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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

CONTO: UM DESEJO E DOIS IRMÃOS - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

Conto: Um desejo e dois irmãos
             Marina Colasanti

                         
        Dois Príncipes, um louro, e um moreno. Irmãos, mas os olhos de um azuis, e os do outro verdes. E tão diferente nos gostos e nos sorrisos, que ninguém os diria filhos do mesmo pai, rei que igualmente os amava.
        Uma coisa porém tinham em comum: cada um deles queria ser outro. Nos jogos, nas poses, diante do espelho, tudo o que um queria era aquilo que o outro tinha. E de alma sempre cravada nesse desejo insatisfeito, esqueciam-se de olhar para si, de serem felizes.
        Sofria o pai com o sofrimento dos filhos. Querendo ajudá-los, pensou um dia que melhor seria dividir o reino, para que não viessem a lutar depois da sua morte. De tudo o que tinha, deu o céu para seu filho louro, que governasse junto ao sol brilhante como seus cabelos. E entregou-lhe pelas rédeas um cavalo alado. Ao moreno coube o verde mar, reflexo de seus olhos. E um cavalo-marinho.
        O primeiro filho montou na garupa lisa, entre as asas brancas. O segundo filho firmou-se nas costas ásperas do hipocampo. A cada um, seu reino.
        Mas as pernas que roçavam em plumas esporearam o cavalo para baixo, em direção às cristas das ondas. E os joelhos que apertavam os flancos molhados ordenaram que subisse, junto à tona.
        Do ar, o príncipe das nuvens olhou através do seu reflexo, procurando a figura do irmão nas profundezas.
        Da água, o jovem senhor das vagas quebrou com seu olhar a lâmina da superfície procurando a silhueta do irmão.
        O de cima sentiu calor, e desejou ter o mar para si, certo de que nada o faria mais feliz do que mergulhar no seu frescor.
        O de baixo sentiu frio, e quis possuir o céu, certo de que nada o faria mais feliz do que voar na sua mornança.
        Então emergiu o focinho do cavalo marinho e molharam-se as patas do cavalo alado.
        Soprando entre as mãos em concha os dois irmãos lançaram seu desafio. Alinhariam os cavalos na beira da areia e partiriam para a linha do horizonte. Quem chegasse primeiro ficaria com o reino do outro.
        – A corrida será longa, – pensou o primeiro. E fez uma carruagem de nuvens que atrelou ao seu cavalo.
        – Demoraremos a chegar, – pensou o segundo. E prendeu com algas uma carruagem de espumas nas costas do hipocampo.
        Partiram juntos. Silêncio na água. No ar, relinchos e voltear de plumas. Longe, a linha de chegada dividindo os dois reinos.
        Os raios de sol passavam pela carruagem de nuvens e desciam até a carruagem de espumas. Durante todo o dia acompanharam a corrida. Depois brilhou a lua, a leve sombra de um cobriu o outro de norte mais profunda.
        E quando o sol outra vez trouxe sua luz, surpreendeu-se de ver o cavalo alado exatamente acima do cavalo marinho. Tão acima como se, desde a partida, não tivessem saído do lugar.
        Galopava o tempo, veloz como os irmãos.
        Mas a linha do horizonte continuava igualmente distante. O sol chegava até ela. A lua chegava até ela. Até os albatrozes pareciam alcançá-la no seu voo. Só os dois irmãos não conseguiam se aproximar.
        De tanto correr já se esgarçavam as nuvens da carruagem alada, e a espuma da carruagem marinha desfazia-se em ondas. Mas os dois irmãos não desistiam, porque nessa segunda coisa também eram iguais, no desejo de vencer.
        Até que a linha do horizonte teve pena. E devagar, sem deixar perceber, foi chegando perto.
        A linha chegou perto. E chegou perto.
        Baixou seu voo o cavalo alado, quase tocando o reflexo. Aflorou o cavalo marinho entre marolas. As plumas, espumas se tocaram. Céu e mar cada vez mais próximos confundiram seus azuis, igualaram suas transparências. E as asas brancas do cavalo alado, pesadas de sal, entregaram-se à água, a crina branca roçando já o pescoço do hipocampo. Desfez-se a carruagem de nuvens na crista da última onda. Onda que inchou, rolou, envolvendo os irmãos num mesmo abraço, jogando um corpo contra o outro, juntando para sempre aquilo que era tão separado.
        Desliza a onda sobre a areia, depositando o vencedor. Na branca praia do horizonte, onde tudo se encontra, avança agora um único príncipe, dono do céu e do mar. De olhos e cabelos castanhos, feliz enfim.

                                    Colasanti, Marina. Um desejo e dois irmãos.
Entendendo o conto:
01 – A história começa mostrando diferenças entre os dois príncipes. Mas os dois irmãos também tinham coisas comuns, isto é, semelhanças. Em que eram parecidos?
      Um queria ser o outro e um queria o que o outro tinha.

02 – Por que o rei resolveu dividir seu reino?
      Porque via que os filhos eram infelizes e queria ajudá-los.

03 – Levando em conta a parte do reino que cada príncipe recebeu, pode-se dizer que esse rei era muito mais poderoso que outros reis de histórias que conhecemos? Por quê?
      Sim. Porque seu reino era o céu e o mar.

04 – O rei tinha preferência por um dos filhos? Comprove sua resposta com elementos do texto.
      Não. No texto: “Rei que igualmente os amava.”

05 – Essa história tem rei e príncipes, mas não podemos dizer que é uma história verdadeira, que se passa no mundo real. Por quê?
      Porque possui muitos elementos fantasiosos do texto: o rei repartir o céu e o mar entre os filhos; um príncipe ter um cavalo alado; outro ter um cavalo-marinho para montar...

06 – Os príncipes não ficaram felizes com o que receberam do pai. Por quê?
      Porque um sentiu calor e outro sentiu frio, mas o que cada um queria era o reino do outro.

07 – Qual foi o desafio lançado pelos dois irmãos?
      Aquele que chegasse primeiro à linha do horizonte ficaria com o reino do irmão.

08 – Qual deles foi o vencedor? Por quê?
      Não houve vencedor, porque o tempo passava e nenhum dos dois conseguia ultrapassar o outro, como se não tivessem saído do lugar.

09 – As oposições entre os irmãos continuam. Veja:
·        Uma carruagem de nuvem X uma carruagem de espuma.
·        Relinchos e voltear de plumas no ar X silêncio na água.
Mas, há uma coincidência entre os desejos dos dois príncipes. Qual?
      Os dois desejam vencer.

10 – Explique o significado desta frase: “Na branca praia do horizonte, onde tudo se encontra...”
      No horizonte, tudo parece se juntar. É como se água e céu fossem uma coisa só.

11 – Quem foi o vencedor da disputa entre os dois irmão?
      Foi um terceiro que surgiu da mistura dos dois.

12 – O título que acabamos de ler é Um desejo e dois irmãos. Depois de conhecer a história, você daria outro título a ela? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.



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