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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

POEMA: OS POEMAS - MÁRIO QUINTANA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Os poemas


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fecham o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

                                                                        Mário Quintana.
Entendendo o poema:

01 – O texto é todo construído por meio do emprego de uma figura de estilo. Qual é ela? Justifique sua resposta:
      Metáfora. É um tipo de comparação em que o conectivo está subentendido.

02 – A que tipo textual pertence o poema?    
      Ao tipo textual  descrição.

03 – Qual a função da linguagem predominante no poema? Por quê?
      Função poética. Porque caracteriza pela preocupação com o modo utilizado para transmitir a mensagem.

04 – Ilustre o poema que você acabou de ler, caprichando!
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Transcreva do texto um exemplo de metáfora, aproveitando para diferenciá-la de comparação (transcrevendo uma, se houver no texto):
      “Quando fecham o livro, eles alçam voo”. A principal diferenciação entre a comparação e a metáfora é a presença dos nexos comparativos.

06 – Você tem atualmente servido muito de alimento para os pássaros-poema? Justifique sua resposta:
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Que mensagem podemos extrair após a leitura desse texto?
      O poeta usa a metalinguagem, através da metáfora para explicar como se inspira para fazer um poema.

08 – Você concorda com a ideia do autor? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Observando os três últimos versos do poema, um dos efeitos da compreensão da leitura é:
(  ) alimentar o leitor com novas perspectivas e opções;
(  ) revelar ao leitor suas próprias sensações e pensamentos;
(  ) transformar o leitor em uma pessoa melhor e mais consciente;
(X) deixar o leitor maravilhado com a beleza e o encantamento do poema.

10 – Em "Eles não têm pouso nem porto" podemos ler como uma pressuposição do autor sobre o texto literário e que está ligada ao fato de que tal obra literária, como texto público, apresenta o seguinte traço:
(X) é aberta a várias leituras;
(  ) provoca desejo de transformação;
(  ) integra experiências de contestação;
(  ) expressa sentimentos contraditórios;


CRÔNICA: O VASSOUREIRO - RUBEM BRAGA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: O VASSOUREIRO
          
                  Rubem Braga

        Em um piano distante alguém estuda uma lição lenta, em notas graves. De muito longe, de outra esquina, vem também o som de um realejo. Conheço o velha que o toca, ele anda sempre pelo meu bairro; já fez o periquito tirar para mim um papelucho em que são garantidos 93 anos de vida, muita riqueza, poder e felicidade.
        Ora, não preciso de tanto. Nem de tanta vida, nem de tanta coisa mais. Dinheiro apenas para não ter as aflições da pobreza; poder somente para mandar um pouco, pelo menos, em meu nariz; e da felicidade um salário mínimo tristezas que possa aguentar, remorsos que não doam demais, renúncias que não façam de mim um velho amargo. 
        Joguei uma prata da janela, e o periquito do realejo me fez um ancião poderoso, feliz e rico. De rebarba me concedeu 14 filhos, tarefa e honra que me assustam um pouco. Mas os periquitos são muito exagerados, e o costume de ouvir o dia inteiro trechos de Óperas não lhes fazer bem à cabeça. Os papagaios são mais objetivos e prudentes e só se animam a afirmar uma coisa depois que a ouvem repetidas. 
        Chiquita, a pequenina jabota, passeia a casa inteira, erguendo certa graça o casco pesado sobre as quatro patinhas tortas, e espicha encolhendo o pescoço curioso, tímido e feio. Nunca diz nada, o que é pena, pois deve ter uma visão muito particular das coisas. 
        Agora não se ouve mais no realejo; o piano recomeça a tocar. Sons soltos, e indecisos, teimosos e tristes, de uma lição elementar quer, têm uma grave monotonia. Deus sabe por que acordei hoje tendência a filosofia de bairro; mas agora me ocorre que a vida de gente parece um pouco essa lição de piano. Nunca chega a formar a de uma certa melodia. Começa a esboçar, com os pontos soltos de alguns sons, a curva de uma frase musical; mas logo se detém, e volta, e se numa incoerência monótona. Não tem ritmo nem cadência sensíveis. Quem a vive, essa vida deve ser penosa e triste como o esforço dessa jovem pianista do bairro, que talvez preferisse ir à praia, mas tem de ficar no piano. Na verdade eu é que estou pensando em ir à praia, eu é que preso ao teclado de máquina. Espero que esta crônica, tão cansativa enjoada para mim, possa parecer ao leitor de longe como essa lição piano me parece no meio da manhã clara: alguma coisa monótona e sem sentido, ou às vezes meio desentoada, mas suave. 
        Passa o vassoureiro. É grande, grosso e tem bigodes grossos com todos os de seu ofício. Aos 50 anos darei um bom vassoureiro de barro. De todos os pregões, o seu é o mais fácil: “Vassoura... vassoureiro. E convém fazer a voz um tanto cava. Ele me parece digno, levando entre cruzadas sobre os ombros, numa composição equilibrada e sábia, tantas vassouras, espanadores e cestos. Seu andar é lento, sua voz é grave, presença torna a rua mais solene. É um homem útil. 
        Não ousaria dizer o mesmo de mim mesmo; mas, enfim, já trabalhei já cumpri o meu dever, como o velho do realejo e a mocinha do piano vagamente acho que mereço ir à praia.
Abril, 1949
                                                      Rubem Braga
Entendendo a crônica:
01 – Assinale a figura de linguagem que perpassa o texto e que pode ser observada de modo mais explícito nos dois últimos parágrafos:
a)   Hipérbole.
b)   Antítese.
c)   Gradação.
d)   Metonímia.
e)   Ironia.

