Texto: Eu sou normal
Adélia
Chagas
Se você perguntasse a um jovem dos anos
80 a que tribo ele pertencia, as respostas seriam múltiplas. Ele poderia ser
punk, metataleiro, dark, new wave, careca, rockabiilly. Um punk tratava um
rockabiilly como um Montecchio a um Capuletto em Romeu e Julieta: com desdém,
raiva e sopapos. Não é à toa que os psicólogos passaram anos teorizando sobre a
turma como a “segunda família”. Era em relação a ela que havia códigos de
honra. Era por ela que se combatia e brigava.
A instituição da “turma” como
substituta da “família” mereceu os primeiros estudos nos anos 50. Naquela
época, ficou popular o musical West side story, uma versão de Romeu e Julieta
que, em vez de Montecchios e Capulettos, punha as tribos dos “Jets” e dos
“Sharks”.
Esse quadro mudou na virada para o
século 21.
Pergunte a um adolescente dos dias de
hoje a que tribo ele pertence. Há 99% de chance de que ele responda: “Eu sou
normal”. E o que significa ser normal? Não ser tribo? Nada disso. “Normal” é
aquele que transita livremente por diferentes turmas. O que é surfista de dia e
pagodeiro de noite, por exemplo. Ou a menina que é nerd no colégio, patricinha
no shopping mas namora um metaleiro – e frequenta festas de rock pesado com
ele. Nos anos 80, uma patricinha (na época elas eram chamadas “burguesinhas”)
sofreria gozações num reduto hardcore. Atualmente, a resistência é bem menor.
Vive-se hoje a era do camaleão. Há
várias explicações para o fenômeno. A primeira é que o significado das tribos
se dilui. No começo dos anos 80, ser punk era admirar um movimento de jovens
ingleses desempregados com plataforma definida. Hoje, dessa tendência, restaram
apenas os cabelos com corte moicano e as braçadeiras de couro. Em vez de
ideologia, há acessórios. E diversão. A maior parte das tribos, nos dias de
hoje, se agrupa em torno de atividades de lazer. Que pode ser esportivo
(surfistas e skatistas), cultural (pagodeiros, roqueiros, alternativos que
gostam de MPB) ou relativo à vida noturna (clubbers e darks).
Por isso não faz sentido brigar. Por
que combater alguém que apenas se diverte de forma diferente? Melhorar é ficar
amigo, para aproveitar diferentes tipos de programa. “Os adolescentes
perceberam que não faz sentido se estapear por uma identidade transitória”.
Defende o psicanalista e escritor italiano Contardo Calligaris. Entre os mais
velhos que viveram, tempos mais radicais, há quem veja nessa mudança constante
um lado negativo, um reflexo da superficialidade dos dias atuais. Na verdade, o
exercício da tolerância é uma conquista da geração de hoje. (...)
CHAGAS, Adélia. Eu
sou “normal”. In: Veja Jovens.
Edição Especial da
revista Veja, ano 34, n.38 set.2001. p.38 -9.
Entendendo o texto:
01 – De acordo com o texto,
de o significado da palavras abaixo:
·
Rockabilly: estilo de rock rápido criado por músicos brancos do sul dos
Estados Unidos na década de 1950.
·
Nerd: pessoa obcecada com um assunto que domina, geralmente a
informática.
·
Hardcore: grupo marcado por resistência a mudanças, conservadores.
·
Dark: grupo conhecido por se vestir sempre com roupas pretas.
· New
wave: movimento que questiona os
valores tradicionais nos campos da música, das artes e da política.
02 – Explique com suas
palavras o que, para a autora do texto, é a “era do camaleão”.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: É a era em que participa todos os tipos de eventos, não
existindo mais a separação de tribos.
03 – A autora do artigo
reproduz uma citação do psicanalista Contardo Calligaris: “Os adolescentes perceberam que não faz sentido se estapear por uma
identidade transitória”. Explique com suas palavras o que é ter uma “identidade transitória”.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: É a identidade que o indivíduo assume de forma temporária.
04 – Você concorda com a
opinião de que o adolescente de hoje tem uma identidade transitória, vive na
era do camaleão? Explique sua posição e exemplifique, se possível, contando em
poucas palavras uma experiência pessoal.
Resposta pessoal
do aluno.
05 – Dê sua opinião sobre
esta posição, referida no artigo: “Entre os mais velhos, que viveram tempos
mais radicais, há quem veja nessa mudança constante um lado negativo, um
reflexo da superficialidade dos dias atuais.
Resposta pessoal
do aluno.
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