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quarta-feira, 24 de junho de 2020

CRÔNICA: A VERDADE - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: A Verdade

                Luís Fernando Veríssimo

    Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margaridas.

    O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:

        – Agora me lembro, não era um homem, eram dois.

        – E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem e o encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse:

        – Então está com o terceiro!

        Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.

        – Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo e a deixou desfalecida – gritaram os aldeões. – Matem-no!

        – Esperem! – gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. – Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu!

        E apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.

        O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo “Já que meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor”. E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.

        Todos se viraram contra a donzela e gritaram: “Rameira! Impura! Diaba!” e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço.

        Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:

        – A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?

        O pescador deu de ombros e disse:

        – A verdade é que eu achei o anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador.

 Conto, Literatura Brasileira, Luís Fernando Veríssimo.

Entendendo a crônica:

01 – Por que você acha que a donzela nem tentou desmentir o homem? O que você faria no lugar dela?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Que mensagem o texto transmite?

      Que a mentira é algo ruim e reprovável, trazendo sempre consequências. Não existe tamanho de mentira; mentira é sempre mentira.

03 – Justifique as aspas utilizadas neste trecho: “Rameira! Impura! Diaba!”

      Foram usadas para realçar os xingamentos das pessoas para a donzela.

04 – Copie do texto um exemplo de polissíndeto, explicando seu raciocínio.

      “... Depois a donzela tirara a roupa e pedira e pedira que ele possuísse...”.

      Polissíndeto – consiste em repetir uma conjunção coordenativa.

05 – Você defende, em algum momento, a mentira? Ela deve ser usada em alguma ocasião? Comente.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Em que pessoa verbal o narrador conta o fato?

      Em terceira pessoa do singular e o narrador é narrador-observador.

07 – Quais são os personagens envolvidos no texto?

      A donzela, o pai, o irmão e os três suspeitos assaltantes.

08 – Em que parágrafo o autor menciona o acontecimento que derivou esta crônica?

      No primeiro parágrafo.

09 – Antes de morrer, o que a donzela disse para o pescador?

      “—A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está afinal, a verdade?”

10 – Quais características pertinente ao gênero crônica podemos encontrar neste texto?

·        Narrativa curta.

·        Linguagem simples e coloquial.

·        Poucos personagens.

·        Espaço reduzido.

 

 


Um comentário:

  1. Preciso de 3 exemplo negativo e 3 positivo sobre "Pai" "Donzela" e o pescador

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