02 – Leia as afirmativas a seguir, feitas a respeito de fenômenos sintáticos e linguísticos do texto de Rubem Braga:
I – O primeiro período (que começa com “Em um piano”) é simples e, por desconhecer a identidade de quem pratica a ação, o cronista emprega um pronome indefinido.
II – No período seguinte, a expressão “o som de um realejo” exerce a função sintática do objeto direto.
III – Ao dizer que precisa apenas de um salário mínimo de felicidade, o cronista está empregando uma metáfora.
IV – No último parágrafo, a fim de expressar seu espanto e admiração, o autor empregou e escreveu de modo correto a interjeição “OH!”.

Assinale a alternativa CORRETA:
a)   Somente as afirmações I, II e III estão corretas.
b)   Somente aas afirmativas I, II e IV estão corretas.
c)   Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.
d)   Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.
e)   Todas as afirmativas estão corretas.

03 – Descreva o lugar onde ocorreu o fato. Confirme com trechos da crônica.
      De uma janela.
      “... joguei uma prata da janela...”.

04 – A partir de que parágrafo o autor menciona o acontecimento que derivou esta crônica?
      Desde o primeiro parágrafo.

05 – Em que pessoa verbal o narrador conta o fato?
      Em primeira pessoa do singular. “...joguei...”.

06 – Quem são os personagens do fato narrado?
      A mocinha do piano, o velho do realejo, Chiquita (a jabota), o vassoureiro e o autor.

07 – Existe uma relação entre a situação vivida pelas personagens da crônica e a de nosso dia-a-dia? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Quais características pertinente ao gênero crônica podemos encontrar neste texto?
      Personagem – narrador – espaço – tempo limitado – um fato – ações.

09 – No texto estudado predomina a ação ou a reflexão? Comente.
      Predomina a ação. Vários fatos aconteceram enquanto o narrador estava na janela.

10 – Qual é o foco narrativo?
      O foco é o narrador-personagem, pois usa a primeira pessoa e participa dos fatos.




ARTIGO DE OPINIÃO: EU SOU NORMAL - ADÉLIA CHAGAS - COM GABARITO

Texto: Eu sou normal
       

 Ser radical é coisa do passado. Hoje, muda-se de tribo o tempo todo
                                          Adélia Chagas

