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terça-feira, 25 de junho de 2019

TEXTO: HOJE É DIA DO TRABALHO - GABRIEL GAIARSA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: Hoje é Dia do Trabalho
         
                   GABRIEL GAIARSA

        Andréa de Oliveira; 19 anos; catadora de lixo; salário de R$ 150,00/mês; “Queria ser empregada doméstica, mas não encontro emprego”.

        Aterro sanitário de Carapicuíba. São 11 horas da manhã, e a temperatura é de quase 30 graus. Cheiro insuportável, e moscas tão grandes que parecem ter saído de um filme de ficção científica. Entre os enormes caminhões que quase atropelam os menos atentos, correm crianças, jovens, adultos e velhos, à procura daquilo que foi considerado inútil, velho ou podre pelos moradores de uma das maiores metrópoles do mundo.
        O local é popularmente conhecido por Lixão de Carapicuíba. Em meio a esse caos, circula Andréa Oliveira,19 anos.
        Andréa nasceu na favela do Porto, vizinha do Lixão. Desde pequena, fez do local o seu "jardim". Aos sete anos, começou a trabalhar catando lixo. Sua rotina é procurar papelão e plásticos na imundície que os caminhões descarregam. Chega ao Lixão às seis da manhã e não volta para casa antes das sete da noite.
    Andréa se posiciona perto da caçamba do caminhão que acaba de chegar, e disputa com os outros as embalagens e caixas. Depois, junta o papelão que conseguiu num monte e vende tudo no final do dia. Cada grupo tem seu próprio monte, e ninguém de outro grupo mexe. "Se outra pessoa roubar, dá problema", diz ela. É a lei do Lixão.
     Com os R$150 que faz por mês, a garota sustenta o filho de três anos e ajuda a mãe, com quem mora. Aos domingos, sua única folga na semana, cuida da criança e sai para se divertir.
      "Meu filho nunca vai pisar aqui. Quero que ele estude e tenha tudo que eu não tive."
    Andréa diz que gostaria de ser empregada doméstica, mas que não consegue emprego. "Trabalhar aqui é muito sofrido, mas pelo menos é honesto. É melhor que sair por aí roubando os outros."
        O filho passa o dia com uma vizinha, enquanto a mãe garante o sustento da casa. "O pai dele era um folgado, não queria saber de trabalhar. Um dia me cansei e botei o vagabundo pra correr."
      Quando sobra um tempinho, ela desafia os garotos no fliperama, onde gasta cerca de R$ 20 por mês, e vai dançar nos bailes da região. Não frequenta shopping centers e não se lembra da última vez em que foi ao cinema. Em casa, não tem TV, só um rádio, onde escuta seus grupos de rap e pagode favoritos. "Gosto do movimento hip hop. Eles falam sobre coisas que nós vemos no nosso dia-a-dia". Seu grupo preferido é o Faces da Morte.
     Andréa está namorando um rapaz que também trabalha no Lixão, mas não quer nem ouvir falar em casamento. "Sou muito nova, e os homens são muito folgados. Só faltava arrumar mais um para sustentar", brinca.
   Apesar da rotina dura, Andréa está sempre sorridente. "Queria fazer medicina para ajudar os outros. E meu sonho mesmo é conhecer Nova York."

Webmaster dedicava as férias ao trabalho
                                    AUGUSTO PINHEIRO

