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domingo, 17 de fevereiro de 2019

CRÔNICA: DIETA DE HOMEM - PAULO MENDES CAMPOS - COM GABARITO

CRÔNICA: DIETA DE HOMEM
                            Paulo Mendes Campos

    Nas carteiras da escola me ensinaram, segundo o sábio Claude Bernard, que o caráter absoluto da vitalidade é a nutrição; pois, onde ela existe, há vida; onde se interrompe, há morte.
        Mas não me disseram que, entre os animais humanos, o lado que pende para a morte, por falta de nutrição, é mais numeroso que o lado erguido para a vida.
        Me ensinaram que os alimentos fornecem ao homem os elementos constituintes da própria substância humana; o homem é o alimento que ele come.
        Mas não me disseram que existem homens aos quais faltam os elementos que constituem o homem. Homens incompletos, homens mutilados em sua substância, homens deduzidos de certas propriedades humanas fundamentais; homens vivendo o processo de morte.
        Me ensinaram, no delicado modo condicional, que, sem o concurso de certos alimentos minerais e orgânicos, depressa a vida sobre a terra se extinguiria.
        Mas não me disseram que, depressa, por toda parte, a vida se extingue, no duro modo indicativo.
        Me ensinaram que o oxigênio é o primeiro elemento indispensável.
        Mas não me disseram que só o oxigênio é um bem comum de toda humanidade, salvo em minas e galerias, onde é escasso.
        Me ensinaram que o carbono, o oxigênio, o azoto, o fósforo e outros minerais são decisivos à vitalidade da célula.
        Mas não me disseram que aqueles elementos não se encontram no ar que respiramos. E ainda que se encontrarem na terra, acaso digerida por uma criança, seu poder de assimilação é nenhum.
        Me ensinaram que há alimentos orgânicos ternários e quaternários. Mas não me disseram que dois terços de nossos irmãos morrem de fome.
        Me ensinaram que os alimentos ternários, constituídos pelas gorduras e pelos hidratos de carbono são importantíssimos. Mas não me disseram que em cem, dez homens estão, a qualquer hora, às portas da inanição.
        Me ensinaram que o ovo, o leite e a carne são alimentos extraordinários. Mas não me disseram que em certas regiões do mundo, há homens que consomem ovos, leite e carne em quantidades muito acima das exigências da máquina humana.
        Me ensinaram que a sensação de fome é acompanhada de contrações gástricas, uma espécie de cãibra no estômago. Mas me disseram isso de maneira impessoal, como se fosse apenas a dedução teórica de um acidente possível.
        Me ensinaram que as vitaminas são substâncias influentes no crescimento e na saúde, quando elas faltam, comparecem o escorbuto, o beribéri e outras doenças.
        Mas não me disseram nem onde, nem quantos padecem de avitaminoses.
        Nas carteiras das escolas me ensinaram muitas coisas. Mas não me disseram coisas essenciais à condição de homem.
        O homem não fazia parte do programa.

Paulo Mendes Campos. O anjo bêbado. Rio de Janeiro: Sabiá, 1969.
Entendendo o texto:

01 – Sem prejuízo de sentido, as palavras em destaque nas frases a seguir podem ser substituídas pelas sugeridas entre parênteses, exceto em:
a)   “... que o caráter absoluto da vitalidade é a nutrição...” (soberano).
b)   “... os alimentos fornecem ao homem os elementos constituintes...” (propiciam).
c)   “... salvo em minas e galerias, onde é escasso” (insuficiente).
d)   “... dez homens estão, a qualquer hora, às portas da inanição” (fraqueza).
e)   “...não me disseram nem onde, nem quantos padecem de avitaminoses” (resistem).

02 – De acordo com o texto, a escola ensinou ao autor que, segundo Claude Bernard:
a)   A nutrição é indispensável à vida.
b)   Há alimentos que podem matar.
c)   Não há muita gente morrendo de fome.
d)   Pode-se viver sem uma boa alimentação.
e)   Pessoas desnutridas podem ter problemas de caráter.