        Se você perguntasse a um jovem dos anos 80 a que tribo ele pertencia, as respostas seriam múltiplas. Ele poderia ser punk, metataleiro, dark, new wave, careca, rockabiilly. Um punk tratava um rockabiilly como um Montecchio a um Capuletto em Romeu e Julieta: com desdém, raiva e sopapos. Não é à toa que os psicólogos passaram anos teorizando sobre a turma como a “segunda família”. Era em relação a ela que havia códigos de honra. Era por ela que se combatia e brigava.
        A instituição da “turma” como substituta da “família” mereceu os primeiros estudos nos anos 50. Naquela época, ficou popular o musical West side story, uma versão de Romeu e Julieta que, em vez de Montecchios e Capulettos, punha as tribos dos “Jets” e dos “Sharks”.
        Esse quadro mudou na virada para o século 21.
        Pergunte a um adolescente dos dias de hoje a que tribo ele pertence. Há 99% de chance de que ele responda: “Eu sou normal”. E o que significa ser normal? Não ser tribo? Nada disso. “Normal” é aquele que transita livremente por diferentes turmas. O que é surfista de dia e pagodeiro de noite, por exemplo. Ou a menina que é nerd no colégio, patricinha no shopping mas namora um metaleiro – e frequenta festas de rock pesado com ele. Nos anos 80, uma patricinha (na época elas eram chamadas “burguesinhas”) sofreria gozações num reduto hardcore. Atualmente, a resistência é bem menor.
        Vive-se hoje a era do camaleão. Há várias explicações para o fenômeno. A primeira é que o significado das tribos se dilui. No começo dos anos 80, ser punk era admirar um movimento de jovens ingleses desempregados com plataforma definida. Hoje, dessa tendência, restaram apenas os cabelos com corte moicano e as braçadeiras de couro. Em vez de ideologia, há acessórios. E diversão. A maior parte das tribos, nos dias de hoje, se agrupa em torno de atividades de lazer. Que pode ser esportivo (surfistas e skatistas), cultural (pagodeiros, roqueiros, alternativos que gostam de MPB) ou relativo à vida noturna (clubbers e darks).
        Por isso não faz sentido brigar. Por que combater alguém que apenas se diverte de forma diferente? Melhorar é ficar amigo, para aproveitar diferentes tipos de programa. “Os adolescentes perceberam que não faz sentido se estapear por uma identidade transitória”. Defende o psicanalista e escritor italiano Contardo Calligaris. Entre os mais velhos que viveram, tempos mais radicais, há quem veja nessa mudança constante um lado negativo, um reflexo da superficialidade dos dias atuais. Na verdade, o exercício da tolerância é uma conquista da geração de hoje. (...)

CHAGAS, Adélia. Eu sou “normal”. In: Veja Jovens.
Edição Especial da revista Veja, ano 34, n.38 set.2001. p.38 -9.
Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, de o significado da palavras abaixo:
·        Rockabilly: estilo de rock rápido criado por músicos brancos do sul dos Estados Unidos na década de 1950.

·        Nerd: pessoa obcecada com um assunto que domina, geralmente a informática.

·        Hardcore: grupo marcado por resistência a mudanças, conservadores.

·        Dark: grupo conhecido por se vestir sempre com roupas pretas.

·  New wave: movimento que questiona os valores tradicionais nos campos da música, das artes e da política.

02 – Explique com suas palavras o que, para a autora do texto, é a “era do camaleão”.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É a era em que participa todos os tipos de eventos, não existindo mais a separação de tribos.

03 – A autora do artigo reproduz uma citação do psicanalista Contardo Calligaris: “Os adolescentes perceberam que não faz sentido se estapear por uma identidade transitória”. Explique com suas palavras o que é ter uma “identidade transitória”.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É a identidade que o indivíduo assume de forma temporária.

04 – Você concorda com a opinião de que o adolescente de hoje tem uma identidade transitória, vive na era do camaleão? Explique sua posição e exemplifique, se possível, contando em poucas palavras uma experiência pessoal.
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Dê sua opinião sobre esta posição, referida no artigo: “Entre os mais velhos, que viveram tempos mais radicais, há quem veja nessa mudança constante um lado negativo, um reflexo da superficialidade dos dias atuais.
      Resposta pessoal do aluno.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

POESIA: O VENTO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poesia: O VENTO
            Cecília Meireles

O cipreste inclina-se em fina reverência
e as margaridas estremecem, sobressaltadas.

A grande amendoeira consente que balancem
suas largas folhas transparentes ao sol.


Misturam-se uns aos outros, rápidos e frágeis,
os longos fios da relva, lustrosos, lisos cílios verdes.

Frondes rendadas de acácias palpitam inquietantemente
com o mesmo tremor das samambaias
debruçadas nos vasos.

Fremem os bambus sem sossego,
num insistente ritmo breve.

O vento é o mesmo:
mas sua resposta é diferente, em cada folha.

Somente a árvore seca fica imóvel,
entre borboletas e pássaros.

Como a escada e as colunas de pedra,
ela pertence agora a outro reino.
Se movimento secou também, num desenho inerte.
Jaz perfeita, em sua escultura de cinza densa.

