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sábado, 27 de julho de 2019

CONTO: O COMPADRE DA MORTE - LUÍS DA CÂMARA CASCUDO - COM GABARITO

CONTO: O Compadre da Morte
                Luís da Câmara Cascudo


       Diz que era uma vez um homem que tinha tantos filhos que não achava mais quem fosse seu compadre. Nascendo mais um filhinho, saiu para procurar quem o apadrinhasse e depois de muito andar encontrou a Morte a quem convidou. A Morte aceitou e foi a madrinha da criança. Quando acabou o batizado voltaram para casa e a madrinha disse ao compadre:
       - Compadre! Quero fazer um presente ao meu afilhado e penso que é melhor enriquecer o pai. Você vai ser médico de hoje em diante e nunca errará no que disser. Quando for visitar um doente me verá sempre. Se eu estiver na cabeceira do enfermo, receite até água pura que ele ficará bom. Se eu estiver nos pés, não faça nada porque é um caso perdido.
        O homem assim fez. Botou aviso que era médico e ficou rico do dia para a noite porque não errava. Olhava o doente e ia logo dizendo:
      - Este escapa!
     Ou então:
     - Tratem do caixão dele!
     Quem ele tratava, ficava bom. O homem nadava em dinheiro.
      Vai um dia adoeceu o filho do rei e este mandou buscar o médico, oferecendo uma riqueza pela vida do príncipe. O homem foi e viu a Morte sentada nos pés da cama. Como não queria perder a fama, resolveu enganar a comadre, e mandou que os criados virassem a cama, os pés passaram para a cabeceira e a cabeceira para os pés. A Morte, muito contrariada, foi-se embora, resmungando.
       O médico estava em casa um dia quando apareceu sua comadre e o convidou para visitá-la.
      - Eu vou, disse o médico - se você jurar que voltarei!
      - Prometo! - disse a Morte.
      Levou o homem num relâmpago até sua casa.
      Tratou muito bem e mostrou a casa toda. O médico viu um salão cheio-cheio de velas acessas, de todos os tamanhos, uma já se apagando, outras viva, outras esmorecendo. Perguntou o que era:
      É a vida do homem. Cada homem tem uma vela acessa. Quando a vela acaba, o homem morre.
      O médico foi perguntando pela vida dos amigos e conhecidos e vendo o estado das vidas. Até que lhe palpitou perguntar pela sua. A Morte mostrou um cotoquinho no fim.
      - Virgem Maria! Essa é que é a minha? Então eu estou, morre-não-morre!
     A Morte disse:
    - Está com horas de vida e por isso eu trouxe você para aqui como amigo mas você me fez jurar que voltaria e eu vou levá-lo para você morrer em casa.
     O médico quando deu acordo de si estava na sua cama rodeado pela família. Chamou a comadre e pediu:
    - Comadre, me faça o último favor. Deixe eu rezar um Padre-Nosso. Não me leves antes. Jura?
   - Juro -, prometeu a Morte.
   O homem começou a rezar o Padre-Nosso que estás no céu... E calou-se. Vai a Morte e diz:
   - Vamos, compadre, reze o resto da oração!
   - Nem pense nisso, comadre! Você jurou que me dava tempo de rezar o Padre-Nosso mas eu não expliquei quanto tempo vai durar minha reza. Vai durar anos e anos...
     A Morte foi-se embora, zangada pela sabedoria do compadre.
     Anos e anos depois, o médico, velhinho e engelhado, ia passeando nas suas grandes propriedades quando reparou que os animais tinham furado a cerca e estragado o jardim, cheio de flores. O homem, bem contrariado disse:
       - Só queria morrer para não ver uma miséria destas!...
        Não fechou a boca e a Morte bateu em cima, carregando-o. A gente pode enganar a Morte duas vezes mas na terceira é enganado por ela.

(CASCUDO, Luís da Câmara.Contos tradicionais do Brasil. Belo Horizonte; São Paulo, Itatiaia, Editora da Universidade de São Paulo, 1986. Texto Adaptado)
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.120 a 123.
Nas linhas do texto

1)   No início da história, a personagem principal é chamada apenas de um homem ou o homem.
a)   Como o narrador passa a se referir à personagem principal depois que a Morte batiza seu filho?
Compadre.

b)   A partir de qual fato a personagem passa a ser chamada de médico?
A partir do momento em que a Morte lhe dá o poder de predizer a morte das pessoas.

2)   Qual foi a forma escolhida pela Morte para enriquecer seu compadre?
Fazê-lo médico: sempre que fosse visitar um doente, o homem veria a Morte. Conforme o lugar da cama onde ela estivesse sentada, o homem saberia se o doente iria se curar ou não: se na cabeceira, o doente se salvaria se nos pés, ele seria levado pela Morte.

3)   Quando o príncipe adoeceu gravemente, qual foi o plano do homem para enganar a Morte?
Como a Morte estava sentada nos pés da cama do jovem, o homem mandou os criados virarem a cama, trocando os pés pela cabeceira; desse modo, a Morte ficou na cabeceira e não pôde levar o príncipe.

4)   O homem enganou a Morte uma segunda vez. Quando foi isso e o que ele fez?
Quando o homem estava para morrer, pediu para rezar um padre-nosso e não ser levado enquanto não terminasse a oração. Só que ele parou no meio da reza, dizendo que não tinha dito quando ia terminá-la. Assim, a Morte não pôde levá-lo.

5)   O homem conseguiu enganar a Morte pela terceira vez? Explique sua resposta.
Não conseguiu: desatento, disse que preferia morrer a ver o jardim estragado. Tomando essa frase como pretexto, a Morte levou-o.

6)   Ao salvar o filho do rei, o homem desafiou a Morte. Marque a alternativa mais adequada para explicar o motivo dessa decisão dele.
a)   Medo do rei.
b)   Vaidade pessoal.
c)   Ganância de mais riqueza.
d)   Provocação feita à Morte.

7)   O homem foi finalmente levado pela Morte porque:
a)   não se pode enganar a Morte mais de duas vezes.
b)   ela foi mais esperta, aproveitando-se de uma distração dele.
c)   ele não conseguiu rezar o padre-nosso até o fim.
d)   ele estava muito velhinho e vivia contrariado, desejando morrer.

8)   No final da história, o médico diz: “Só queria morrer para não ver uma miséria destas!...”. No mesmo instante, a Morte se aproveitou dessa frase para leva-lo.
a)   Ele queria mesmo morrer ao dizer isso? Explique sua resposta.
Não, ele apenas queria expressar seu descontentamento com o estrago no jardim.

b)   De que outro modo ele poderia se expressar para não dar à Morte a chance de leva-lo?
“Daria todo meu dinheiro para não ver esta desgraça!”, “Não acredito que estou vendo uma desgraça destas!”, etc.

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