        Csongor Gyuricza, o “Bart”; 22 anos; webmaster; salário, “já comprei um carro, pago meu aluguel e minha faculdade”. Frase: “Nunca precisei procurar emprego, sempre fui convidado”.
        Aos 16 anos, quando estava no último ano do colégio, Csongor Gyuricza, 22, mais conhecido como "Bart" (porque já teve o cabelo espetado como o personagem dos "Simpsons"), passava as férias trabalhando para um provedor da Internet. E não se importava de perder os dias de descanso.
        "Desde os 14 anos, sempre fui louco por computador, queria aprender tudo. Comecei como estagiário e acabei efetivado. Mesmo no período de aulas, eu acordava todos os dias às 6h e fazia uns trabalhos em casa."
        Hoje, todo o esforço foi recompensado: o rapaz é webmaster de um grande provedor. Ele cuida da parte técnica dos sites, criando e reformulando páginas e implementando novidades gráficas.
        Com o trabalho, ele já comprou um carro, foi morar sozinho e banca a faculdade de ciência da computação na Unip.
        Csongor (o nome é húngaro) retomou o curso este ano: já havia começado na PUC-SP, mas resolveu largar para se dedicar apenas ao trabalho. "Não estava conseguindo conciliar."
        "Bart" afirma que tudo o que sabe aprendeu na prática, e que isso ajuda bastante na universidade. Mas nem por isso ele deixa de recomendar o curso superior: "Sem o diploma, o empregador sempre vai ter uma desculpa para pagar menos. Não é todo mundo que consegue ser bem-sucedido nessa área sem uma faculdade."
        Antes de entrar no atual emprego, ele foi webmaster da Globo Cabo, empresa que oferecia acesso à Internet pelo sistema de TV a cabo. "Nunca procurei emprego. Sempre fui convidado."
        A rotina é puxada, mas ele não dispensa as baladas. "Bart" acorda às 8h30, resolve assuntos particulares (limpeza do apê, compras etc.) e chega ao trabalho às 9h30. Só larga o trampo às 19h30 e sempre chega atrasado às aulas, que começam às 19h.
        Às 23h, já em casa, senta em frente ao computador e navega por uma hora na Internet, para se atualizar. "Às vezes, dá para sair. Gosto muito de tecno, então vou às boates U-Turn e Lov.e. Não sou freak ou nerd, tenho vida social."
        Para completar, o webmaster, de 1,80 m, tem uma "carreira paralela" de modelo. "Esporadicamente, quando dá tempo, faço editoriais de moda e desfiles, mas não é muito a minha cara."

           Folha de São Paulo, São Paulo, 1° de maio de 2000. Folhateen.
Entendendo o texto:

01 – Releia o 1° parágrafo da matéria sobre Andréa de Oliveira. Anote suas impressões sobre:
a)   O local de trabalho de Andréa.
É um local malcheiroso, sujo e perigoso à saúde e à vida das pessoas.

b)   As pessoas que trabalham com Andréa.
Os trabalhadores do lixão têm as mais variadas idades: crianças, jovens, adultos ou velhos podem trabalhar lá.

c)   A principal ocupação de catadores de lixo em aterros sanitários.
Encontrar utilidade para o que outras pessoas desprezaram, jogaram fora.

02 – Embora o texto não apresente especificamente todos os motivos que teriam levado Andréa a catar lixo, é possível tirar algumas conclusões.
a)   O que você imagina que levou Andréa a exercer essa atividade?
Ela gostaria de ser doméstica, mas não consegue emprego.

b)   O que você pensa do ambiente em que trabalham catadores de lixo?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: é um local prejudicial à saúde e a higiene.

03 – A matéria afirma que “Desde pequena, [Andréa] fez do local o seu jardim”.
a)   A partir de informações dadas pelo texto, o que você entende por essa imagem?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pode-se supor que a menina considerava o lixão como uma extensão de sua casa, um local de diversão, um espaço socializado.

b)   Que sinais de pontuação sugerem que a palavra “jardim” foi usada de maneira especial no texto?
As aspas.

c)   Ainda que trabalhe no lixão, Andréa não pretende que seu filho de três anos frequente o local. Copie do texto a frase que confirma isso.
“Meu filho nunca vai pisar aqui. Quero que ele estude e tenha tudo o que eu não tive”.

04 – Sabendo que o valor do salário mínimo na época da publicação da reportagem equivalia a R$ 151,00 e levando em conta as informações sobre o trabalho de Andréa, transcreva para o caderno a alternativa que é mais fiel à matéria publicada pela Folha de São Paulo.
a)    No lixão, Andréa recolhe todo tipo de material, trabalha cerca de onze horas por dia, 6 dias por semana e ganha menos de um salário mínimo por mês.
b)   Andréa recolhe apenas plástico e, proporcionalmente ao que trabalha, ganha bem.
c)   Andréa recolhe somente plástico e papelão, trabalha cerca de treze horas por dia, somente aos domingos, e ganha um pouco mais de um salário mínimo por mês.
d)   Andréa recolhe somente plástico e papelão, folga duas vezes por semana e, proporcionalmente ao que trabalha, ganha pouco.
e)   Andréa recolhe somente plástico e papelão, trabalha cerca de treze horas por dia, com exceção de domingo, e ganha um pouco menos que um salário mínimo por mês.

