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terça-feira, 2 de abril de 2019

POEMA: O SOBREVIVENTE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: O Sobrevivente 
                Carlos Drummond de Andrade

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
Desconfio que escrevi um poema.

                                               Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 1999.
Entendendo o poema:

01 – Por que o eu lírico se julga incapaz de escrever um poema e diz que o “último trovador morreu em 1914”?
      O eu lírico sente-se extremamente pessimista em relação à vida, apesar de toda a evolução humana, as guerras e a sociedade tecnológica tornaram áridos e insensíveis os corações humanos. Daí sua impotência diante das palavras, e sua impossibilidade de escrever, já que a Primeira Guerra Mundial, em 1914, acabara com os poetas e a poesia.

02 – Como Drummond critica a utilização das máquinas, na sociedade moderna?
      Critica a dependência em relação às máquinas, que passaram a fazer parte de forma exagerada das atividades do ser humano, até mesmo dos relacionamentos afetivos.

03 – Segundo o texto, a evolução material e a cultural caminham juntas? Por quê?
      Não. A sociedade moderna vem se tornando extremamente materialista, em detrimento de uma formação voltada para a espiritualidade e o conhecimento de si próprio e dos outros.

04 – Pode-se considerar o eu lírico um “sobrevivente”? Esclareça sua resposta.
      Sim, porque, apesar de tudo, ele ainda consegue fazer poesia.

05 – Explique este paradoxo: “Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.”
      Apesar de o mundo não oferecer condições para se viver bem, em virtude dos conflitos entre os homens e dos diversos problemas econômicos, nasce diariamente um grande número de crianças.

06 – Identifique e classifique, sintaticamente, os complementos das palavras em destaque:
a)   “Não precisa estômago para digestão”.
Complemento nominal.

b)   “... atingimos um nível razoável de cultura.”
Complemento nominal.

c)   “Desconfio que escrevi um poema.”
Objeto direto.

d)   Escrevi a meus pais.
Objeto indireto.

e)   Escrevi rapidamente.
A oração não tem complemento porque o verbo é intransitivo.



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