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sexta-feira, 26 de abril de 2019

REPORTAGEM : EXAME DE ADMISSÃO - REVISTA SUPERINTERESSANTE - COM GABARITO

REPORTAGEM: Exame de admissão

        As danças e cantos se estendem noite adentro. Mas, assim que o dia amanhece, um grupo de índios corre até a pequena maloca e liberta a menina que estava presa. Ela não tinha feito algo de errado. Ao contrário, era personagem de uma festa — o ritual que os mamaindês de Mato Grosso e Rondônia chamam de festa da moça nova. Três meses antes, a indiazinha menstruara pela primeira vez e, como manda a tradição, ficou reclusa, sem poder ver a luz do Sol, aos cuidados das mulheres mais velhas. Enquanto isso, o grupo se esmerou em preparar a festa de sua libertação: o grande dia em que a pequena mamaindê passaria a ser considerada apta ao casamento e à maternidade. Muito mais complicada é a passagem da infância à vida adulta nas sociedades modernas. Para começar, a transição leva muito mais tempo, a partir dos 12, 13 anos de idade, e é chamada, desde o século XIX, de adolescência. “Nas sociedades mais complexas não existe um momento determinado em que se reconheça essa passagem como nas sociedades indígenas”, observa a socióloga Aspásia Camargo, da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. De fato, os rituais são outros, próprios de um período longo, e se diluem pelos diferentes grupos sociais. Determinar o início da adolescência é relativamente fácil, pois coincide com a puberdade, quando ocorrem grandes mudanças biológicas.
        Mais difícil é precisar o final dessa fase. De qualquer forma, existem alguns marcos. O vestibular, por exemplo, é um deles e se dá por volta dos 18 anos. Nessa idade os jovens adquirem algumas prerrogativas dos adultos, embora, legalmente, não sejam ainda considerados maiores de idade, o que só vai se dar aos 21 anos. Na faculdade, eles sabem que têm de estudar para concluir o curso e já podem enfrentar o mercado de trabalho. É também aos 18 anos que podem tirar carteira de motorista e pedir o carro ao pai, que antes se negava a emprestar. Podem tirar título de eleitor e, quem sabe, em breve, escolher o presidente da República. Casar, no entanto, só aos 21 anos, a menos que sejam emancipados antes pelos pais. Se já tiverem um emprego, não precisarão mais depender da mesada paterna — serão donos de seu próprio nariz e, aos olhos da sociedade, adultos. Mas chegar até a esse estágio, virar gente grande, são anos de indefinição: quando entram na puberdade, os jovens deixam de ser crianças, mas ainda não são considerados adultos.
Para marcar presença diante da sociedade, chamando a atenção para essa travessia, assumem comportamentos e atitudes peculiares. Aí vale tudo: desde cortar o cabelo estilo “calha” — raspado dos lados, com uma franja em forma de onda caída na testa — até se vestir de preto da cabeça aos pés, com as calças coalhadas de tachinhas douradas ou prateadas, no melhor estilo “dark”. Os menos extremados usam os tão comuns jeans, tênis e camisetas, e não se diferenciam tanto dos mais velhos, acostumados a se vestir assim também. A peculiaridade está em usar geralmente as mesmas marcas de jeans e determinados modelos de tênis, de preferência sem cadarço. Os adolescentes adoram as bermudas largas e floridas, as saias confortáveis e os relógios de pulseiras coloridas, que combinam com as cores das roupas. A entrada na puberdade implica não só alterações corporais, mas também uma reviravolta psicológica. “Garotos e garotas jogam fora aspectos infantis e aspiram a ser adultos”, explica o psiquiatra paulista Içami Tiba, que há dezoito anos trabalha com adolescentes. Nessa época. diz ele, “a principal mudança é a atitude diante dos pais: se antes obedeciam, agora se opõem às ordens recebidas, e o resultado são as primeiras desavenças familiares”.

                                              Revista Superinteressante, mar. 1988.

Entendendo o texto:

01 – Releia atentamente o texto “Exame de admissão”. Em seguida, responda a estas questões:
a)   No início do primeiro parágrafo, o texto se inicia com verbos no presente (estendem, amanhece, corre, liberta). Depois, o enunciador-narrador utiliza uma série de verbos em tempos do passado. Que significados têm esses tempos verbais nesse trecho do texto?
O presente utilizado no início marca uma época simultânea ao momento da narração (presente do enunciador-narrador). Os tempos do passado remetem o enunciatário-leitor a uma época de tempo anterior ao momento da narração expresso pelo presente.

b)   Para assinalar a anterioridade, ou seja, o momento anterior em relação ao momento da libertação da garota indígena, o enunciador-narrador do texto utiliza, logo no primeiro parágrafo, uma expressão de tempo. Localize essa expressão no texto. Que tempo verbal é utilizado para reforçar a ideia de anterioridade temporal?
A expressão é “três meses antes”, e o tempo verbal é o mais-que-perfeito simples do indicativo (menstruará), que indica a anterioridade em relação ao passado.

c)   No trecho a seguir, a que período de tempo a expressão “enquanto isso” se refere? Explique.
“Enquanto isso, o grupo se esmerou em preparar a festa de sua libertação: o grande dia em que a pequena mamaindê passaria a ser considerada apta ao casamento e à maternidade.”
A expressão se refere ao período em que a garota indígena ficou reclusa, que é simultâneo à preparação da festa. Ela indica que as ações (reclusão da garota e preparação da festa) são simultâneas.

d)   “Exame de admissão” é uma reportagem. Localize no texto o início e o fim do trecho narrativo.
Início: “As danças e cantos...”. Fim: “... apta ao casamento e à maternidade”.


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