05 – Além de falar sobre sua profissão, catadora de lixo, Andréa faz referência também a outras ocupações.
a)   Que profissão Andréa desejaria ser, mas não consegue?
Empregada doméstica.

b)   Qual seria o sonho profissional de Andréa?
Fazer medicina.

c)   Na sua opinião, no campo profissional, Andréa teria mais chances de realizar seu desejo ou seu sonho?
Resposta pessoal do aluno.

06 – Ao contrário de Andréa, Csongor Gyuricza, conhecido como Bart, teve melhores oportunidades e, assim, conseguiu se tornar webmaster.
a)   Que oportunidades Bart teve que Andréa provavelmente não teve?
Ele pôde estudar, tinha acesso ao equipamento necessário para desenvolver suas habilidades e começou a trabalhar cedo na sua área de interesse.

b)   De acordo com o texto jornalístico, o que faz um webmaster?
Cuida da parte técnica dos sites, criando e reformulando páginas e implementando novidades gráficas.

07 – Andréa reconhece que é sofrido catar lixo, mas para ela há uma maneira pior de viver. Que maneira é essa?
      Tornar-se ladrão.

08 – Andréa e Bart trabalham muitas horas por dia.
a)   Em vez de declarar seu salário à reportagem, como fez Andréa, o que faz Bart?
Ele revela que, com o seu salário, já comprou um carro e consegue se manter sozinho, pagando o próprio aluguel e as mensalidades de sua faculdade.

b)   O que essa declaração dá a entender sobre o salário de Bart em relação ao de Andréa?
Provavelmente ele recebe muito mais por seu trabalho do que Andréa.

c)   Ao observar as atividades exercidas por Andréa e Bart e a remuneração que recebem por elas, o que você conclui?
Resposta pessoal do aluno.

09 – Além de trabalhar, Bart também frequenta uma faculdade.
a)   De acordo com a reportagem, por que Bart considera indispensável um diploma universitário: para saber mais sobre sua profissão ou para ganhar mais?
O rapaz dá a entender que, apesar de achar o diploma algo importante, o que sabe e o que ganha são resultado de sua própria prática e experiência, independentemente do curso universitário.

b)   Assim como Bart, você acha importante ter curso superior para obter sucesso na profissão?
Resposta pessoal do aluno.

10 – Quando indagados sobre o que fazem se divertir, Andréa e Bart valeram-se de algumas palavras em inglês.
a)   O que Bart teria querido dizer, ao declarar: “Não sou freak ou nerd, tenho vida social”?
Ele quis deixar claro que, apesar de trabalhar muito e gostar de computadores, não era uma pessoa esquisita (freak) nem bitolada (nerd).

b)   O que você sabe sobre hip-hop e rap? Converse com seus colegas sobre os movimentos e os gêneros musicais preferidos de Andréa.
De acordo com o Dicionário Houaiss, o Hip-Hop é um movimento cultural pobre de algumas grandes cidades norte-americanas, que se manifesta de formas artísticas variadas. Segundo o Novo Aurélio século XXI, o rap é um tipo de música popular, urbana, de origem negra, com ritmo muito marcado e melodia simples, pouco elaborada.

c)   A palavra “tecno”, no sentido em que está empregada no texto, não consta dos dicionários. O que você entende por essa palavra no texto? Converse com os colegas e com o professor sobre palavras de outras línguas que passam a fazer parte do dia-a-dia dos brasileiros.
A palavra “tecno” no texto, refere-se a um tipo de música que utiliza tecnologia eletrônica.

11 – Levando em conta as entrevistas de Andréa e Bart, aponte a principal diferença entre os dois trabalhadores.
      Ao contrário de Bart, que declara ter recebido sempre ofertas de emprego, Andréa não consegue vaga na profissão que queria. Por necessidade, e não por opção, ela foi levada a ser catadora de lixo.





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