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sexta-feira, 1 de novembro de 2019

CRÔNICA: PAI, ME COMPRA UM AMIGO? PEDRO BLOCH - COM GABARITO

CRÔNICA: Pai, me compra um amigo?
                    Pedro Bloch

        -- Mamãe...
        -- Que é menino?
        -- Você gosta de mim?
        Aquilo saiu sem querer. Quando viu já tinha dito.
        Lúcia se surpreendeu com a pergunta.
        Na realidade não vivia manifestando afeto. Ela mesma precisava que a aprovassem a cada instante. O erro de Ronaldo talvez fosse o de não lhe dar aquela dose de palavras doces que fazem bem à alma de cada um. Achava que qualquer manifestação de afeto era tolice.
        Há gente assim. Pensa que qualquer ato de ternura, qualquer palavra mais açucarada, é pieguice. Há pessoa que têm medo de sentir. Talvez porque tivessem sido muito magoadas quando crianças, quando tentaram manifestar seu carinho e foram repelidos sem querer. Talvez também tivesse ocorrido o problema do filho mais querido, embora muitas vezes isso nem corresponda à realidade, fica como que sobrando na vida e no mundo, pisando terreno inseguro, areia movediça, como naquela fita em que o mocinho ficou preso sem poder sair e afundando cada vez mais.
        -- Claro que eu gosto de você, meu querido!
        Abraçou-o mas, entre eles, estava o neném, que tinha vindo para mamar justo naquela hora.
        -- Quando é que o neném vai pra casa?
        -- Na quinta.
        -- Por que é que o papai não gosta de mim?
        Mal acabou de dizer levou até um susto com as próprias palavras.
        -- Papai tem uma vida muito cheia de trabalho. Garanto que ele adora você. Só que há gente que mostra isso com abraço e beijo. Outras mostram sentindo. Só sentindo.
        -- E como é que a gente vai saber, se a pessoa não fala?
        -- Estamos falando agora. Está vendo como é bom ter diálogo? Você quase não se comunica...
        -- É que você e papai estão sempre muito ocupados – pausa.  – Sabe que papai nunca me levou no escritório dele?
        -- O que é que você queria lá?
        -- Só olhar. Ver as coisas. Ver como ele trabalha. É meu pai, né?
        -- Você pede a ele.
        -- Acha que não vai zangar?
        -- Claro que não.
     Pai, me compra um amigo? Pedro Bloch.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 61-3.
Entendendo o texto:

01 – O título deste texto, “Pai, me compra um amigo? Também é uma frase interrogativa. Qual seria a diferença de significado se a frase fosse exclamativa?
      Pareceria uma ordem.

02 – O texto é uma narração em 1ª ou em 3ª pessoa? Justifique sua resposta.
      Em 3ª pessoa. Espera que o aluno identifique os verbos e pronomes que determinam que a narração é em 3ª pessoa.

03 – O narrador, neste caso, é personagem?
      Não.

04 – Descreva o filho de Lúcia.
      Parece ser um menino tímido, que tem medo de dizer as coisas como afirma o texto: “Mal acabou de dizer, levou até um susto com as próprias palavras.

05 – E como são os pais do menino? Retornando ao texto, procure descobrir suas características.
      As características da mãe estão descritas nas linhas: 6-7; 20-21-22; 32-33.
      As características do pai estão nas linhas: 8-9; 28-29-30; 34-35.

06 – Aquilo saiu sem querer”. O pronome “aquilo” não se refere somente à pergunta feita pelo menino. A que mais pode se referir?
      Pode referir-se ao sentimento do menino, à sua angustia.

07 – Qual a diferença de significado entre as frases a seguir?
I – “Achava que qualquer manifestação de afeto era tolice”.
II – “Achava que uma manifestação de afeto qualquer era tolice”.
      A “I” toda manifestação de afeto seria considerada tolice. Na “II” apenas algumas manifestações, consideradas menores, seriam tolice.

08 – Identifique o significado da palavra “justo” na frase a seguir: “Abraçou-o, mas, entre eles, estava o neném, que tinha vindo para mamar justo naquela hora”.
      Significado de exatamente.

09 – O emprego de justo na questão anterior permite concluir o quê sobre o comportamento do neném?
      Permite concluir que ele não foi bem-vindo pelo menino, que atrapalhou o carinho da mãe.

10 – O que representa a presença do neném, no meio do abraço da mãe? Justifique.
      Representa um intruso, alguém que roubou um momento mágico, que chegou na hora errada.

11 – “Só que há gente que mostra isso com abraço e beijo. Outras mostram sentindo. Só sentindo.” Como é possível perceber o que uma pessoa sente quando ela não se expressa por palavras?
      Observando os gestos, as expressões, as circunstâncias.

12 – “Talvez também tivesse ocorrido o problema do filho mais querido...” Que problema seria esse?
      O problema de um irmão acreditar que o outro é mais querido.





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