O vento que percorre o jardim
pode subir e descer por seus galhos inúmeros:

ela não responderá mais nada,
hirta e surda, naquele verde mundo sussurrante.

                                      Cecília Meireles; in Mar Absoluto

Entendendo a poesia:

01 – Marque com um (X) os recursos empregados no texto que o caracterizam como poético:
(X) Versos e  descrição.
(  ) Descrição, rimas, diálogos e ação de personagem.
(  ) Rimas, estrofes, linguagem figurada.
(  ) O fato de ser assinado por um poeta.

02 – Nos versos: “Ela não responderá mais nada, / hirta e surda, naquele verde mundo sussurrante.”
A quem se refere estes versos?
      A árvore seca que fica imóvel.

03 – Por que as margaridas, o cipreste, a grande amendoeira, as acácias, samambaias e bambus estremecem, sobressaltados?
      Porque respondem à ação do vento.

04 – Quem consente que balancem suas largas folhas?
      A grande amendoeira.

05 – O título da poesia motiva a leitura?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Como você entende estes versos: “O vento é o mesmo, / mas sua resposta é diferente em cada folha”.
      Resposta pessoal do aluno.


CRÔNICA: BRASILEIRO CEM-MILHÕES - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Crônica: BRASILEIRO CEM-MILHÕES
               Carlos Drummond de Andrade

        Telefonei para a maternidade indagando se havia nascido o bebê n.º 100.000.000, e não souberam informar-me:
        -- De zero hora até este momento nasceram oito, mas nenhum foi etiquetado com esse número.
        É uma falha do nosso registro civil: as crianças não recebem números ao nascer. Dão-lhes apenas um nome, às vezes surrealista, que acompanhará por toda a vida como pesadelo, quando a numeração pura e simples viria garantir identidade insofismável, poupando ainda o vexame de carregar certos antropônimos. Centenas de milhares nascem João ou José, mais o homem ou a mulher 25.786.439 seria uma única pessoa viva, muito mais fácil de cadastrar no Imposto de Renda e nos mil outros fichários com que é policiada a nossa existência.
        Passei por baixo do viaduto, onde costumam nascer filhos do vento, e reinava uma paz de latas enferrujadas e grama sem problemas. Ninguém nascera ali depois da meia-noite. O dia 21 de agosto, marcado para o advento do brasileiro cem-milhões, transcorria sem que sinal algum, na terra ou no ar, registrasse o acontecimento.
        Costumo acreditar nos bancos, principalmente nos oficiais, e se o Banco Nacional da Habilitação, através do Serfhau, garantiu que nessa segunda-feira o Brasil atingiria a cifra redonda de 100 milhões de habitantes, é porque uma parturiente adrede orientada estaria de plantão para perfazer esse número.
        Verdade seja que o IBGE, pelo Centro Brasileiro de Estudos Demográficos, julgou prematura a declaração, e só para o trimestre de outubro/dezembro nos promete o brasileiro em questão. Não ponho em dúvida sua autoridade técnica, mas um banco é um banco, ainda mais se agência governamental, e a esta hora deve ter recolhido nosso centésimo milionésimo compatrício em berço especial da casa própria, botando-lhe à cabeceira um cofre de caderneta de poupança.
      É que me custa admitir o nascimento desse garoto, ou garota, sem o amparo de nossas leis sociais, condenado a ser menos que número – uma dessas crianças mendicantes, que não conhecerão as almofadas da felicidade. Não queria que a televisão lhe desse um carnê e uma viagem à Grécia, nem era preciso que Manchete lhe dedicasse 10 páginas coloridas, sob o patrocínio do melhor leite em pó. Mas gostaria que viesse ao mundo com um mínimo de garantia contra as compulsões da miséria e da injustiça, e de algum modo representasse situação idêntica de milhões de outras crianças que recebessem – estou pedindo muito? – não somente o dom da vida, mas oportunidades de vive-la.
        Seria vaidade irrisória proclamar-se ele o 100.000.000.º brasileiro, membro eufórico da geração dos 100 milhões, e saber-se apenas mais um marginalizado, que só por artifício de média ganha sua fatia no bolo do Produto Nacional Bruto.
        Não desejo o herói do monumento nem mártir anônimo. Prefiro vê-lo como um ser capaz de fazer alguma coisa de normal numa sociedade razoavelmente suportável, em que a vida não seja obrigação estupida, sem pausa para fruir a graça das coisas naturais e o que lhes acrescentou a imaginação humana.
        Olho para esse brasileiro cem-milhões, nascido ontem ou por nascer daqui a algumas semanas, como se ele fosse meu neto... bisneto, talvez. Pois quando me dei conta de mim, isto ai era um país de 20 milhões de pessoas, diluídas num território quase só mistério, que aos poucos se foi desbravando, mantendo ainda bolsões de sombra. Vi crescer a terra e lutarem os homens, entre desajustes e sofrimentos. Os maiorais que dirigiam o processo lá se foram todos. Vieram outros e outros, e encontro nesta geração um novo rosto de vida que se interroga. Há muita ingenuidade, também muita coragem, e os problemas se multiplicam com o crescimento desordenado. Somos mais ricos... e também mais pobres.
        Meu querido e desconhecido irmão n.º 100.000.000, onde quer que estejas nascendo, fica de olho no futuro, presta atenção nas coisas para que não façam de ti subproduto de consumo, e boa viagem pelo século XXI adentro.
ANDRADE, Carlos Drummond de. De notícias e não-notícias faz-se a crônica.
6. ed. Rio de Janeiro: Record, 1993. pág. 11-3.
Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, de o significado das palavras abaixo:
·        Medicante: aquele que mendiga, que pede esmolas.
·        Compulsões: imposições.
·        Irrisória: ridícula, insignificante.
·        Mártir: pessoa que sofre castigos físicos ou condenação à morte por suas crenças ou opiniões.
·        Fruir: aproveitar, desfrutar.
·        Diluído: que se tornou pouco perceptível.
·        Bolsão: área com características diferentes daquela em que está inserida.

