A alegria.

d)   O enfado.

07 – A expressão “Vê os olhinhos dos pimpolhos apertados de sono”, essa expressão significa:

a)   Descanso.

b)   Felicidade.                                                        

c)   Comodidade.

d)   Afeto.

08 – O trecho que há uma passagem irônica é: 

a)   Penou para conseguir férias ao mesmo tempo que as crianças.

b)   As três gracinhas não tinham, porém, nenhum talento para se comportar como aves num poleiro.

c)   Joãozinho começou a espirrar.

d)   A menina queria ter barba.

09 – A mãe resolveu tirar férias com os filhos porque:

a)   A distância entre mãe e filhos parecia se resolver desta forma.

b)   Era a forma de se estar mais em família.

c)   Queria compensar sua ausência de mãe.

d)   Queria nesse momento está mais perto dos filhos.

10 – A finalidade desse texto é:

a)   Mostrar a falta que os pais fazem no convívio e educação dos filhos.

b)   Mostrar que a falta dos pais não comprometem na educação dos filhos.

c)   Mostrar que os filhos hoje crescem longe dos pais.

d)   Mostrar que os filhos vivem mais com a empregada do que com os pais.

11 – A tese defendida no texto é:

a)   Que a distância dos pais pode comprometer na educação dos filhos.

b)   Passar as férias juntos como os filhos é uma forma de resolver esse problema.

c)   Viver mais em família é uma forma de acompanhar o crescimento dos filhos.

d)   Consolidar trabalho e família, para viver mais perto dos filhos.

12 – Qual a tese argumentada no texto que sustenta a decisão tomada pela mãe em tirar férias com os filhos?

a)   A mãe junto com os filhos sente-se feliz, descansa com eles e vê dispender suas energias.

b)   Para acompanhar o momento de lazer e as travessuras dos filhos.

c)   Para se sentir mãe e vê os filhos dispenderem suas energias.

d)   Para matar a saudade do convívio com os filhos e a vida em família.

13 – Para você, o que é ter uma “Vida de família”? Hoje, a maioria das pessoas tem esse tipo de vida? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

                                           Fonte: https://comunicaoeexpresso.blogspot.com

 


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