Texto: Moda Podrão
Roupas de segunda mão e tênis remendados compõem o visual largado dos
adolescentes
Nos anos 70 foi a romântica fase do
bicho-grilo, com muita sandalinha de couro, vestido de chita, cabelão, barba e
bolsa. Em 90, foi a vez da era grunge, nascida com as bandas de Seattle,
Washington – camiseta rota, tênis furado e cabelo ensebado tornaram-se
obrigatórios. Agora, uma mistura desses visuais domina alguns redutos de jovens
de classe média e de elite, colocando em alta o estilo sujo e pobre de ser. Não
há apenas uma classificação possível para a tendência. Ripongas, esbagaçados ou
largados, eles vão na direção oposta das patricinhas e playboys. Dizem abominar
shopping centers, roupas de grife e consumismo. Integrantes de várias tribos,
muitos garimpam sua indumentária em lojas nas galerias do centro das grandes
cidades e em brechós. A facção esbagaçada, formada por garotos entre dez e
quatorze anos, de boné, bermudas imensas e tênis remendados com silver-tape (um
durex largo prateado), também não é muito chegada a água e sabão, gerando entre
pais e familiares o sugestivo apelido de “podrões”. “É uma luta convencê-los a
tomar banho”, diz Marina Cardoso, mãe de Tiago, doze anos, que insiste em usar
camiseta por duas semanas. Na porta do colégio Rudolf Steiner, no bairro
paulistano do Brooklin, os amigos Paolo, Vitor, Tayguara, Fernando e Miguel,
todos de treze anos, explicam que o banho faz parte de sua rotina, mas
escasseia no período de férias. “Aí, a gente também tira férias de banho”, diz
Miguel fragues, vestido como os outros, com o uniforme padrão: bermuda big,
tênis lesado e remendado com silver-tape e camiseta amarfanhada. “A gente é
normal, os outros é que são estranhos”, resume Paolo Pascolo.
Nessa idade, a aversão à água é
compreensível. “Quando começam a se voltar para as meninas, a fase cascão acaba
e começa uma produção daquelas, com perfume e tudo”, diz a psicopedagoga
Josefina Faccioli. Entre os mais velhos, porém, mesmo com a aparência detonada,
não falta uma cuidadosíssima produção.
“É gostoso se vestir muito mal quando
se sabe, entre aspas, que você pode se vestir bem. Dificilmente um garoto que
não pode ter um tênis vai achar legal andar de sandália havaiana”, pondera
Josefina Facioli.
Na busca de uma identidade própria e da
aceitação do grupo, vale tudo.
Rica fase de experimentações, a
adolescência hoje é vivida sem os radicalismos de outras épocas. As posturas
são soft e as pessoas transitam pelos grupos sem muitas cobranças. Há convertidos,
iniciantes, recorrentes.
Para Josefina Faccioli, a adolescência
é uma das mais privilegiadas fases da vida, quando se pode experimentar àa
vontade. “Depois, inevitavelmente, surge a necessidade de se encaixar,
enquadrar e assumir compromissos com a sociedade. Este período de liberdade
deve ser compreendido pelos pais de maneira natural. Quando não há espaço e
oportunidade para experimentar, há maior chance de se transformar em um adulto
com problemas”.
Chantal
Brissac, in revista IstoÉ, 20 nov. 1996.
Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila
Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 76-8.
Entendendo o texto:
01 – Segunda a autora, o que
determina a mudança do visual do adolescente, a cada década?
Há influência de
conjuntos ou bandas musicais que normalmente apresentam estilos bem diferentes,
excêntricos, que agradam aos jovens.
02 – A seu ver, por que
justamente os jovens de classe média e de elite adotam a “moda podrão”?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Justamente porque têm posses, podem escolher o que vestir,
procuram mostrar-se extravagantes, como forma de contestação.
03 – Você faz parte de
alguma “tribo”? Qual a sua opinião sobre esse tipo de comportamento em grupo?
Resposta pessoal
do aluno.
04 – A moda de “tirar férias
de banho” é uma rotina normal entre os jovens? O que você sabe a respeito desse
costume?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Entre os jovens ocorre uma fase em que tomar banho é raro,
pois acham que é desnecessário, mania de gente mais velha. Com o tempo, em
geral, as coisas voltam ao normal.
05 – Segundo o texto, quando
acaba a “fase cascão”?
O jovem começa a
se cuidar, tomar banho e até passar perfume, ao se interessar por alguma
garota.
06 – Você considera a sua
geração menos radical do que a de seus pais, quando tinham a sua idade? Por
quê?
Resposta pessoal do aluno.
07 – De acordo com o texto,
por que o adolescente assume um comportamento tão estranho? Você concorda com
essa resposta? Justifique sua resposta.
A adolescência é
uma fase de muitas mudanças, tanto físicas como psicológicas, e é difícil para
o jovem adaptar-se a elas, com tranquilidade e segurança. Ele então procura se
afirmar, questionando a tudo e a todos.
08 – A adolescência lhe
parece uma fase privilegiada? Por quê?
Resposta pessoal
do aluno.
09 – O adolescente que vive
com liberdade se torna um adulto mais equilibrado e feliz? Dê a sua opinião.
Resposta pessoal
do aluno.
10 – Em síntese, como se
explica a irreverência do jovem no vestir e no falar? O que ele pretende na
verdade?
Ele procura se auto-afirmar, chamar a
atenção, para se sentir prestigiando, menos carente de afeto e atenção.
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