02 – A previsão da data do nascimento do Brasileiro cem-milhões, segundo o texto, foi feita por dois órgãos oficiais:
·        O Centro Brasileiro de Estudos Demográficos do IBGE, Órgão Oficial de Levantamento de Dados Populacionais,
·        O Serfhau, Órgão ligado ao Banco Nacional da Habitação.
O narrador diz preferir acreditar na previsão do banco, justificando que “... um banco é um banco...”.

a)   Você concorda com o narrador? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.

b)   Na sua opinião, o narrador afirma o que realmente pensa ou está sendo irônico?
Resposta pessoal do aluno.

03 – Releia outra afirmação do cronista em relação à aparente confiança na previsão do banco: “... se o Banco... garantiu que nessa segunda-feira o Brasil atingiria a cifra redonda de 100 milhões de habitantes, é porque uma parturiente adrede orientada estaria de plantão para perfazer esse número.” Sabe-se que o número de crianças que nascem por minuto no Brasil é muito grande.

Responda: mesmo que houvesse uma parturiente “de plantão”, você acha que seria possível determinar que seria ela a mãe da criança cem-milhões?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Se houvesse uma parturiente de plantão, certamente seria possível.

04 – É difícil para o narrador admitir que o brasileiro cem-milhões possa estar “condenado a ser menos que número”.
a)   Explique o que ele quis dizer com “ser menos que número”.
Se estiver o amparo de nossas leis sociais, essa criança terá um bom futuro.

b)   O que ele gostaria que a criança cem-milhões, ao nascer, e milhões de outras tivessem para não ser “menos que número”?
Que tivesse o mínimo de garantia contra as compulsões da miséria e da injustiça.

05 – O narrador não espera que o brasileiro cem-milhões seja um “herói de monumento”, nem que seja um “mártir anônimo”. Que destino ele reclama para esse brasileiro?
      “Prefiro vê-lo como um ser capaz de fazer alguma coisa de normal numa sociedade razoavelmente suportável, em que a vida não seja obrigação estupida, sem pausa para fruir a graça das coisas naturais e o que lhes acrescentou a imaginação humana.”     

06 – Releia: “... que a vida não seja obrigação estúpida, sem pausa para fruir a graça das coisas naturais, e o que lhes acrescentou a imaginação humana”. Como seria a vida desse brasileiro a partir dessa afirmação.
      Seria uma vida mais fácil, natural e saudável.

