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terça-feira, 31 de março de 2020

CRÔNICA: O SOM DA ÉPOCA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

CRÔNICA: O som da época
                Luís Fernando Veríssimo

   Desconfio que ainda nos lembraremos destes anos como a época em que vivemos com o acompanhamento dos alarmes de carro. Os alarmes de carro são a trilha sonora do nosso tempo: o som da paranoia justificada.
        O alarme é o grito da nossa propriedade de que alguém está querendo tirá-la de nós. É o som mais desesperado que um ser humano pode produzir — a palavra "Socorro!" — mecanizado, padronizado e a todo volume. É "socorro!" acrescentado ao vocabulário das coisas, como a buzina, a campainha, a música de elevador, o "ping" que avisa que o assado está pronto e todos os "pings" do computador.
        Também é um som típico porque tenta compensar a carência mais típica da época, a de segurança. Os carros pedem socorro porque a sua defesa natural — polícia por perto, boas fechaduras ou respeito de todo o mundo pelo que é dos outros — não funciona mais. lhes resta gritar.
        Também é o som da época porque é o som da intimidação. Sua função principal é espantar, e substituir todas as outras formas de dissuasão pelo simples terror do barulho. O som da época em que os decibéis substituíram a razão. Como os ouvidos são, de todos os canais dos sentidos, os mais difíceis de proteger, foram os escolhidos pela insensibilidade moderna para atacar nosso cérebro e apressar nossa imbecilização. Pois são tempos literalmente do barulho.
        O alarme contra roubo de carro também é próprio da época porque frequentemente não funciona. Ou funciona quando não deve. Ouvem-se tantos alarmes a qualquer hora do dia ou da noite porque, talvez influenciados pela paranoia generalizada, eles disparam sozinhos. Basta alguém se aproximar do carro com uma cara suspeita e eles começam a berrar.
        Decididamente, o som do nosso tempo.

VERISSIMO, Luís Fernando. O som da época. 
Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 29 set. 2011.
Entendendo o texto:

01 – Assinale a única alternativa correta em relação ao emprego de advérbios no texto.
a) O advérbio “mais” (ref. 15 e 16) expressa a mesma circunstância nas duas ocorrências no texto.
b) Com o emprego do advérbio “Só” (ref. 17), o autor manifesta o sentido de insuficiência, isto é, o ato de gritar é considerado o mínimo que alguém pode fazer diante da violação de seu patrimônio.
c) O advérbio de tempo “frequentemente” (ref. 18), embora seja sintaticamente acessório, desempenha um papel importante no texto, porque relativiza a afirmação de que o alarme contra roubo de carro não funciona.
d) O advérbio “talvez” (ref. 19), por meio do qual o autor faz uma afirmação não categórica, poderia ser posicionado no final da frase em que se encontra, sem acarretar mudança de sentido.
e) O advérbio “Decididamente” (ref. 20), que poderia ser substituído por “De fato” ou “Definitivamente”, exprime um menor grau de certeza.

02 – Qual a finalidade do texto?
        Lembrar da época em que os alarmes de carro são trilha sonora, o som da paranoia justificada.

03 – Não se percebe no texto registro da linguagem:
a)   Culta
b)   Regional
c)   Científica

 04 – Por que os carros pedem socorro?
         Porque a sua defesa natural – polícia por perto, boas fechaduras ou respeito de todo o mundo pelo que é dos outros – não funciona mais. Só lhes resta gritar.

05 – Qual a função do alarme?
        É espantar e substituir todas as outras formas de dissuasão pelo simples terror do barulho.

06 – Pesquise o significado da palavra dissuasão.
        Induzir ou instigar alguém a mudar de opinião ou de intenção; fazer com que essa pessoa mude de ideia.










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