03 – O uso do pronome oblíquo para iniciar frases como “Me ensinaram que os alimentos fornecem ao homem...” e “Me ensinaram que o oxigênio...” indica que o texto foi escrito levando-se em conta:
a)   A linguagem culta.
b)   A linguagem erudita.
c)   A norma-padrão.
d)   A linguagem coloquial.
e)   A linguagem formal.

04 – No trecho “Me ensinaram, no delicado modo condicional...”, o autor quer dizer que, na escola, fala-se sobre o que:
a)   Está acontecendo.
b)   Pode acontecer.
c)   Nunca vai acontecer.
d)   Já aconteceu.
e)   Vai acontecer no futuro.

05 – No trecho “... a vida se extingue, no duro modo indicativo”, ao usar a expressão destacada, o autor quer dizer que:
a)   A realidade fornece indicadores do que deve ser ensinado na escola.
b)   Na realidade, ocorrem fatos que a escola apresenta como distanciados do presente.
c)   Não há possibilidade de acontecer, na realidade, o que se afirma na escola.
d)   Na escola, costumam alarmar os alunos sem razão justificável.
e)   Na escola, dão informações e conselhos que não se aplicam à realidade.

06 – Da leitura do texto depreende-se que, na escola a que se refere o autor, ensinava-se de maneira:
a)   Parcial, pois com base na realidade socioeconômica.
b)   Equivocada, somente considerando-se a realidade social e econômica.
c)   Cautelosa, para não despertar comportamentos de rebeldia social.
d)   Completa, com base em dados científicos.
e)   Incompleta, em razão de o conteúdo ser apresentado desvinculado da realidade social e econômica.

07 – Assim que você ____________ os livros em ordem e eu _________ que está tudo certo, libero você para as férias.
a)   Por – vier.
b)   Pôr – vir.
c)   Pôr – ver.
d)   Puser – vir.
e)   Puser – ver.

08 – Nós estamos _________ apressadas, pois o pessoal ___________ outro compromisso logo após a reunião __________.
a)   Meio – terá – conosco.
b)   Meio – terão – conosco.
c)   Meias – terá – com nós.
d)   Meia – terão – com nós.
e)   Meia – terá – conosco.

2 comentários:

  1. Amo esse texto. Conheci na universidade. Os exercícios são ótimos e já gabaritados. Show!

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  2. Conheci esse texto em 08/1990 e dia 31/08/90 me foi solicitado uma interpretação pessoal do texto.(dieta do homem: Desde a infância somos ensinados que a vida saudável depende de uma boa alimentação.Onde ela é escassa a vida é curta.
    O homem tem sido o produto da sua condição de vida.
    Fomos orientados sobre o que devemos ou não comer para um bom crescimento, esqueceram que a maioria não tem condições favoráveis e vivem duramente.
    Aprendemos que o oxigênio é vida, o ar que respiramos por isso indispensável, porém não nos ensinaram que não poderíamos tê-lo poluído; há lugares que sufoca por sua escacez. Aprendemos que os minerais são decisivos a vitalidade das células nas não disseram onde encontrá-los.
    Falaram da importância da gordura, hidratos de carbono eras vitaminas, que i nosso crescimento e bom desempenho mental depende das mesmas. Mas não disseram que muitos adoecem e morrem por não poderem consumi-las.
    Daí quando tomamos consciência do mundo fora da escola, nós deparamos com um mundo com uma mínima condição de sobrevivência humana, poluído, temos uma prova que a fome existe e mata não uma simples dedução. Portanto, o homem não foi bem instruído para as dificuldades do mundo, ele mesmo se anulou. Elisabete. Esse foi meu resumo, hoje o mundo está cheio de informações valiosas, cabe a nós pormos em prática.

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