07 – Abaixo reproduzimos o número de habitantes do Brasil desde o primeiro censo:
·        1872 ................................................................. 9.930.478 hab.
·        1890 ................................................................ 14.333.915 hab.
·        1900 ................................................................ 17.438.434 hab.
·        1920 ............................................................... 30.635.605 hab.
·        1940 ............................................................... 41.236.315 hab.
·        1950 ............................................................... 51.944.397 hab.
·        1960 ............................................................... 70.967.185 hab.
·        1970 ............................................................... 93.204.379 hab.
·        1980 ...............................................................122.958.000 hab.
·        1990 ...............................................................151.084.000 hab.
·        2000 ...............................................................175.553.000 hab.

        O narrador afirma que, quando deu conta de si, o Brasil tinha 20 milhões de habitantes. Observe os dados da tabela e responda: em que período o Brasil chegou aos 20 milhões de habitantes?
      No período de 1920.



ARTIGO DE OPINIÃO: CONSUMISMO - ISTO É TUDO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Artigo de Opinião: Consumismo


   Tudo parece mágico, grande e alegremente anárquico. Há música em todos os locais. As vitrines estão muito bem decoradas. O ambiente está propício para um passeio gratificante. Estamos, quase sem perceber, em uma selva de consumo onde, inevitavelmente, cairemos em algumas das “armadilhas” que equipes formadas por psicossociólogos, arquitetos, decoradores, iluminadores e especialistas em marketing prepararam para os consumidores potenciais.
        O ritmo musical que ouvimos, suave e quase imperceptível, tem suas razões de ser, assim como a disposição dos produtos em lugares determinados, a largura dos corredores e tudo o mais que nos impressiona em alguns supermercados ou shopping centers que incentivam a febre do consumo. Esses fatores são tão importantes que existem, em alguns países, laboratórios para testá-los. Na França, por exemplo, funciona, desde 1989, um supermercado-laboratório, onde o comportamento do consumidor é observado e analisado em detalhes. Esse falso supermercado, onde as cobaias são os clientes, é o menor do mundo – possui apenas 200 m2, com música ambiente. Os visitantes são selecionados em supermercados verdadeiros e recebem, ao entrar, uma lista de compras. Eles devem escolher as marcas e depois dizer por que preferem esta ou aquela. Na verdade, seus movimentos estão sendo estudados por especialistas escondidos atrás de vidros espelhados. Cada passo dado pelo cliente, cada expressão facial ficarão gravados em uma fita que será utilizada para estudo posterior. Hoje em dia, qualquer lançamento só é feito depois de o produto ter passado por esses tubos de ensaio. Os fabricantes sabem muito bem que é ali que se decide a sorte de seu produto.
        Para planejar melhor suas vendas – e fazer com que as pessoas consumam mais –, os supermercadistas já dispõem de algumas informações. Em primeiro lugar, sabem que o consumidor permanece durante uma média de 40 minutos dentro do supermercado, onde são apresentados de 4 a 6 mil produtos. Dessa forma, o consumidor só conta com alguns segundos para registrar tudo o que vê e decidir o que comprar. Por outro lado, sabe-se também que 50% dos produtos vendidos ­em supermercados são comprados por impulso. Isso significa que entre as mercadorias de compra planejada – como o leite e o açúcar, entre outros – devem ser colocadas outras mercadorias, não programadas, que atraiam a atenção do consumidor.
        Outro recurso bastante utilizado é ter o preço de um produto anunciado em um grande cartaz, o que pode dar a sensação de que esse produto está em promoção, mesmo quando o preço não foi alterado. É frequente ver que, com técnicas semelhantes, uma determinada marca de café ­para citar um exemplo – pode incrementar seu volume de venda.
        Um outro segredo se encontra nas prateleiras, que são geralmente dispostas em cinco de cada ­lado da gôndola. A prateleira de cima é a que mais se vê, embora fique um pouco fora do alcance da mão. A segunda e a terceira são as melhores, porque ficam à altura da vista e ao alcance das ­mãos. A quarta e a quinta são as menos valorizadas, por serem mais desconfortáveis de ver e alcançar. O objetivo, segundo especialistas, é chegar a um equilíbrio e evitar "pontos frios" dentro ­do supermercado. Para isso, colocam-se os setores de maior afluência de público – como os lácteos, por exemplo – perto de outros locais difíceis, cujos produtos têm, na maioria das vezes, uma rentabilidade maior. O objetivo final é que o cliente encontre a maior quantidade possível de produtos e aumente seu consumo.
        Os shopping centers também baseiam seu sucesso na exposição tentadora, mas acrescentam outros elementos – como a sensação de onipotência proporcionada pela arquitetura e a sensação de pertencer e possuir de que são tomados os clientes assim que entram no local. Segundo alguns psicólogos, outra característica inconsciente, certamente, mas muito forte, é a sensação de segurança e proteção que esses locais proporcionam. Além disso, são como grandes cenários onde as pessoas podem olhar, mexer, espiar, ver de tudo, ficar a par de tudo, satisfazer todas as inquietudes, ser espectadoras, protagonistas, desejosas de tudo o que está exposto, mas, também, capazes de obter o que veem. É assim que se criam uma tentação e uma excitação dos sentidos que põem em movimento a pulsação possessiva das pessoas, por meio de estímulos visuais, olfativos, auditivos, racionais e também impulsivos e compulsivos.

           Istoé Tudo – O livro do conhecimento. São Paulo: Três, s. d. p. 174-7.
Entendendo o texto:

01 – Quais os recursos para inventar a venda. No supermercado? E no shopping center?
     Os shoppings centers baseiam-se na exposição tentadora, mas também usam a sensação de onipotência e o supermercado utiliza os cartazes grandes para chamar a atenção dos clientes e a organização de produtos de acordo com a expectativa de venda nas prateleiras.

02 – No primeiro parágrafo, você leu que “Estamos, quase sem perceber, em uma selva de consumo onde, inevitavelmente, cairemos em algumas das ‘armadilhas’”, que especialistas nos preparam:
a)   Na sua opinião, por que o autor escolheu a metáfora selva para caracterizar o cenário de consumo?
Resposta pessoal do aluno.

b)   No cenário de consumo, por que os consumidores caem nas armadilhas “quase sem perceber”?
Porque tudo parece mágico, grande e alegremente anárquico.

c)   Quem prepara “as armadilhas” para os consumidores caírem “quase sem perceber”?
São os psicossociólogos, arquitetos, decoradores, iluminadores e especialistas em marketing.

d)   Quais são essas armadilhas?
São as vitrines que estão muito bem decorada.

03 – Para que serve as armadilhas preparadas pelos especialistas?
      Para aumentar as vendas nos supermercados.

04 – Como os especialistas descobrem os meios eficazes para influenciar as compras dos consumidores nos supermercados e shopping centers?
      Analisando o comportamento do consumidor, onde são observado e analisado em detalhes.

05 – No terceiro parágrafo, são dadas as informações usadas para planejar as vendas no supermercado.
a)   Quais são elas?
·        Permanência longa do consumidor no supermercado.
·        Uma quantidade de 4 a 6 mil produtos.

b)   O que são mercadorias de compra planejada?
São os produtos de primeira necessidade.

c)   Por que as mercadorias de compra planejada são colocadas junto a outras mercadorias não programadas?
Porque o cliente termine levando as mercadorias que não estavam na sua relação, mercadorias não programada.

06 – Nos dois parágrafos seguintes, o texto relaciona vários outros recursos utilizados para incentivar o consumidor a comprar no supermercado. Qual é o recurso utilizado com o objetivo de:
a)   Dar a sensação de que o produto tem preço em promoção?
Anunciar em um grande cartaz.

b)   Fazer o cliente encontrar a maior quantidade possível de produtos?
Colocar as mercadorias na prateleira de cima, é a que mais se vê.

07 – Que recursos de construção dos shoppings são utilizados para estimular os sentidos dos consumidores, provocando “a pulsão possessiva das pessoas”?
      Por meio de estímulos visuais, olfativos, auditivos, racionais e também impulsivos e compulsivos.

08 – Uma estratégia bastante utilizada pelos redatores de textos expositivos e argumentativos para dar credibilidade ao que está sendo apresentado é a de citar a palavra de alguém qualificado, que domina o assunto e tem sua competência reconhecida socialmente. Chamamos a isso de citação de autoridade.

         Observe: “O objetivo, segundo especialistas, é chegar a um equilíbrio e evitar ‘pontos frios’ dentro do supermercado”.    Transcreva outra passagem em que há uma citação de autoridade para dar mais credibilidade ao que está sendo dito.
      Segundo alguns psicólogos, outra característica inconsciente, certamente, mas muito fortes, é a sensação de segurança e proteção que esses locais proporcionam.

09 – Na sua opinião, pode-se afirmar que nos grandes supermercados e nos shopping centers o consumidor faz suas escolhas com liberdade e autonomia? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno.